Em sua análise publicada no Brasil de Fato, Igor Carvalho afirma: “Com políticos envolvidos na trama golpista, bolsonarismo sofreu derrotas significativas nas eleições municipais, especialmente nas capitais do país.” Contudo, essa leitura ignora dados essenciais, deixando de considerar como o apoio de Bolsonaro e a ascensão de aliados consolidaram a influência da extrema direita em cidades estratégicas.
É verdade que o Partido Liberal (PL) e seus candidatos não alcançaram o sucesso esperado em todas as capitais. Entretanto, ao apontar exclusivamente para as derrotas do PL, o autor minimiza os impactos das vitórias obtidas pela direita e extrema direita em outras frentes. Um exemplo crucial é a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, a maior cidade do Brasil, que contou com o apoio declarado de Jair Bolsonaro. Essa vitória é emblemática, pois demonstra que, mesmo em meio às investigações e à queda de popularidade em alguns nichos, o bolsonarismo manteve expressiva influência sobre o eleitorado urbano.
Carvalho também escreve: “As urnas mostraram que a extrema-direita brasileira sofreu rejeição da população durante as eleições municipais de 2024. O resultado eleitoral escancarou um desempenho aquém do esperado, especialmente nas capitais do país.” Essa declaração requer um exame mais cauteloso. Enquanto o PL não conquistou todas as capitais disputadas, partidos aliados ao bolsonarismo, como o próprio MDB, obtiveram vitórias significativas, reforçando a presença da direita em administrações municipais. Além disso, não se pode ignorar o peso simbólico de ter quadros alinhados ao ex-presidente governando importantes capitais como São Paulo e todo o Centro-Sul brasileiro.
A análise também falha ao tratar as derrotas do bolsonarismo como uma rejeição generalizada. Os resultados apertados em cidades como Fortaleza indicam que a base de apoio à extrema direita permanece robusta, mesmo em cenários adversos. Em Fortaleza, por exemplo, André Fernandes (PL) perdeu por menos de 1% dos votos, mostrando que a política bolsonarista ainda exerce forte atração sobre parcelas significativas da população.
Um ponto central negligenciado no texto é como vitórias pontuais, mas estrategicamente importantes, podem fortalecer a extrema direita no longo prazo. Com figuras bolsonaristas e de partidos aliados no comando de cidades-chave, as administrações locais podem atuar como plataformas para consolidar bases eleitorais e preparar terreno para futuras disputas, inclusive em âmbito nacional. Minimizar esses avanços é perigoso, pois cria uma ilusão de fraqueza que desmobiliza setores progressistas.
No geral, a abordagem de Igor Carvalho é problemática porque pinta um cenário excessivamente otimista sobre a derrocada da extrema direita. Essa propaganda é contraproducente, pois subestima a capacidade de reorganização e resistência do bolsonarismo. Ao ignorar vitórias expressivas como a de Ricardo Nunes e ao tratar derrotas apertadas como sinais de um declínio irreversível, o texto projeta uma realidade ilusória que pode enfraquecer as ações contra a política reacionária.
Para enfrentar a extrema direita de forma eficaz, é essencial reconhecer seus avanços e longe de brincar de “faz de conta” analisar as derrotas sofridas. Apenas assim será possível evitar armadilhas e preparar respostas adequadas aos desafios que persistem.