O presidente Trump tem tentado demonstrar que a força bruta pode fazer a América grande novamente. No entanto, tentou enfrentar a antes vassala Colômbia, na questão de expulsão de imigrantes acorrentados e torturados e teve que recuar ligeirinho, antes que se criasse uma confusão total. No mesmo ritmo, provocou a Dinamarca com a possível invasão da Groenlândia e recebeu como resposta o aumento de inversão em armas pelo pequeno país europeu.
Mas a grande derrota de Trump se deu pelo enfrentamento entre sua força aparentemente bruta e a inteligência chinesa. Trump lançou um megalomaníaco projeto de investimentos de 500 bilhões de dólares no setor de IA, que promete tornar os EUA um gigante em tecnologia. Em pouco tempo levou um cheque mate da inteligência chinesa que fez derreter os mercados do setor de Inteligência artificial dos EUA.
Uma pequena empresa chinesa de inteligência artificial, a DeepSeek, criou uma família de grandes modelos de linguagem LLM. Em linguagem comum isto quer dizer que esta empresa conseguiu fazer mais e melhor o que fazem os gigantes de tecnologia como Microsoft, Google e Nvidia. A DeepSeek cujo nome significa pesquisar a fundo, foi fundada e financiada pelo fundo de capital de risco chinês High Flyer. Com 671 bilhões de parâmetros, que são os neurônios desta tecnologia, a versão mais recente de seus modelos de linguagem, DeepSeek-R1, está no mesmo nível de outras lançadas no ano passado por empresas ocidentais, como Qwen e OpenAI.
Mas não é só isso: há o aspecto econômico da invenção da empresa chinesa. Ao contrário das empresas norte-americanas, a DeepSeek chinesa publica todos seus sistemas em código grátis. Isto significa que qualquer pesquisador ou empresa em qualquer lugar do mundo pode usar, modificar e distribuir os sistemas sem restrições. É como se os EUA divulgassem todos os segredos de fabricação de um Iphone ou do sistema Windows para que todos pudessem produzir cópias sem pagar nada por isto.
Além disso, a empresa chinesa conseguiu fabricar seu modelo a um custo cem vezes menor que os ocidentais. O sistema da Deep Seek foi treinado em 55 dias com um conjunto de dados enorme a um custo muito menor que suas congêneres norte-americanas. E o melhor é que não pensa em vender seus modelos, pois está se dedicando exclusivamente à pesquisa científica.
O capitalismo fracassa diante da inteligência chinesa
O resultado da tremenda inovação trazida pela empresa chinesa caiu como uma bomba nos mercados ocidentais. Houve um verdadeiro colapso no mercado de inteligência artificial. Bilhões em investimentos de empresas de tecnologia ocidentais caíram de valor neste mercado e também nas próprias Bolsas de Valores, especialmente Meta/Facebook, Google e Microsoft. A razão é que se a empresa chinesa DeepSeek alcançou o mesmo desempenho destas empresas com um investimento mínimo, é sinal que elas não valem tanto assim.
O Projeto Stargate de Trump também pode acabar no lixo, junto com seu orçamento de US $ 500 bilhões. As empresas menores poderão competir com os grandes monopólios de tecnologia, sem gastar tanto.
A tecnologia chinesa mostrou que os chips de última geração não são necessários porque os antigos, muito mais baratos, ainda podem funcionar de forma muito eficaz, enquanto os novos são muito caros. E pior: todo mundo do setor reclama que os caríssimos e novíssimos chips Blackwell de última geração da empresa norte-americana Nvidia apresentam problemas graves. Toda esta situação levou grandes clientes, incluindo Microsoft, Amazon, Google e Meta, a cortar pedidos, afetando não apenas as vendas e a receita da Nvidia, mas também seus fornecedores.
China dribla os EUA
Os Estados Unidos fazem tudo para impedir a China de progredir economicamente. Submetem o país a um verdadeiro bloqueio econômico e Trump prepara sanções ainda maiores para impedir que ela possa ter chips e equipamentos que tenham alguma participação de empresas norte-americanas na sua produção.
