Analisar a situação argentina hoje é tentar explicar o inexplicável, porque não se pode entender como um país importante e anteriormente soberano pôde se submeter a um presidente insano que está conduzindo o país ao desastre. Agora trata-se de tentar entender que esse presidente aplicou um golpe financeiro no país digno de escândalos financeiros privados que logo conduziriam à prisão dos responsáveis e, no entanto, o presidente continua incólume à frente do governo, pedindo desculpas pelo ocorrido. Chamado de “o golpe das criptomoedas” ele é considerado apenas como um incidente que está atrapalhando a importante agenda do presidente, que tem uma viagem programada aos Estados Unidos para participar de uma nova cúpula de uma organização criminosa chamada garbosamente de CPAC (Conservative Political Action Summit) mas que é apenas a reunião de criminosos fascistas e nazistas que hoje dominam parte importante do poder mundial. Outro compromisso do presidente é reunir-se com outra organização criminosa internacional que se chama Fundo Monetário Internacional, para tentar acelerar as negociações para um novo empréstimo, que poderá acabar definitivamente com as chances da economia argentina se recuperar.
Ao contrário do que a mídia e até alguns articulistas de esquerda que tentam minimizar o fato, está claro que este escândalo muda completamente o quadro político argentino e inicia um processo de crise política que certamente destruirá o governo Millei, levando ao seu afastamento do poder. Não houve o envolvimento direto neste caso do grande capital nacional e internacional, somente de algumas figuras menores que rondam o mercado criminoso de criptomoedas na Argentina. É uma ação criminosa que é rigorosamente responsabilidade do presidente e de seu círculo podre de fascistas e negocistas. Lógico, sem o mercado internacional de Criptomoedas e seus financiadores imperialistas o golpe não aconteceria.
Após vários dias de silêncio e pouca participação nas redes sociais do “presidente influenciador”, ele concedeu uma entrevista onde declarou: “Eu não promovi, eu espalhei. Sou um fanático por tecnologia e otimista; sou apaixonado por tecnologia e quero que a Argentina se torne um hack tecnológico. Então, qualquer proposta que eu encontrar que possa melhorar o financiamento para empreendedores de tecnologia, como é o caso aqui, eu aceitarei.”
Essas declarações revelam a total mediocridade e corrupção em que o governo está envolvido. E ele avisa que poderá repetir o ato, desde que julgue que se trata de uma proposta de melhorar o financiamento dos “empreendedores de tecnologia” e pode até ser mais um empreendimento do chamado “Paypal Mafia Group”, representado economicamente por bandidos como Elon Musk, David Sacks, Chamath Palihapitiya e Curtis Yarvin JD Vance, vice-presidente de Donald Trump.
A lista dos envolvidos mostra quem são os executores locais deste programa, além do chefe presidente: Karina Milei, irmã e secretária-geral da Presidência; Manuel Adorni, porta-voz presidencial e líder das milícias digitais; Demian Reidel, conselheiro-chefe e principal contato do governo com os bandos tecnológicos; Agustín Laje, que dirige a fundação fascista El Faro; Hayen Davis, conselheiro presidencial sobre crimes variados e os chamados “empresários” do mundo criminoso das criptomoedas.
Crônica do crime presidencial
O relato dos fatos pela mídia mostra que a ação do presidente foi algo planejado e consciente. Milei escolheu a noite do Dia dos Namorados (14 de fevereiro) para publicar um post em sua rede social “X” (que foi fixado em seu perfil por dias antes de ser apagado) onde fazia alarde e propaganda da criptomoeda criada especialmente para o golpe e chamada de $LIBRA. Logo depois do comunicado presidencial, que ele tentou descaracterizar dizendo ser de uma conta pessoal, ocorreu a uma operação criminosa conhecida como “puxada de tapete”: os capitalistas que haviam investido na moeda na época desconhecida e, portanto, com preços baixos e adequadamente instruídos por informações privilegiadas, começaram a vender em massa seus ativos beneficiados pela propaganda do presidente com preços altos, provocando uma queda violenta dos preços… O resultado: 8 ou 10 pessoas obtiveram cerca de US$ 286 milhões, de quase 75.000 pessoas que investiram altas somas perdidas pela especulação. O fator principal no golpe, portanto, foi a propaganda com base na autoridade presidencial, crucial para gerar a confiança que a operação precisava.
