Cerca de 500 famílias do acampamento 15 de Abril, ligado ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), realizaram uma manifestação na última segunda-feira (7) na cidade de Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro. O ato, às margens da BR-101, pressionou o governo federal a concluir o processo de adjudicação de terras em tramitação no Incra-RJ, destinando-as à reforma agrária. Há um ano, essas famílias vivem em lonas, reivindicando áreas controladas pela Cooperativa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (COAGRO).
As terras em questão pertencem à COAGRO, presidida pelo vice-prefeito de Campos, Frederico Paes (MDB), e acumulam dívidas de centenas de milhões de reais, incluindo débitos previdenciários, multas trabalhistas e FGTS não pagos. Pela legislação brasileira, como a Lei nº 8.629/1993, áreas improdutivas e endividadas podem ser destinadas à posse pública pela União para fins de reforma agrária.
“É urgente que o governo passe estas terras improdutivas e endividadas para as famílias que vão produzir alimentos para a mesa dos brasileiros. Estamos denunciando essa lentidão em avançar na reforma agrária. Ainda temos 100 mil famílias acampadas em todo o Brasil. A reforma agrária popular é nossa alternativa para combater a fome, a alta dos preços e a crise ambiental”, declarou a dirigente nacional do MST, Eró Silva.
A mobilização em Campos integra as ações do Abril Vermelho, que neste ano marca o início de uma jornada intensa do MST. O movimento anunciou pelo menos duas ocupações já em curso, uma em Pernambuco e outra em Minas Gerais, e planeja 60 ações até 17 de abril, entre ocupações e protestos. Insatisfeito com o desempenho do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, o MST promete realizar “a maior jornada dos últimos anos”. Segundo dados do Incra, em 2024, apenas 12 assentamentos foram criados no país até outubro, contrastando com as 100 mil famílias ainda acampadas, conforme o movimento.
O Abril Vermelho tem origem no Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996, no Pará. Na ocasião, a Polícia Militar assassinou 21 trabalhadores sem terra que lutavam por reforma agrária, em um dos episódios mais violentos da história do MST. O crime, que completa 29 anos em 2025, impulsionou a criação da campanha anual para lembrar a luta pela terra e cobrar políticas públicas contra a concentração fundiária.