O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, reafirmou nesta segunda-feira (19) que o Brasil seguirá afundado na miséria por tempo indeterminado. Segundo ele, a Selic — taxa básica de juros da economia — permanecerá em um nível “bastante restritivo por bastante tempo”. A declaração foi dada durante uma conferência organizada pelo banco norte-americano Goldman Sachs, em São Paulo, deixando claro para quem de fato Galípolo governa: os grandes especuladores internacionais.
A fala ocorre poucos dias após o Comitê de Política Monetária (Copom), sob sua presidência, anunciar o terceiro aumento consecutivo da taxa Selic em 2025. Com o novo reajuste de 0,5 ponto percentual, a taxa chegou a absurdos 14,75% ao ano — o maior patamar desde 2006. Com isso, o Brasil passou a ocupar o terceiro lugar no ranking mundial de juros reais, com 8,65% ao ano, ficando atrás apenas da Turquia (10,47%) e da Rússia (9,17%).
Desde que Galípolo assumiu o BC, em janeiro deste ano, a taxa de juros já subiu 2,5 pontos percentuais. A Selic, que estava em 12,25%, passou a 13,25% logo na primeira reunião do Copom sob seu comando, depois subiu para 14,25% em março e agora atingiu os 14,75%. No total, desde setembro de 2024, o BC elevou a Selic em 4,25 pontos — um dos maiores ciclos de alta em duas décadas.
Esses aumentos não são meramente técnicos. Segundo dados do próprio Banco Central, cada ponto percentual a mais na taxa representa um custo adicional de R$55 bilhões por ano no pagamento da dívida pública. Com os três aumentos realizados em 2025, o impacto ultrapassa os R$150 bilhões — dinheiro que sai do Tesouro Nacional e vai diretamente para os bolsos dos rentistas, os verdadeiros donos do País. O valor é seis vezes superior ao necessário para ampliar a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$5 mil mensais, estimada em R$25 bilhões.
Mesmo assim, Galípolo deixou claro que a prioridade do BC não é melhorar a vida da população, e sim “dar uma demonstração inequívoca” de que está comprometido com a meta de inflação de 3%. De acordo com ele, a autarquia não está interessada em “se emocionar” com dados positivos ou negativos, tampouco vai oferecer previsibilidade ao povo brasileiro. “Agora é um momento mais de a gente falar como a gente vai reagir e não o que nós vamos fazer”, afirmou, com a arrogância típica de quem não presta contas a ninguém — exceto aos banqueiros.
A política monetária de Galípolo é uma continuação direta da de seu antecessor, Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro. Não por acaso, ao assumir o cargo, o novo presidente do BC fez uma verdadeira declaração de amor ao golpista: “Roberto, a casa é sua, sempre estaremos de portas abertas para você. Sou muito grato por tudo que fez pela política monetária, pela casa e por todos nós.” Também aproveitou para elogiar o avô de Campos Neto, o entreguista Roberto Campos, conhecido como Bob Fields por sua subserviência aos Estados Unidos durante a ditadura militar.
Essa bajulação não foi gratuita. Como registrou a própria imprensa burguesa, a declaração foi interpretada como um sinal de que o PT e Lula não teriam qualquer influência sobre o Banco Central, mesmo após a saída de Campos Neto. E a previsão se confirmou: Galípolo não representa uma mudança, mas sim a garantia de continuidade da sabotagem econômica contra o povo brasileiro.
A desculpa do momento é a política fiscal do próprio governo Lula. Segundo Galípolo, os “agentes de mercado” acreditam que o governo pode tentar estimular a economia, o que exigiria, segundo o BC, uma política ainda mais contracionista para compensar. Ou seja: mesmo diante de uma possibilidade de alívio fiscal, o Banco Central se antecipa para sufocar qualquer estímulo econômico, punindo o povo antes mesmo que qualquer medida seja tomada.
Essa postura não tem nada de técnica ou neutra. Trata-se de uma política deliberada para manter o Brasil submisso ao capital financeiro internacional. A “independência” do Banco Central, aprovada durante o governo Bolsonaro com apoio de toda a direita e da base petista no Congresso, retirou do povo brasileiro qualquer controle sobre uma das principais ferramentas da política econômica. O resultado é este: um país com mais de 100 milhões de pessoas vivendo com alguma insegurança alimentar, sofrendo com desemprego, carestia e falta de investimentos, enquanto banqueiros lucram como nunca.
A esquerda que viu na nomeação de Galípolo uma suposta manobra de Lula para “ocupar o BC por dentro” precisa encarar a realidade. O novo presidente da autarquia é um fantoche do mercado, um burocrata a serviço dos mesmos interesses que Roberto Campos Neto defendeu com unhas e dentes. Seu compromisso é com a especulação, não com o povo trabalhador.
A única solução é pôr fim à farsa da independência do Banco Central. O comando da política monetária deve estar subordinado ao interesse nacional, ao desenvolvimento econômico e à elevação das condições de vida do povo.
Enquanto os juros estiverem nas alturas para agradar investidores estrangeiros, o Brasil continuará paralisado, sua economia asfixiada e sua população condenada à miséria. E Gabriel Galípolo será apenas mais um administrador da catástrofe.