Nascido na vila de Beit Hanina, nos arredores de Jerusalém, Abd al-Hamid Shuman foi uma das figuras centrais da história econômica da Palestina. Filho de Ahmad Shuman, com irmãos de nome Isa, Musa e Yusuf, Abd al-Hamid interrompeu os estudos ainda jovem para trabalhar em pedreiras locais. Em 1911, partiu para os Estados Unidos, onde, com esforço pessoal, transformou-se em industrial do setor têxtil e destacou-se como militante social e patriota da causa árabe.
Nos Estados Unidos, Shuman não apenas prosperou no ramo do vestuário com uma fábrica em Nova Iorque, mas também financiou causas nacionalistas árabes, fundou o jornal Al-Dabbur e atuou na assistência a estudantes árabes e à imprensa em língua árabe. Adquiriu terras para um cemitério muçulmano e contribuiu com donativos para os movimentos de libertação da Palestina e da Síria.
De volta à Palestina em 1929, fundou o Banco Árabe com um capital inicial de 15 mil libras palestinas. Registrado oficialmente em 21 de maio de 1930, o banco tornou-se uma das instituições mais importantes da Palestina. Segundo palavras do próprio Shuman, a escolha do nome não fazia referência a si, à sua vila ou mesmo ao país, mas sim à “nação árabe, a grande pátria”.
Com o apoio de seu sogro, Ahmad Hilmi Abd al-Baqi, a instituição rapidamente expandiu-se, abrindo agências em várias cidades palestinas. Abd al-Hamid foi tesoureiro do Comitê Central de Ajuda às Vítimas Palestinas, criado após os Distúrbios de al-Buraq em 1929, e participou ativamente da organização do Partido Istiqlal, embora tenha se mantido fora da atuação partidária formal para dedicar-se integralmente ao banco.
Na Revolta de 1936, aderiu à resistência contra o mandato britânico, assinando proclamações em apoio à luta armada e representando Jerusalém em conferências das comissões nacionais. Foi preso duas vezes pelas autoridades britânicas — em 1936 e em 1938 —, sendo internado nos campos de Sarafand e Mazra‘a.
Mesmo diante da catástrofe de 1948, Shuman foi capaz de proteger os depósitos de milhares de palestinos e transferir a estrutura bancária para países árabes e estrangeiros. O Banco Árabe consolidou-se, desde então, como o principal instrumento financeiro do povo palestino em diáspora.
Faleceu em Karlovy Vary, na então Tchecoslováquia, e foi enterrado em Jerusalém, nas proximidades da Mesquita al-Aqsa. Abd al-Hamid deixou como legado o desejo de criação de uma fundação cultural voltada ao fomento da ciência, educação e artes no mundo árabe. Esse desejo foi concretizado por seu filho Abd al-Majid em 1978 com a criação da Fundação Abd al-Hamid Shuman, sediada em Amã, que mantém até hoje bibliotecas, centros de pesquisa e espaços culturais.
Homem de origem humilde, autodidata e profundamente comprometido com a causa nacional árabe, Abd al-Hamid Shuman tornou-se um dos pilares da resistência pela via econômica. Sua trajetória expressa a determinação de uma geração que, mesmo diante da ocupação e da tragédia nacional, organizou instituições duradouras em defesa da soberania Palestina.