A China está demonstrando que pode vencer a batalha da inteligência artificial, colocando a indústria ocidental em sérios problemas. A tecnologia chinesa será introduzida nos mercados ocidentais e não será possível impedir sua chegada com punições ou medidas repressivas. Ainda não descobriram um meio de impedir os cérebros humanos de avançar o pensamento com base nos ensinamentos chineses.
Como as melhores tecnologias e grátis são produzidas pela China, muitos desenvolvedores em todo o mundo vão elaborar seus sistemas aproveitando essas facilidades. Isso coloca a China como líder em pesquisa e desenvolvimento de Inteligência Artificial, derrotando os EUA também nesse campo.
ChatGPT Pro, produzido pela empresa norte-americana OpenAI, que em, inglês quer dizer Inteligência Artificial aberta , na verdade não é nada grátis. Ele é grátis para as consultas dos consumidores leigos em informática, geralmente baseadas em informações já disponíveis na Internet. Para uso profissional em criação de sistemas com base na tecnologia da empresa, os custos começam em cerca de US$ 200 por mês, o que reduz o mercado de usuários de inteligência artificial a uma pequena minoria da população.
Já a China baseia seus sistemas em uma linguagem de programação que é grátis em todo mundo: a Linux. Assim, tudo que for produzido com base nela não exige a propriedade industrial e as patentes, que são um obstáculo ao progresso. A ciência e a engenharia devem ser livres e gratuitas porque é o que favorece um desenvolvimento mais rápido. Em breve, a inteligência artificial será praticamente gratuita para todos na China.
A facilidade de uso do sistema da empresa chinesa DeepSeek não se limita ao código. A empresa reduziu o tamanho do modelo para configurações que podem ser executadas até mesmo em computadores desktop, abrindo as portas para que pequenos desenvolvedores e startups usem inteligência artificial avançada sem a necessidade de investir em grandes equipamentos de computação. Também para o usuário comum ele estará accessível até em celulares e poderá ser usado com um desempenho e eficiência maiores que o ChatGPT gratuito.
A inteligência artificial precisa estar sempre treinada
Os modelos de inteligência artificial são como os jogadores de futebol: eles só evoluem se são treinados todos os dias . É a parte invisível do produto, pois o torcedor só vê e cobra os resultados nos dias de grandes jogos nos estádios.
Isso também vale para a inteligência artificial. O treinamento tem que ser feito 24h por dia, 7 dias da semana. É essencial melhorar o produto, e o custo não é pequeno. É preciso recursos computacionais, energia, tempo e, acima de tudo, trabalho especializado. Os engenheiros são os treinadores da inteligência artificial. Eles ajustam modelos, melhoram sua precisão e minimizam erros.
As empresas ocidentais costumam usar supercomputadores com mais de 16.000 chips para treinar seus modelos. O DeepSeek-V3 conseguiu isso usando apenas 2.000 chips Nvidia.
Até o advento do DeepSeek, os altos custos de treinamento eram preocupantes, pois apenas algumas empresas com grandes recursos financeiros podiam desenvolver e manter os sistemas.
Nos EUA, os modelos de inteligência artificial estão se tornando cada vez mais complexos e exigem mais tempo e mais recursos. O custo de treiná-los também tem aumentado drasticamente. O treinamento da Gemini (Google) custou entre US$ 30 milhões e US$ 191 milhões, sem contar os salários, que podem representar até metade do custo total.
Por sua vez, o ChatGPT, na sua versão 4 ultrapassou US$ 100 milhões. Em comparação, o treinamento em modelos anteriores era muito mais barato. ChatGPT-3 custou entre 2 e 4 milhões em 2020, e o precursor da Gemini, PaLM, entre 3 e 12 milhões em 2022. O modelo R1 da DeepSeek, o mais recente, custou menos de US$ 6 milhões. As empresas de tecnologia dispararam no mercado de ações quando Trump anunciou seus gigantescos investimentos em inteligência artificial, apenas para cair logo em seguida, quando o fenômeno DeepSeek se espalhou na mídia especializada. O aplicativo de computador chinês começou a ser baixado massivamente em telefones celulares.
Os Estados Unidos queriam fechar os mercados para a tecnologia chinesa e sofreram um fracasso doloroso, comparável apenas ao voo do Sputnik em 1957. A diferença é que ninguém viajou no Sputnik, mas com o DeepSeek qualquer um pode literalmente entrar em órbita.
