HISTÓRIA DA PALESTINA

Ahmad Hilmi Pasha Abd al-Baqi, fundador do Banco Árabe

Ahmad Hilmi Paxá Abd al-Baqi uniu a luta política e econômica na resistência à ocupação sionista, criando bancos, fundos e projetos para proteger as terras palestinas

Nascido em Saida, no atual Líbano, Ahmad Hilmi Paxá Abd al-Baqi foi uma das figuras centrais da luta nacional palestina contra o imperialismo britânico e a colonização sionista ao longo da primeira metade do século XX. Filho de um oficial do exército otomano, estudou em Nablus e depois em Istambul, de onde retornou para servir como diretor de terras estatais em províncias do atual Iraque. Durante a Primeira Guerra Mundial, lutou ao lado do exército otomano contra a ofensiva britânica.

A militância nacionalista de Abd al-Baqi começou cedo, como integrante do Partido da Independência Árabe, expressão política da sociedade secreta pan-arabista al-Fatat. Em 1919, foi nomeado diretor-geral do Ministério das Finanças do governo do Emir Faisal em Damasco, sendo posteriormente exilado pelos britânicos por sua atuação contra o mandato francês na Síria.

Teve papel relevante na Palestina durante o período do Mandato Britânico, atuando como inspetor-geral dos bens religiosos islâmicos (waqf), por convite de Haj Amin al-Husseini, dirigente do Conselho Supremo Islâmico. Abd al-Baqi esteve à frente de comitês de ajuda às vítimas dos massacres de 1929 e participou ativamente da defesa dos locais sagrados muçulmanos durante a Revolta de al-Buraq.

Mas sua maior contribuição foi no campo econômico: fundou, ao lado de Abd al-Hamid Shuman, o Banco Árabe, que viria a ser um dos principais instrumentos da resistência econômica ao avanço sionista. Criou também o Banco Agrícola, o Banco Nacional Árabe, o Fundo Nacional Árabe e o Projeto Dunam, cujo objetivo era garantir a posse da terra ao camponês palestino, ameaçado pelo confisco promovido pelas agências sionistas com apoio da administração colonial britânica.

Participou do Congresso Pan-Islâmico de 1931, foi presidente honorário da Câmara de Comércio de Jerusalém e organizou uma importante exposição industrial árabe em 1933, em contraposição à feira organizada pelo movimento sionista no ano anterior. Em 1936, com a formação do Alto Comitê Árabe — a principal organização política da revolta anticolonial —, foi convidado a integrar sua direção. No ano seguinte, após o assassinato do comissário britânico de Nazaré, foi exilado às Ilhas Seychelles junto a outros dirigentes palestinos.

Mesmo perseguido pelas potências coloniais, Abd al-Baqi manteve sua atuação política. Participou da Conferência da Mesa Redonda em Londres, em 1939, e fundou novamente o Fundo Nacional Árabe em 1943, ao lado de outras lideranças históricas. Após a fracassada tentativa de reorganizar o Alto Comitê Árabe entre 1945 e 1946, a Liga Árabe o incluiu na nova composição do comitê, em Bludan.

Foi um dos únicos dirigentes a permanecer em Jerusalém após a aprovação do plano de partilha da Palestina pela ONU, liderando a defesa da cidade contra os ataques sionistas. Em 1948, o rei Abdullah, da Jordânia, o nomeou governador militar da capital palestina. No mesmo ano, foi designado primeiro-ministro do Governo de Toda a Palestina, estabelecido em Gaza como expressão da soberania palestina frente à criação do Estado sionista.

Ahmad Hilmi Paxá Abd al-Baqi foi um patriota exemplar. De origem albanesa, formação otomana e identidade árabe-palestina, colocou seus conhecimentos, recursos e energia a serviço da causa nacional. Sua trajetória é um testemunho da luta ininterrupta do povo palestino contra o colonialismo e pela autodeterminação. Morreu no exílio, no Líbano, em 1963, mas foi enterrado em Jerusalém, cidade cuja defesa marcou profundamente sua vida e sua contribuição à história da Palestina.

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