Poeta, jurista e militante, Abd al-Karim al-Karmi — conhecido pelo pseudônimo Abu Salma — foi membro fundador da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e teve papel destacado na luta pela autodeterminação do povo palestino, tanto no plano interno quanto no terreno da solidariedade internacional.
Nascido na cidade de Tulcarém, na Palestina, al-Karmi era filho do xeque Sa‘id e cresceu em uma família numerosa, com nove meio-irmãos: Ahmad Shakir, Hasan, Yusuf, Mahmud, Hussein, Abd al-Ghani, Abdullah, Nabhan e Nabih. Seu percurso educacional teve início na própria cidade natal e prosseguiu em Damasco, na Escola Sultan Zahir. Posteriormente, estudou em al-Salt, no então Emirado da Transjordânia, e concluiu o baccalauréat sírio no célebre Maktab Anbar, em Damasco, no ano de 1927.
Desde sua juventude, al-Karmi participou ativamente de mobilizações nacionalistas. Ainda estudante, engajou-se em greves e manifestações contra o imperialismo francês e britânico, como o protesto contra a visita de Lord Balfour a Damasco, em abril de 1925, e os atos em apoio à Revolta Nacional Síria, em julho do mesmo ano. Seu espírito combativo e nacionalista acompanharia toda sua vida, sempre aliado à produção poética e ao engajamento com as massas.
De volta à Palestina, em 1927, al-Karmi passou a lecionar nas escolas Umariyya e Rashidiyya, em Jerusalém, onde também estudou Direito nas chamadas Jerusalem Law Classes. Durante esse período, começou a publicar ensaios literários no jornal Mir’at al-Sharq, integrando, ao lado de Khalil al-Budairi e Ra’if Khuri, o grupo fundador da Liga da Pena (‘Usbat al-Qalam). Também teve participação em instituições culturais como a Associação de Jovens Cristãos e o Clube Ortodoxo Árabe de Jerusalém e Haifa, atuando nos círculos políticos e intelectuais da capital palestina.
Em meados dos anos 1930, publicou uma ode intitulada Monte al-Mukabir, ó Palestina, criticando duramente a construção do palácio do Alto Comissário britânico sobre o monte histórico. No poema, al-Karmi equiparava o edifício ao símbolo do despotismo europeu, a Bastilha, e denunciava o colonialismo britânico que usurpava não apenas a terra, mas também os símbolos nacionais palestinos. Em 1936, diante do apelo dos reis e príncipes árabes para que os palestinos encerrassem a greve geral contra o mandato britânico, al-Karmi respondeu com o poema A Chama da Poesia, uma contundente denúncia dos regimes árabes colaboracionistas. A repercussão do poema foi enorme e ele se tornou parte do repertório da Grande Revolta Palestina daquele ano.
Como consequência de sua atuação, foi demitido da escola Rashidiyya pelo governo britânico. Passou então a trabalhar na seção literária do Serviço de Radiodifusão da Palestina, sem abandonar seus estudos de Direito, que concluiu em 1941. Estabeleceu-se como advogado em Haifa, onde viveu até abril de 1948, quando a cidade caiu sob controle das forças sionistas durante a Nakba. Foi então forçado ao exílio, passando pelo Líbano e estabelecendo-se em Damasco, onde trabalhou como professor, funcionário do Ministério da Informação e, novamente, advogado.
No exílio, al-Karmi tornou-se uma figura de referência da resistência intelectual e cultural palestina. Participou do Congresso Nacional Palestino em Jerusalém, em 1964, ocasião em que foi fundada a OLP. Manteve-se como membro permanente dos congressos subsequentes, tornando-se um dos principais dirigentes culturais da organização. Representou a OLP em eventos como a fundação da Organização de Solidariedade Afro-Asiática, no Cairo, em 1964, e nas conferências da União de Escritores Afro-Asiáticos e do Conselho Mundial da Paz.
Em 1º de julho de 1979, al-Karmi foi agraciado com o Prêmio Lótus de Literatura, concedido pela União de Escritores Afro-Asiáticos e entregue pelo presidente de Angola. No mesmo ano, a OLP realizou uma grande homenagem em sua honra em Beirute, com a presença de dirigentes palestinos, intelectuais árabes e poetas vindos de diversos países.
No ano seguinte, foi eleito presidente da União Geral dos Escritores e Jornalistas Palestinos. Em viagem a Moscou, durante uma conferência de solidariedade, adoeceu gravemente. Transferido aos Estados Unidos para tratamento cirúrgico, faleceu em 11 de outubro de 1980. Seu corpo foi transportado a Damasco, onde foi sepultado com honras no Cemitério dos Mártires, em um cortejo que reuniu representantes oficiais e milhares de populares.
Abd al-Karim al-Karmi cultivou uma profunda amizade com os também poetas da resistência Ibrahim Tuqan e Abd al-Rahim Mahmud. Era conhecido por sua preocupação com a juventude, que considerava a principal esperança da libertação palestina. Sua poesia, combativa e sensível, soube articular os sentimentos populares de dor e revolta diante da ocupação com uma visão internacionalista da luta dos povos oprimidos.
Em 1990, a OLP concedeu-lhe, postumamente, a Medalha Jerusalém de Cultura, Artes e Literatura, em reconhecimento à sua contribuição inestimável à causa nacional palestina.