O governo alemão anunciou nesta terça-feira (13) a proibição do grupo “Reino da Alemanha” (Königreich Deutschland, KRD), uma das maiores organizações do movimento chamado “Cidadãos do Reich”. A decisão foi acompanhada por uma operação policial em sete estados do país, com a prisão de quatro lideranças, incluindo o fundador da organização, Peter Fitzek, que se autoproclama “Peter I”.
Segundo a polícia política alemã, o grupo mantinha estruturas “paralelas” ao Estado oficial — incluindo cartório, moeda própria, banco, seguros e suposta força de segurança. O ministro do Interior, Alexander Dobrindt, que assumiu o cargo há poucos dias, afirmou que os integrantes criaram um “contraestado” e sustentariam suas reivindicações com “narrativas conspiratórias antissemitas”, segundo a alegação do regime imperialista.
Nenhuma arma foi apreendida nas batidas policiais, tampouco houve qualquer indício de atividade armada concreta. A repressão se baseia exclusivamente no caráter político da organização. O suposto “crime” do KRD é o de questionar a legitimidade do Estado alemão e buscar organizar uma forma alternativa de poder, configurando, portanto, uma perseguição política aberta e declarada.
Com cerca de 6 mil apoiadores, o grupo já havia sido colocado sob vigilância permanente desde 2016. A partir de 2022, com a prisão de outra facção — acusada de planejar um golpe de Estado —, o cerco foi intensificado contra todos os grupos que integram o “Cidadãos do Reich”. O movimento é acusado de manter ideias conspiratórias, questionar a República Federal da Alemanha e defender uma restauração do antigo Império Alemão.
Em 2023, o órgão de inteligência alemão estimava que o movimento reunia 25 mil pessoas. Agora, após o crescimento da extrema-direita eleitoral — que deu à AfD (Alternativa para a Alemanha) a segunda maior bancada no Parlamento — o governo procura se mostrar “duro” contra os que rotula como “radicais”. A operação contra o KRD está sendo usada, inclusive, para fins de disputa política entre os partidos burgueses, como a CDU e a própria AfD.
As ações repressivas incluem prisões preventivas sem julgamento, censura de conteúdo, invasão de domicílios, bloqueio de contas bancárias e perseguição judicial. Há relatos de que crianças nascidas nas comunidades do grupo foram privadas de registros civis por decisão dos próprios pais — o que é tratado pelas autoridades como “crime”, revelando o nível de controle absoluto que o Estado busca exercer sobre a vida da população.
A falsa democracia europeia
O caso demonstra, mais uma vez, o caráter fraudulento da chamada “democracia”. A burguesia imperialista, diante da crescente crise do regime político e do desgaste dos partidos tradicionais, não hesita em recorrer ao velho método do porrete e da prisão para conter qualquer forma de dissidência — mesmo entre grupos de direita.
A Alemanha, que se apresenta ao mundo como bastião dos “valores democráticos”, recorre ao mesmo tipo de repressão que outrora utilizou para esmagar os comunistas e a oposição operária. Perseguir, proibir, prender e censurar se tornou a norma. A liberdade de organização e de expressão simplesmente não existe para aqueles que questionam o regime estabelecido.
A acusação de “antissemitismo” — tão repetida quanto conveniente — serve como justificativa genérica para a perseguição de qualquer setor que o imperialismo queira calar. Sob o pretexto de combater “discursos de ódio”, o regime criminaliza a dissidência e intensifica o aparato repressivo, preparando o terreno para reprimir também os trabalhadores e a esquerda revolucionária.
A mesma ditadura no Brasil
A ofensiva alemã não é um caso isolado. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal tenta proscrever o Partido da Causa Operária (PCO), ameaçando diretamente a liberdade de organização política. Em nome da “democracia” — exatamente como na Alemanha — o regime busca destruir os direitos democráticos mais elementares da população.
A cassação de mandatos, censura de redes sociais, perseguição judicial a militantes e partidos, prisões arbitrárias: trata-se de uma política ditatorial que nada tem de “defesa da democracia”. É a burguesia — e seus tribunais — dizendo claramente que não aceitará oposição real de nenhum tipo.
A repressão na Alemanha, como no Brasil, não tem como alvo os supostos “extremistas” de direita ou de esquerda: ela visa fortalecer o controle do Estado burguês e suprimir qualquer forma de organização independente das massas. E é por isso que é dever de todos os democratas, em qualquer parte do mundo, denunciar essa escalada repressiva e defender incondicionalmente os direitos democráticos do povo.