Hélio Rocha

Possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2013). Atualmente é repórter de meio ambiente e direitos sociais em Plurale em Revista e correspondente em Pequim.

Coluna

Arlequina: origem e função narrativa

Arlequina compartilha com o Coringa a função de introduzir caos, mas o faz de maneira distinta

Arlequina surgiu em 1992 na série animada do Batman como um recurso simples: dar ao Coringa uma parceira que ampliasse a comicidade e a violência do vilão. O público rapidamente percebeu algo diferente. Sua presença não era apenas de reforço, mas de contraste: enquanto o Coringa projetava frieza no caos, Arlequina oferecia instabilidade, excesso e teatralidade. Essa combinação de histrionismo, cor vibrante e comportamento imprevisível transformou-a em algo mais do que uma coadjuvante. Narrativamente, foi criada como apêndice, mas se mostrou capaz de sustentar tensão dramática própria, gerando empatia e riso em simultâneo.

Evolução de personagem

Com o tempo, Arlequina deixou de ser dependente do Coringa para tornar-se eixo de histórias autônomas. Essa virada não foi mero ajuste temático, mas também formal. Nos quadrinhos recentes, ela é escrita com mais espaço para monólogos internos, dilemas próprios e relações que não se explicam pela sombra do vilão. Isso deu profundidade a uma figura que antes existia apenas como reflexo. A narrativa passou a explorar sua oscilação entre fragilidade e brutalidade, sem reduzi-la a um arquétipo fixo. O recurso gráfico de cores saturadas e contrastes fortes reforça essa identidade visual: Arlequina sempre aparece deslocada em relação ao ambiente, sugerindo que pertence a outro ritmo, outro tom. Esse tratamento técnico explica boa parte do seu magnetismo — cada quadro em que surge rompe a monotonia e cria expectativa de ruptura.

Arlequina compartilha com o Coringa a função de introduzir caos, mas o faz de maneira distinta. Enquanto ele encarna o colapso planejado, quase filosófico, ela encarna a desordem como excesso de energia, gesto espontâneo e teatralidade desmedida. Esse aspecto a tornou especialmente atraente para roteiristas e artistas, pois abre espaço para narrativas visuais menos lineares e mais carregadas de humor negro. Nos filmes e animações, sua voz, suas pausas, seus maneirismos marcam o ritmo tanto quanto a ação. Tecnicamente, ela é a oportunidade de transformar uma cena banal em espetáculo, pela imprevisibilidade que traz. É nesse ponto que a personagem se distancia de qualquer função secundária: tornou-se, no plano da narrativa e do estilo, uma figura de protagonismo natural.

Arlequina é fascinante porque encarna a liberdade criativa dentro da própria estrutura dos quadrinhos e filmes. De coadjuvante, virou motor narrativo. De personagem plana, tornou-se complexa pela forma como o texto e o desenho trabalham sua instabilidade. Fascina não por slogans externos, mas porque funciona como dispositivo de ruptura em cada obra em que aparece.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.