A primeira resposta de Javier Milei foi uma publicação na qual ele tentou se desculpar, alegando que “não estava familiarizado com o projeto” que horas antes havia patrocinado. As relações do presidente com os “empresários” por trás do golpe rapidamente se tornaram públicas, apesar dele dizer que não os conhecia.
Um dia após o ocorrido, a conta oficial do “Gabinete do Presidente” publicou um comunicado no X, reconhecendo as reuniões com Julián Peh e Mauricio Novelli, donos do Kip Protocol, empresa que desenvolveu a $Libra. No comunicado consta também o anúncio de mais uma enganação: o presidente vai investigar a si mesmo por um órgão da presidência chamado de Gabinete Anticorrupção (OA). Ao invés de acionar um órgão do judiciário capaz de investigar com alguma imparcialidade a questão, Millei quis se proteger de qualquer investigação real
Siga o dinheiro
A empresa Kip Protocol, se distanciou do escândalo postando um tuíte: “O lançamento do token e a criação do mercado foram inteiramente administrados pela Kelsier Ventures, representada por Hayden Davis, os iniciadores do projeto.” Por sua vez, Hayden Mark Davis, o “assessor” e responsável por fornecer a infraestrutura tecnológica para o lançamento do $Libra, deu uma entrevista onde garantiu que o lançamento do token foi “um plano que deu muito errado, a nível presidencial” e disse ter “todo o dinheiro” para a operação; mas ele apontou a Casa Rosada por tentar se dissociar de $Libra. “Até que eu tenha uma resposta de Javier Milei e sua equipe, não entregarei o dinheiro. “É por isso que lhe dei uma janela de 48 horas”, acrescentou, “a minha vida está em perigo”. Um álibi que contradiz a versão oficial do governo.
A verdade é que em 19 de outubro de 2024, o presidente se reuniu com Julián Peh, CEO da empresa Kip Protocol, e Mauricio Novelli, sócio da Tech Forum SRL, com participação do porta-voz presidencial Manuel Adorni. Milei e Reidel , Chefe de Gabinete do Conselho de Assessores do Presidente, foram palestrantes no evento, que foi foco de diversas controvérsias. Um dos motivos foi que a empresa comercial que servia de suporte, a Tech Forum SRL, não tinha nem dois meses de existência. O outro motivo pelo qual o evento despertou suspeitas foi a presença de Manuel Terrones Godoy, sócio da Novelli na Tech Forum SRL, que foi acusado de repetidas fraudes digitais. Há relatos da grande frequência do dono da Novelli na Casa Rosada.
Uma das hipóteses sobre o destino das possíveis propinas pagas para que o presidente Milei apoiasse o golpe da criptomoeda $LIBRA leva em várias direções até Agustín Laje, que dirige a fundação fascista El Faro , instrumento usado para arrecadar fundos para a campanha deste ano. O empresário Hayden Davis participou de um dos encontros de Novelli com Karina Milei na Casa Rosada em julho de 2024 e retornou há duas semanas, em 30 de janeiro, para se encontrar com o presidente. O passado condena Milei: ele confirmou ter recebido dinheiro para promover em 2022 a moeda virtual CoinX, e que acabou enganando milhares de argentinos.
Na Argentina o Presidente pode roubar e nada ser feito?
O que Milei fez não pode ter outro nome: roubo. Poucos dias atrás, Milei teve a coragem de reduzir a idade mínima para a pessoa poder ter “carteiras digitais” : 13 anos. Quer dizer que antes de poder trabalhar a criança pode especular com cripto moedas?
A Argentina está diante de um desafio à sua própria existência como país se não criar um vigoroso movimento de massas capaz de impedir a continuidade do Governo criminoso de um louco que assumiu o poder nesse país. Como se não bastassem as reformas ultra neoliberais para criar uma situação de destruição do país e da vida dos argentinos, agora temos um presidente que leva seus concidadãos a enormes prejuízos e lucra também enormemente com essa operação com criptomoedas. O impeachment deve ser o começo, somado com decisões judiciais que encarcerem esse louco por pelo menos 30 anos. E aí, como em Gaza, vai começar um longo período de reconstrução do país, primeiro com a remoção de todos os fascistas do governo e do Congresso, depois com um governo de reconstrução nacional. Caso isso não se dê, pior para a burguesia argentina e o imperialismo porque o país se dirigirá para uma situação pré-revolucionária. Não há a mínima possibilidade de sobrevivência de um país nessas condições. É de se questionar se até mesmo o FMI concederá um novo empréstimo a um governo desonesto e ilegítimo como o de Milei.
