Mario Vargas Llosa

De escritor extraordinário a porta-voz do imperialismo

Escritor peruano, um dos mais importantes da literatura latino-americana no século XX, morreu nesse domingo

Nesse domingo, dia 13, morreu em Lima, Peru, aos 89 anos, o escritor Mario Vargas Llosa. A causa da morte não foi informada pela família.

Vargas Llosa está entre os principais escritores peruanos, e não seria exagero colocá-lo como o principal escritor de seu país, além de estar entre os grandes escritores América hispânica no século XX.

Nascido em Arequipa, no Peru, em 28 de março de 1936, Vargas Llosa escreveu seu primeiro romance, A cidade e os cachorros, em 1963, inspirado no período em que passou como aluno interno, no Colégio Militar Leôncio Prado, em La Perla. Ele ingressou no colégio aos 14 anos e passou dois anos lá. O livro é uma denúncia do tratamento recebido no colégio e também às autoridades militares, tanto que foi alvo dos generais, que classificaram Vargas Llosa de “inimigo do Peru e caluniador dos sagrados valores nacionais”.

Llosa escreveu alguns dos grandes romances da literatura latino-americana como Conversa na Catedral (1959), Pantaleão e as visitadoras (1973) e A Guerra do Fim do Mundo (1981). Este último, um belo romance histórico sobre a Guerra de Canudos, que o autor dedica ao escritor brasileiro Euclides da Cunha.

O peruano foi parte de um dos mais importantes movimentos literários latino-americanos. Junto ao colombiano Gabriel García Marquéz, do argentino Julio Cortázar, ao mexicano Carlos Fuentes, entre outros, eles fizeram parte do que ficou conhecido como “boom latino-americano”. O momento em que a literatura feita na América Latina ganhou maior destaque na Europa e no resto do mundo. Muitos consideram o Vargas Llosa como o escritor que mais conseguiu essa notoriedade internacional, embora a obra de García Marquéz seja mais conhecida, sendo dele o que talvez seja o principal livro deste movimento – Cem anos de solidão (1967) -, obra muito exaltada pelo próprio Vargas Llosa.

Assim como todos os escritores de sua geração, Vargas Llosa era um artista ligado ao movimento revolucionário. A Revolução Cubana exerceu enorme influência sobre todos os principais escritores latino-americanos a partir dos anos 1960.

Vargas Llosa era um apoiador de Cuba e admirador de Fidel Castro. Nos anos 60, fez parte do conselho de colaboração da revista do centro de pesquisa literária Casa de las Américas, um instituto cubano que promove a interação cultural com outros países.

As posições de esquerda do escritor peruano começam a ser abaladas depois da visita à URSS, em 1966. Vargas Llosa teria declarado que “se fosse russo, estaria preso ou exilado”. A política da burocracia soviética de fato sempre foi uma fábrica de calúnias contra o próprio socialismo. O episódio provavelmente não tenha sido decisivo para mudar as posições de Vargas Llosa, mas serviu como um ponto inicial. No mesmo ano, o escritor cubano José Lezama Lima teve seu romance autobiográfico Paradiso censurado em Cuba. Vargas Llosa critica a política do regime cubano e aos poucos se afasta, até romper definitivamente com os movimentos de esquerda.

Esse rompimento vai evoluir para uma política cada vez mais alinhada ao imperialismo. Em 1983, participa de uma campanha governamental contra o grupo guerrilheiro peruano Sendero Luminoso, preparando a brutal repressão política contra o grupo, e, em 1987, lidera um movimento político pelas privatizações, uma campanha que vai na esteira do neoliberalismo que estava sendo implantado na América Latina.

Sua evolução à direita chega até a candidatura à presidência da República, em 1990, pela coalizão liberal de direita Frente Democrata (FREDEMO). Apesar de vencer no primeiro turno, é derrotado no segundo pelo fascista Alberto Fujimori.

Vargas Llosa não parou de escrever, mas seus romances, embora possam ser notadas as qualidade de bom escritor, não são mais as obras de arte dos primeiros romances de sua carreira. Nas últimas décadas, com o avanço da política neoliberal contra os governos nacionalistas de esquerda que se ergueram na América Latina, Vargas Llosa transformou-se num porta-voz da direita pró-imperialista. Defendeu os golpes de Estado, como o que aconteceu no Brasil.

Em 2010, Vargas Llosa recebeu o prêmio nobel de literatura, o que demonstrava sua completa integração como um escritor oficial da burguesia imperialista.

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