Hélio Rocha

Possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2013). Atualmente é repórter de meio ambiente e direitos sociais em Plurale em Revista e correspondente em Pequim.

Coluna

Carolus Rex, Sabaton e a essência do clichê

A empreitada fica aquém da ambição, na contramão de álbuns conceituais históricos que escolhem uma jornada pessoal, um livro, um fato em específico etc. Sabaton, de uma forma geral

A geração power metal, nascida nos anos 1990 e estendida até o final dos anos 2000, foi marcada por álbuns grandiosos, de forte experimentalismo na linguagem musical, com forte interseção entre rock e música erudita, e também ambiciosas letras em forma de narrativa literária. Isso está presente desde as letras baseadas em J. R. R. Tolkien, em Blind Guardian, às histórias completas de letra em letra presentes em “Avantasia: the metal opera” (1999, 2002), projeto solo com convidados de Tobias Sammet; ou Temple of Shadows (2004), do Angra.

Esse padrão foi se repetindo de banda em banda até, na forma mais tardia do subgênero, chegar a uma de suas maiores bandas: Sabaton, que estoura na década de 2010 e tem não só num álbum, mas na temática geral da banda, um tema majoritário: a Segunda Guerra Mundial; e vários temas secundários: quaisquer outras guerras que tenham existido.

Carolus Rex, power metal nacionalista

Não é propriamente uma característica do power metal ser nacionalista, visto que a maioria das bandas, de onde quer que venham, referenciam-se na cosmologia medieval europeia. Exceções são “Holy Land” (1996), do Angra, ambientado na formação histórica do Brasil colônia, ou “Infinite” (2000), do Stratovarius, álbum de temática contemporânea.

Contudo, Sabaton, no auge de seu protagonismo numa cena já tardia do power metal, lançou um álbum essencialmente nacionalista: “Carolus Rex” (2012) chega ao paroxismo de ser um disco sueco escrito para suecos, deixando o ouvinte internacional completamente perdido em meio a referências culturais e históricas das quais não tem noção. Por mais que haja certo didatismo no encarte, a narrativa peca por hipertrofiar o papel da ascensão do Império Sueco de Gustavo Adolfo II e Carlos XII, imperadores da Suécia na Era Protestante, transformando-a num assombro sobre a Europa, quando, na verdade, a Espanha e a Inglaterra de Elizabeth I era a desafiante estava no seu auge naquele momento. Mais tarde, o eixo seria tornado à França, com Iluminismo.

As canções têm momentos magníficos, “The lion from the north” é uma música poderosa e que, infalivelmente, mexe com qualquer fã de power metal. A ponte após o solo, que repete “mighty eagle rule alone, liberator claim the throne, lion from the nothern land, take the skepter from its hand”, arrepia ao recorrer aos mesmos corais, notas ascendentes, versos em estrutura heroica (isto é, em que uma nota intermediária se acentua entre as demais, assemelhando-se ao acelerar da batida de um coração num rompante emotivo) de toda canção do subgênero.

“Carolus Rex”, a faixa título e mais clássica do disco, é um trovão, uma música poderosa de refrão marcante. Usa dos mesmos recursos de “The lion from the north” e condensa-os numa canção com menos variáveis, diversidades de momentos, tempos, ritmos, e passa somente a estrutura clássica do riff, estrofe, refrão, estrofe, refrão, solo, ponte, estrofe, refrão. Algo que se encontra em canções básicas como “Miles away”, de Winger, ou “Smells like teen spirit”, de Nirvana.

Ademais…

Para além das duas canções, apesar de, evidentemente, alguém possa se apegar a uma determinada canção que captura o sujeito por fatores específicos, o disco não consegue ir além de seu clichê. Tanto histórico, de enaltecimento de fato por fato, irrelevantes do ponto de vista da história geral, da relativa expansão do Império Sueco, quando de estruturas musicais que terminam por entediar um ouvinte mais experiente no rock’n’roll.

As músicas citadas acima são excelentes exceções, mas podem estar numa playlist de favoritas no aplicativo de streamings, em vez de motivar a compra do álbum. Do que resta, salva-se “Ruina Imperii”, uma canção em sueco que embala o que, na história narrada pelas letras, é o enterro de Carlos XII e consequente decadência do Império Sueco. Ou seja, o álbum compreende duas gerações de imperadores, e a ascensão e queda de um império (que nunca ascendeu e caiu, de fato. Sempre esteve lá no mesmo lugar do mesmo tamanho: uma periferia rica da Europa).

A empreitada fica aquém da ambição, na contramão de álbuns conceituais históricos que escolhem uma jornada pessoal, um livro, um fato em específico, etc. Sabaton, de uma forma geral, espelha isso. Tornar-se a banda referência de um tema, que já esteve inclusive amplamente retratado em Iron Maiden, em quase todo álbum, foi uma isca que Sabaton comeu e relançou ao público, que o comprou por determinado tempo. Entre 2010 e 2020, nalguns anos perdidos nesse meio, foi a grande referência de um “novo power metal”, com as dinossauras Blind Guardian, Angra, Helloween, Stratovarios, Rhapsody of Fire, já decadentes. Entretanto, Sabaton terminou como Carolus Rex: simples, clichê, entediante.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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