Polêmica

Crime organizado vira bicho-papão para defender ditadura

Jornalista do Globo defende cooperação entre todo o Estado e com o imperialismo para oprimir mais a população

Não importa quanto tempo passe nem qual a situação em que o país se encontra, a burguesia sempre apresenta a mesma solução para o povo quando o assunto é a segurança: uma repressão feroz contra tudo o que se meche.

Na semana seguinte à maior chacina da história do Brasil feita pela polícia nos complexos do Alemão e da Penha no Rio de Janeiro, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg publicou coluna no jornal O Globo sobre algumas considerações suas sobre o crime organizado, a corrupção e a melhor forma de combatê-los, segundo seu ponto de vista que não foge à regra escrita no parágrafo acima.

Com o título de “Instituições são fracas, crime é organizado”, sua coluna traz ideias requentadas da época da Operação Lava Jato e já aponta para um dos dilemas que o governo Lula deve enfrentar nos próximos meses, antes das eleições marcadas para menos de um ano, como no parágrafo a seguir:

A corrupção é sempre aliada do crime organizado, como nota a economista Maria Cristina Pinotti em artigo publicado no Valor Econômico, no último dia 3 de outubro (“Como enfrentar organizações mafiosas”). Ela tem se dedicado a estudos que mostram os impactos da corrupção na sociedade, inclusive os econômicos. A roubalheira e a violência acontecem quando há governos fracos e ineficientes, o que obviamente prejudica o desenvolvimento do país e a vida da sociedade.

O parágrafo é interessante, pois, uma parte da esquerda brasileira acredita que apoiar a operação de Cláudio Castro no Rio de Janeiro e outras políticas direitistas pode acabar sendo positivo para as eleições no ano que vem. No entanto, a burguesia é uma classe social que domina a política há séculos e não permitiria uma manobra do tipo. Sendo assim, por mais que as críticas ao governo do PT ainda não tenham aparecido com força na imprensa burguesa, já há a preparação para que isso aconteça, como indica o parágrafo ao citar “governos fracos” e a volta do “combate à corrupção”.

Citando a nota da economista, o colunista continua, apontando três novas fórmulas milagrosas para o combate ao crime, que nada mais são do que a velha repressão:

Portanto, o combate às organizações criminosas deve ser abrangente. Para Pinotti, há três pilares. Primeiro: leis que elevem o custo do crime e reduzam a impunidade. E processos mais rápidos, paralelos ao sistema jurídico tradicional. A polícia e a Justiça têm de ser mais eficientes que o crime. O Projeto de Lei antifacção, enviado ao Congresso na última sexta, vai nessa direção.

 

O “Projeto de Lei antifacção” é um dos motivos pelos quais não é possível uma crítica tão ferrenha ao governo Lula agora, pois é importante o apoio da esquerda para aprovar esse tipo de leis contra a população.

Sobre o primeiro dos “pilares” da milagrosa fórmula de combate ao crime, o que se pode dizer é que ela não é nova, nem milagrosa.

Se ter leis duras contra o crime resolvesse alguma coisa, o chamado crime organizado não teria se organizado no Brasil durante o período da Ditadura Militar, pois foi o período em que as leis foram as mais duras possíveis contra o povo brasileiro.

No entanto, o Brasil entrou na ditadura de 1964 sem tráfico de drogas, sem crime organizado e com um nível de criminalidade baixo, para se tornar um dos países mais violentos do Mundo.

O colunista e a economista citada também não levam em conta que, se fosse verdade que leis cada vez mais duras diminuem o crime, o Brasil estaria livre desse mal, já que o país tem leis contra praticamente tudo.

Veja-se, por exemplos, as duríssimas leis contra comediantes e humoristas, contra piadas com negros, LGBTs, mulheres, índios e outros. A vida dessas pessoas melhorou alguma coisa com as duras leis? Ainda assim, as piadas foram extintas? A resposta é sempre não.

Há no parágrafo, também, um ponto que chama a atenção. O que seriam processos “paralelos ao sistema jurídico tradicional”? A sugestão é que a polícia haja paralelamente ao devido processo legal que os cidadãos têm direito? Seriam execuções sumárias como as que aconteceram na semana passada no Rio de Janeiro?

Em um Estado realmente democrático, não é possível que haja processos paralelos à justiça, mesmo que as desculpas para isso sejam as de combater a impunidade ou aumentar a eficiência.

O segundo dos pilares aparece em:

O segundo pilar, nota Pinotti, é “a oferta eficaz de serviços públicos — segurança, saúde, educação, infraestrutura —, retirando dos criminosos a vantagem de substituir o Estado em troca da submissão dos cidadãos”. O Estado e as instituições, incluindo a polícia, têm de estar presentes todos os dias. Entrar numa comunidade controlada pelo Comando Vermelho para matar ou capturar seus líderes não adianta nada se nos dias seguintes o local volta à rotina de controle das organizações criminosas.

Dá a entender que propõe acabar com o crime como um ser humano faria, dando emprego, educação, saúde e um nível de bem-estar que não levasse os indivíduos ao crime. A realidade é que o que está sendo proposto é o aumento do policiamento e da repressão e uma tentativa de dizer que a presença da polícia, completamente avessa a qualquer ideia de cultura ou intelectualidade, seria possível educar a população das favelas e garantir coisas como hospitais e emprego.

