Nesse sábado (13), o banqueiro Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central durante o criminoso governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que conseguiu a “proeza” de assassinar 300 crianças de fome por dia ao final de seu segundo mandato, defendeu que o salário mínimo fosse congelado por um período de seis anos. Isto é, que, durante os próximos 72 meses, os trabalhadores continuassem recebendo o mesmo salário de fome, enquanto a inflação segue transformando alimentos como ovo e café em artigos de luxo.
A declaração foi feita durante sua participação em um evento sediado pela Universidade de Harvard e pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Em sua fala, Fraga procurou expressar o programa econômico do grande capital para o Brasil dos próximos anos.
“Eu acho que precisa de uma reforma grande. Uma boa já seria, provavelmente a mais fácil, congelar o salário mínimo em termos reais. Seis anos congelados já ajudaria”, declarou o ex-presidente do Banco Central.
O pretexto de Fraga são as contas da Previdência Social – isto é, da poupança nacional criada para pagar uma esmola aos aposentados que conseguem, depois de décadas de exploração, ser beneficiados com uma pensão no fim da vida. Segundo o banqueiro, ela, a Previdência Social, seria o grande motivo de a economia estar indo mal. A receita? Cortar ainda mais dos direitos deste povo miserável que dificilmente conseguirá se aposentar.
Segundo Fraga, congelar o salário mínimo real por seis anos reduziria o ritmo de crescimento das despesas com aposentadorias, pensões e benefícios sociais vinculados ao piso salarial, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Bolsa Família. É verdade, os custos diminuirão. Fraga só esqueceu de falar que aumentará exponencialmente a fome, a miséria e, por conseguinte, a criminalidade, da qual a direita tem tanto horror.
O ex-presidente do BC também destacou a necessidade de “uma ampla reestruturação do setor público”. Essa expressão, vinda de um banqueiro, só pode significar uma coisa: o fim da estabilidade do servidor público, que é um dos ataques mais brutais ao conjunto dos direitos trabalhistas.
Fraga também criticou a política de renúncias fiscais, que ele considera excessivas e mal distribuídas. Segundo Fraga, os gastos tributários – subsídios e isenções concedidos a setores econômicos – chegam hoje a 7% do PIB, o dobro do registrado no fim do governo Fernando Henrique Cardoso. De fato, a política de renúncia fiscal tem um aspecto negativo que é tirar dinheiro que deveria ir para o Estado para enriquecer uma empresa capitalista. No entanto, a crítica de Fraga tem como objetivo desestimular qualquer iniciativa de um governo popular, como o do governo Lula, para tentar baixar os preços dos produtos consumidos pelos trabalhadores.
Com o cinismo típico de um banqueiro, Fraga ainda revelou uma preocupação com o combate ao “crime organizado”, com a redução da desigualdade social e com os investimentos em educação.
Quanto ao combate ao crime organizado, já explicamos: o crime crescerá em proporções inéditas caso uma política genocida como esta seja implementada. Quanto à redução da desigualdade social e os investimentos em educação, não passa de uma piada. Como promover igualdade social diminuindo o valor do salário mínimo a cada mês? Como investir na educação se o interesse do Estado é “economizar”?
É aqui que entra o que há de mais importante na política de Fraga – e que é, propositalmente, por ele omitido. Fraga quer diminuir os gastos do Estado e diminuir o salário dos trabalhadores para que os bancos lucrem ainda mais. Afinal, se há tanta preocupação com a educação e com a Previdência Social, por que Fraga não fala da dívida pública, que consome metade do orçamento federal?
As declarações de Fraga são as de um vampiro que se prepara para sugar todo o sangue do povo trabalhador. Nada diferente deveria ser esperado de um banqueiro.
No entanto, há não muito tempo, os setores que hoje governam o País bajulavam Armínio Fraga, uma vez que este se declarou favorável à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) frente à candidatura de Jair Bolsonaro (PL). Agora, Fraga esclarece este apoio. O banqueiro não concorda em absolutamente nada no que diz respeito ao programa do presidente da República: seu “apoio” – que não se traduziu em um único voto – serviu apenas para que a burguesia fosse vista com maior simpatia pelo futuro governo petista, facilitando a política de frente ampla que seria conduzida por ele.
Ainda que Armínio Fraga não tenha uma função importante no governo Lula, não há dúvida de que a sua política está presente no Palácio do Planalto. Os chefes da equipe econômica do governo, Fernando Haddad (PT) e Simone Tebet (MDB), agem como se fossem alunos de Fraga, aplicando uma política econômica de ataques ao povo trabalhador que elegeu Lula em 2022. O próprio Haddad, em seu pacote fiscal, foi capaz de propor um inédito teto para o salário mínimo – proposta que, no final das contas, muito se assemelha à do banqueiro.