Milei e sua gang enfrentam mais de uma centena de queixas criminais
Já existem pelo menos 112 queixas criminais relacionadas ao golpe da criptomoeda $Libra. De acordo com fontes judiciais 111 queixas digitais foram registradas em vários tribunais federais e uma queixa presencial em uma delegacia de polícia.
O caso geral está sob a responsabilidade juíza federal María Servini, chefe do Tribunal Federal Penal e Correcional nº 1. A Procuradoria Nacional de Assuntos Criminais e Correcionais Federais nº 3, a cargo de Eduardo Taiano, fica encarregada de realizar a investigação.
O promotor terá que determinar, a partir dessa cascata de denúncias, quantos de todos os crimes que possam caber a Milei e outros membros do Governo formarão a base de uma investigação e denúncia. Por outro lado, escritórios de advocacia internacionais especializados no mundo “cripto” também estão preparando ações judiciais massivas contra Milei.
Se desta vez o Judiciário agir como deve e não como geralmente age, deixando de responsabilizar Milei, terá que inventar algo muito sobrenatural, pois o presidente argentino agiu em flagrante delito e nada deve impedi-lo de ser processado por crimes relacionados a esse crime internacional. A gangue de Milei, sua irmã e secretária-geral da Presidência, Karina Milei, o porta-voz presidencial Manuel Adorni, o diretor da fascista Fundação Faro Agustín Laje, Francisco Caputo, coordenador daquela fundação e irmão de Santiago Caputo e Mauricio Novelli, empresário e conselheiro do Presidente também deverão ser processados e presos. Não podemos esquecer os “donos” da $Libra Julian Peh, (CEO da Kip Protocol) e Hayden Davis (da Kelsier Ventures) que também receberão a devida punição.
Os defensores de Milei alegam que “um simples tweet” não poderia ser um ato criminoso. A verdade, no entanto, é que a diferença entre uma faca que é usada para cortar algo e que é usada para matar alguém é a mesma entre um tweet que incita os cidadãos em agirem contra si próprios e outro que apenas veicula um meme. O Código Penal faz sempre esta distinção, já que qualquer meio pode ser usado para cometer um crime, com poucas exceções.
Os defensores de Milei, de uma forma ou de outra, ideológica e politicamente alinhados com o governo alegam que não haveria crime, mas o mero exercício de seu “direito constitucional de se expressar livremente”. É a mesma liberdade que alguém tem de gritar “fogo” em um auditório de cinema lotado.
Obviamente, a maior parte das mais de uma centena de queixas-crime já apresentadas acusa Milei de ter cometido vários crimes, a começar pela promoção de um negócio privado a partir da sua posição de chefe de Estado. As acusações chegam ao ponto de atribuir ao próprio presidente algum tipo de ganho pessoal com o golpe $Libra. É por isso que alguns dos crimes de que é acusado são “associação ilícita”, “fraude”, “negociações incompatíveis com cargos públicos”, etc.
Ao mesmo tempo, várias apresentações parlamentares de setores da oposição estão em andamento, desde pedidos de interpelação até alguns pedidos de impeachment de Milei. Das bancadas do PTS-Frente de Esquerda foi anunciado que pedirão a Milei que dê explicações públicas no Congresso, transmitidas pela televisão nacional, para que todo o país saiba o que aconteceu. Sem dúvida, a primeira coisa que deve ser feita é expor as mentiras e enganos do Governo, combatendo a tentativa de dissociá-lo de qualquer conduta ilegal. Os trabalhadores devem saber o que aconteceu e qual a responsabilidade dos funcionários.
Este escândalo reafirma a necessidade de organizar a resistência e preparar o caminho para a luta até que o governo seja derrotado em seu plano geral de austeridade e fome contra a população. A greve nacional por prazo indeterminado e um plano de luta que envolva a derrubada do Governo são cada vez mais necessários. Não há mais dúvida que é preciso agitar a palavra de ordem “Fora Milei! Esta crise do governo é um importante ponto de apoio para todo o povo argentino, em especial os trabalhadores, aqueles que buscam enfrentar o maior golpe, que é o próprio experimento “libertário”. Fora Milei e todos os fascistas, CARAJO!