O presidente norte-americano Donald Trump anunciou que os Estados Unidos e a Rússia iniciarão “imediatamente” as negociações para encerrar a guerra na Ucrânia, após uma longa e “altamente produtiva” conversa telefônica com Vladimir Putin. O telefonema, que durou cerca de 90 minutos, marcou a retomada do diálogo entre os dois países, algo que havia sido completamente abandonado por Joe Biden, que se recusava a falar com Putin.
Trump afirmou em sua rede social, Truth Social, que os dois presidentes concordaram em trabalhar “muito de perto”, incluindo visitas recíprocas. “Também concordamos que nossas respectivas equipes começarão as negociações imediatamente, e ligaremos para o presidente Zelensky, da Ucrânia, para informá-lo da conversa”, escreveu Trump, acrescentando que esse contato com o líder ucraniano ocorreria “neste exato momento”.
O Crêmlin confirmou que Putin e Trump assumiram um tom conciliatório. “O presidente Putin usou até mesmo o meu lema de campanha, ‘COMMON SENSE'”, disse Trump, insinuando que o líder russo escolheu suas palavras cuidadosamente para se alinhar às posições norte-americanas.
Exclusão de Zelensky
Pouco depois da conversa com Putin, Trump entrou em contato com Zelensky para informá-lo sobre as tratativas. O ucraniano, por sua vez, afirmou que teve uma “boa e detalhada” discussão com Trump e que ambos concordaram em manter contato para discutir os próximos passos.
A grande novidade é que, segundo Trump, Zelensky não participará da primeira reunião entre Estados Unidos e Rússia, que está prevista para acontecer na Arábia Saudita, em um encontro mediado pelo príncipe saudita Mohammed bin Salman. “Provavelmente teremos um primeiro encontro e depois veremos o que podemos fazer sobre um segundo encontro”, afirmou o presidente dos EUA.
O secretário de Defesa norte-americano Pete Hegseth, já havia adiantado que a adesão da Ucrânia à OTAN é irrealista e que os EUA não darão mais prioridade à segurança europeia e ucraniana, deslocando seu foco para a proteção de suas próprias fronteiras e para o enfrentamento contra a China.
Trump deixou claro que está disposto a negociar um acordo diretamente com a Ucrânia, sugerindo que um pagamento em minerais raros poderia ser uma contrapartida pelo apoio dos EUA. Essa possível concessão econômica levanta dúvidas sobre o futuro da Ucrânia e sobre sua capacidade de se manter independente de Washington.
Reação da Europa
Sete países europeus, incluindo França, Alemanha e Reino Unido, declararam que devem fazer parte das negociações sobre o destino da Ucrânia. “Nosso objetivo comum deve ser colocar a Ucrânia em uma posição de força”, afirmaram os ministros das Relações Exteriores desses países, criticando o diálogo direto entre Trump e Putin.
Por outro lado, o Crêmlin se mostrou satisfeito com as mudanças na postura norte-americana. “A época de isolamento de Putin está chegando ao fim”, afirmou o porta-voz russo Dmitry Peskov, que reiterou que Moscou não discutirá a devolução de territórios que hoje controla na Ucrânia. “Todas as unidades ucranianas serão expulsas de nosso território. Quem não for eliminado, será expulso”, declarou Peskov.
Enquanto isso, dentro da Ucrânia, parlamentares e membros do governo demonstraram preocupação. A deputada Kira Rudik questionou se Putin realmente deseja a paz e alertou para a ilusão de que a negociação com Trump possa garantir um acordo favorável a Quieve. “Quem ou o que garantirá que Putin cumpra sua parte do acordo?”, questionou.
Nova conjuntura
Com essa movimentação diplomática, Trump rompe com a política do imperialismo, que preferia isolar Putin e apostar no apoio militar à Ucrânia. O presidente norte-americano também deu a entender que não apoia a retomada dos territórios ocupados pela Rússia desde 2014, indicando que Quieve terá que aceitar algumas perdas territoriais. “Alguma parte desse território voltará”, disse Trump, mas sem especificar como.
A tendência é que, ao assumir uma linha mais pragmática, Trump deixe a Ucrânia cada vez mais isolada e dependentemente dos países europeus. A expectativa agora é para o possível encontro entre Trump e Putin na Arábia Saudita, que pode redefinir completamente os rumos do conflito. Resta saber se Zelensky terá alguma relevância nessa negociação.