É importante destacar também que dizer “Entrar numa comunidade controlada pelo Comando Vermelho para matar ou capturar seus líderes não adianta nada se nos dias seguintes o local volta à rotina de controle das organizações criminosas.” é uma grande canalhice. Uma grande parte das 130 pessoas assassinadas pela polícia não eram do Comando Vermelho, muito menos seus líderes. Essa é apenas a propaganda da operação para justificar a chacina.

Falar abertamente em matar, mesmo que se tratando de membros do Comando Vermelho, mostra o nível de fascistização da direita dita democrática. Segundo a Constituição do Brasil, não existe pena de morte e, mesmo que ela existisse, ainda assim o que ocorreu no Rio de Janeiro no dia 28 teria sido um crime, pois, os indivíduos ainda deveriam ter o direito a um julgamento seguindo o que está estabelecido em lei.

Ainda assim, o texto é muito interessante, pois, mesmo tentando dar um ar democrático para as ideias de repressão mais brutais contra o povo brasileiro, o colunista acaba descrevendo quais são as verdadeiras ideias por trás do que é dito: matar uma quantidade grande de pessoas e, depois, ocupar o local permanentemente, algo que é feito extensivamente por “Israel” na Palestina, por exemplo.

O terceiro dos pilares seria o da “colaboração conjunta”:

O combate ao crime organizado também exige colaboração e atuação conjunta dos governos federal, estaduais e municipais. Drogas e armas do crime circulam pelo país todo, passam por portos e aeroportos. Trata-se, portanto, de uma questão de Estado e de toda a sociedade, não um problema dos partidos, da esquerda ou da direita.

Mais um ataque de leve no governo Lula. Aqui, é interessante destacar que a primeira resposta do governo, já antevendo a pressão da direita no sentido de apontá-lo como inimigo da operação no Rio, foi o de dizer por meio do Ministério da Justiça que o governo havia aceitado todas as exigências da polícia.

Não adianta, porém, o esforço para parecer direitista. Quanto mais se vai para a direita, mais a burguesia pressiona para ir ainda mais à direita.

A “colaboração conjunta” nada mais é do que um esforço de todo o Estado de conjunto contra sua população. O governo federal, hoje com o PT, não pode participar nem tentar ganhar crédito com operações fascistas como a ocorrida no Rio de Janeiro. Primeiro, porque a direita não vai levar a sério e, os pontos “positivos” da chacina, a animação dos direitistas pela repressão visando as eleições, vão fortalecer aqueles que de fato são sanguinários e fascistas. Se abraçar a isso vai apenas levar a esquerda a aparecer para a população como parte da repressão estatal.

A chamada “colaboração conjunta” também cria um clima de espionagem permanente contra a população, permitindo que o cidadão seja fiscalizado pelos piores criminosos do Brasil, as forças de repressão, o tempo todo.

Por fim, no último parágrafo, aquilo que resume toda a discussão sobre a repressão no Brasil: a entrega do país ao imperialismo.

Finalmente, a questão internacional. Organizações criminosas brasileiras tornaram-se multinacionais. Drogas e armas das organizações brasileiras chegam de países vizinhos. O dinheiro é escondido em paraísos fiscais. Não haverá combate eficaz sem colaboração internacional.

4) Colaboração internacional é outro eufemismo. Significa submissão aos serviços de inteligência estrangeiros. Citar caso de lucas Passos, preso político pelo Mossad. O interesse de um Estado de um país imperialismo sempre será contrarrevolucionário, sempre será o de perseguir os cidadãos brasileiros com fins políticos

A “colaboração internacional” se daria com os países que organizaram o genocídio na Palestina e, provavelmente, organizaram ou, pelo menos, deram o aval para a chacina no Rio de Janeiro: os países imperialistas.

A aliança com o imperialismo sempre vai tentar aparecer como sendo algo bom para o Brasil e para sua população, escondendo que são essas alianças que acabam com nossa economia e permitem a repressão aos brasileiros.

É importante destacar que o Brasil já aparece como um país praticamente sem soberania. Para citar alguns exemplos, é importante mencionar que o Mossad, o serviço de inteligência de “Israel” ordenou a prisão de um brasileiro que havia viajado ao Líbano, Lucas Passos, e que ele se encontra preso até hoje, mesmo que seus crimes sejam inexistentes e com o processo lotado de irregularidades.

Outra coisa importante de mencionar é que, desde o início desta etapa do genocídio na Palestina, a Polícia Federal tem barrado palestinos e outras pessoas vindas de países árabes e islâmicos, a mando dos Estados Unidos.

Fora isso, os EUA buscam uma invasão à Venezuela usando como pretexto o mesmo da chacina no Rio, o do combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas. Propor que sejam feitas alianças contra o crime no Brasil é permitir que países abertamente genocidas possam entrar em nosso país e massacrar nossa população, ou arrastar o Brasil para uma guerra contra a Venezuela, como fizeram com a Ucrânia contra a Rússia.

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