Em 2024, o Itamaraty, representando o Brasil, vetou a entrada da Venezuela no BRICS, a comando do enviado especial Eduardo Saboia. No último sábado (1), a imprensa burguesa noticiou a demissão de Eduardo Saboia da Secretaria de Ásia e Pacífico do Itamaraty, ocultando a trajetória golpista do diplomata, cuja carreira é marcada por polêmicas, alinhamentos políticos à revelia do governo e decisões que impactaram negativamente as relações internacionais do Brasil.
Saboia, que agora será enviado para a embaixada brasileira na Áustria, deixa um legado entreguista especialmente em relação à sua atuação durante os governos de Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Nascido em 1967 no Rio de Janeiro, Eduardo Paes Saboia formou-se em Direito pela Universidade de Brasília e ingressou na carreira diplomática em 1990. Ao longo de mais de três décadas, ocupou posições estratégicas, como embaixador no Japão, chefe de gabinete do Ministério das Relações Exteriores durante o governo Temer e, mais recentemente, secretário de Ásia e Pacífico no governo Lula.
Um dos momentos mais trágicos da carreira de Saboia ocorreu em 2013, quando ele era embaixador na Bolívia. Na época, o senador boliviano Roger Pinto Molina, opositor do governo de Evo Morales, estava asilado na embaixada brasileira em La Paz há mais de um ano, após ter liderado um golpe de Estado contra o governo popular boliviano. Sem autorização do governo boliviano para deixar o país, Molina foi retirado da Bolívia em uma operação organizada por Saboia, que alegou risco iminente à vida do senador. A ação, realizada sem o aval dos governos de Dilma Rousseff e Evo Morales, gerou uma crise diplomática entre os dois países e culminou na demissão do então chanceler Antonio Patriota, além de ter deixado a então presidenta extremamente vulnerável, dada a prática de um funcionário do alto escalão de seu governo à revelia dos interesses nacionais.
O episódio não apenas colocou Saboia em rota de colisão com Dilma Rousseff, mas também o levou a uma suspensão de 20 dias e a uma passagem pela “geladeira” do Itamaraty durante o governo da ex-presidenta. Apesar disso, Saboia conseguiu se reerguer politicamente durante o governo golpista de Michel Temer, quando foi promovido a ministro de primeira classe, o posto mais alto da carreira diplomática. Sua ascensão foi vista como uma recompensa por sua lealdade à burguesia, sem tirar nem pôr.
No governo Lula, Saboia foi nomeado pelo ministro Mauro Vieira para chefiar a Secretaria de Ásia e Pacífico, responsável por relações com países como China e Índia, membros do BRICS. No entanto, sua atuação continuou a gerar desconforto, especialmente entre setores anti-imperialistas. Um dos momentos mais recentes e polêmicos de sua carreira foi o veto brasileiro à entrada da Venezuela no bloco, uma decisão que gerou revolta no governo de Nicolás Maduro e foi atribuída diretamente a Saboia pelo mandatário venezuelano.
A Venezuela classificou o veto como uma “agressão inexplicável e imoral”, acusando o Brasil de trair uma relação histórica de cooperação entre os dois países. Para Maduro, classificando corretamente o ocorrido, a decisão refletiu uma submissão ao imperialismo, contrariando a visão de um “mundo multipolar” que o BRICS busca promover em seus objetivos oficiais. A nota oficial do governo venezuelano mencionou explicitamente o nome de Saboia como responsável pela manutenção do veto, herdado do governo Bolsonaro.
A relação conturbada entre Saboia e Dilma Rousseff voltou à imprensa também quando a ex-presidente, agora à frente do banco de desenvolvimento do BRICS, pediu a Lula a demissão do diplomata. Dilma chegou a se irritar ao cruzar com Saboia durante uma viagem à África do Sul e evitou incluí-lo em comitivas oficiais, como na visita do vice-presidente e golpista de carteirinha Geraldo Alckmin à China em 2023. Apesar dos pedidos de Dilma, Lula manteve Saboia no cargo, optando por realocá-lo para a embaixada na Áustria, um posto considerado de prestígio, mas que evita um possível “climão” durante a cúpula do BRICS que o Brasil sediará em julho.