O artigo, E agora, Brasil, publicada na coluna de Emir Sader nesta quarta-feira (8) no Brasil247, tem dois aspectos interessantes: 1) setores da esquerda caíram na ilusão de que a direita foi derrotada pelo STF; e, 2) pensando sempre em eleições, esses setores começam a se dar conta de que o governo tem apresentado pouco.
Sader inicia seu texto dizendo que “Lula se consolida como a expressão da resistência nacional à nova ofensiva imperialista, expressa no tarifaço. A economia nacional resiste e pode promover a passagem a um novo ciclo longo expansivo da economia, superando a hegemonia neoliberal na economia do país”.
Quanto ao tarifaço, o que se tem visto é o governo tentando negociar com os Estados Unidos, não existe na de tão incisivo acontecendo que transforme Lula em uma “expressão de resistência”. Basta notar que o governo tem sido muito tolerante com o Estado nazista de “Israel”; e, ao mesmo tempo, se manteve “neutro” em relação às agressões criminosas do governo Trump contra a Venezuela.
Nada indica que haverá a passagem para um novo ciclo. Com juros a 15%, o neoliberalismo está longe de sentir ameaçado no Brasil. Outra questão a ser considerada é a proximidade da nova corrida eleitoral. O Congresso vai fechar todas as portas que conseguir para evitar que Lula se beneficie e obtenha dividendos eleitorais.
Ilusão
Emir Sader se contradiz ao afirmar que “a direita está derrotada, mas sobrevive, seja na força econômica do capital especulativo, seja na presença ideológica e política das forças neo-bolsonaristas. E no peso hegemônico dos meios de comunicação – o verdadeiro partido contemporâneo da direita brasileira”.
Como uma corrente que tem força econômica, presença ideológica e peso hegemônico nos meios de comunicação pode ser considerada derrotada? Não faz sentido a afirmação.
O colunista escreve que “há uma crise hegemônica aberta na sociedade brasileira”, fruto do fracasso do neoliberalismo, que empobrece a todos “apesar da expansão da economia e do pleno emprego”.
Sader diz que, ao mesmo tempo, a esquerda não conseguiu “propor um projeto de futuro para o país, que galvanize o povo, que se transforme em força material capaz de mobilizar as grandes massas populares”. Essa conversa está um tanto defasada. Já estamos em um terceiro mandato de Lula; Dilma Rousseff cumpriu pouco mais de um mandato. Portanto, esse “futuro”, na cabeça do trabalhador, já deveria ter chegado; ou, pelo menos, estar a caminho.
Para o colunista, a esquerda, sem o tal projeto, não consegue lograr “à crise da hegemonia da direita, contrapor uma visão de mundo, uma concepção hegemônica alternativa”. Mas já foi dito acima que essa crise de hegemonia da direita é falsa, e o trabalhador está preocupado com a sobrevivência, não com uma “visão de mundo” abstrata.
Assim, mais uma vez, Sader se contradiz ao afirmar que “estamos nessa situação, em que as visões tradicionais se esgotaram e as novas não conseguem ainda se traduzir em um elemento de força, capaz de conquistar o coração do povo e levá-lo a protagonizar o novo período político”. Isso aí é, no máximo, um empate, não tem nada de “direita derrotada”.
Princípio de Poliana
Diante do desastre e do esgotamento, Sader recorre a dizer que Lula “Lula se consolidou, de novo, como o grande líder nacional”, enquanto a grande imprensa inicia sua campanha tradicional de desgaste do presidente.
Por conta de “problemas internos, expressos no crescimento de ritmo baixo da economia, devido à taxa de juros alta”. É impossível dizer que “o comando de Fernando Haddad na economia tem conseguido promover iniciativas que têm possibilitado a abertura de novas possibilidades de retomada do crescimento econômico”.
O que está acontecendo é o oposto. Tanto que, no mesmo parágrafo, Sader diz que “na questão dos juros, o governo não tem conseguido equacionar uma alternativa à direção atual do Banco Central”. E que “sem superar este obstáculo, conseguindo baixar as taxas de juros, não será possível retomar um ciclo longo expansivo da economia”.
Segundo o colunista, “a reeleição de Lula torna-se cada vez mais provável, diante da consolidação da sua liderança nacional, como diante da incapacidade da direita de ter uma candidatura que [o] possa ameaçar”. Mas a direita ainda tem muitas cartas para jogar, sempre foi assim. Não existe nada que comprove uma “incapacidade” de apresentar candidatos. A dificuldade maior, como todos sabem, é fechar acordo com o bolsonarismo.
O ovo antes da galinha
Em determinado momento, como se a eleição já estivesse ganha, apesar de ter dito que a esquerda não consegue propor um projeto de futuro, Sader começa a devanear no que deveria ser o próximo mandato:
“Quebra da centralidade do capital especulativo na economia do país (…) juros baixos (…) retomada de um ciclo expansivo da economia (…) reforma democrática do Estado”. A coisa vai para a erradicação do analfabetismo com a mobilização de estudantes e professores universitários. Sader não explica o milagre que faria essas coisas acontecerem, pois o governo Lula está cada vez mais distante de suas bases e acuado pelo Congresso e amarrado ao STF.
Finalizando seu texto, Sader propõe que “outros objetivos mais podem ser colocados para um governo com força suficiente para talvez até triunfar no primeiro turno. Mas eles dependem de um grande debate nacional, que deveria se dar ao longo da própria campanha eleitoral, para que Lula 4 seja um marco definitivo na criação de uma verdadeira democracia popular e social no país que ainda é o mais desigual do continente mais desigual do mundo”.
Essa é uma demonstração da capacidade de que o indivíduo tem de construir castelos nas nuvens. Não existe nenhum indício de que isso possa se cumprir.
Emir Sader não consegue entender que a crise na esquerda se dá pelo fato de que setores inteiros estão abandonando as bandeiras do socialismo, passaram a defender a “democracia”, as instituições do Estado burguês.
Promessas eleitorais não comovem a classe trabalhadora, cada vez mais sofrida, que acaba sendo atraída pela demagogia da extrema direita, que se apresenta antissistema, e com isso praticamente está ombro a ombro com Lula. Foi isso que demonstrou a última eleição presidencial.