Como costuma acontecer, ainda mais interessante do que a façanha chinesa é a maneira como ela foi recebida, tanto por cientistas da computação quanto por economistas. Eles não esperavam isso, apesar de os chineses aplicarem o mesmo método desde a Revolução de 1949: pensar nas mudanças, divulgar as mudanças e revolucionar o mundo…
A inteligência chinesa sobe e as bolsas norte-americanas caem…
Vamos comparar as grandes empresas de tecnologia com o que está acontecendo com a inteligência artificial. Cinco anos após sua criação, o Google já era lucrativo. Em 2003, antes de abrir o capital, teve lucro líquido de mais de US$ 100 milhões. O Facebook demorou um pouco mais: sete anos e também estava em números positivos quando se preparava para abrir o capital.
Mas quase dez anos se passaram e a OpenAI prevê perdas de 44 bilhões de dólares entre 2023 e 2028, mesmo antes do furacão chinês. Até agora, suas receitas cresceram em um bom ritmo e podem chegar a 100.000 milhões de dólares até 2029. Mas não há lucros à vista.
As empresas capitalistas, como as empresas de tecnologia, são guiadas por lucros constantes e retumbantes, ou pelas expectativas de obtê-los. No caso da inteligência artificial, há somente expectativas, e isso levou a dívidas gigantescas. Muito provavelmente, elas nunca serão de pagas e, se o Estado não vier em socorro, eles afundarão retumbantemente. Os fatos falam por si: uma pequena empresa chinesa com menos de 200 trabalhadores ultrapassou outra, como o Google, que tem quase 200.000 e, claro, muitos mais recursos.
As consequências também serão óbvias: as grandes empresas de tecnologia não conseguirão pagar suas dívidas ou não conseguirão recuperar o dinheiro que investiram em inteligência artificial. O colapso da bolha tecnológica pode chegar a dois trilhões de dólares, arrastando para baixo empresas de energia, como a Siemens, que caiu quase 20% na bolsa de valores. Um dos casos mais preocupantes é o da fabricante de chips Nvidia, que apostou muito em novas arquiteturas e vai ficar sem clientes porque a inteligência artificial pode funcionar sem eles. A empresa perdeu 500 bilhões de dólares quando o preço de suas ações caiu 17%.
A DeepSeek foi acompanhada por outra empresa chinesa, a Moonshot, que acaba de anunciar o lançamento do Kimi k1.5, outro modelo de inteligência artificial de acesso gratuito com recursos também superiores aos modelos dos países ocidentais, como o ChatGPT-4. O próximo passo é que os chips fabricados pela Huawei sejam melhores que os da Nvidia. Seria o torpedo bem na linha d’água das sete maiores empresas de alta tecnologia dos EUA. Se os modelos chineses de inteligência artificial são melhores com chips obsoletos, superá-los pode ser esmagador com equipamentos ainda mais poderosos.
Trump, o valentão ficou de repente humilde e reconheceu o êxito chinês. “Eu li sobre a China e algumas empresas chinesas, uma em particular consegue criar de uma maneira mais rápida e muito mais barata de fazer IA [inteligência artificial], e isso é bom porque você não precisa gastar tanto dinheiro.” , afirmou à imprensa.
A diferença entre os subsídios do governo chinês e ocidental é que este último não consegue realmente ajudar as empresas. Os Estados Unidos nunca conseguirão arrecadar 500 bilhões de dólares para inteligência artificial e, de qualquer forma, as quedas no mercado de ações dos últimos dias aumentariam ainda mais o valor dos subsídios até atingir um número absurdo.
A questão militar
Uma questão que deve estar deixando o imperialismo preocupado é a repercussão desses avanços tecnológicos da China no campo militar. Tudo bem com a DeepSeek, que divulgou todos os seus modelos. Será? Não haverá uma parte destes modelos não publicados por ter aplicações militares? Isso não é teoria da conspiração. Porque está havendo uma mudança nos EUA em termos do que significa avanço tecnológico na área militar.
Os velhos gigantes de armas de todos os tempos (Lockheed Martin, Raytheon, Northrop Grumman, General Dynamics, L3Harris, Boeing), fazem parte do passado. O bastão chegou, as grandes empresas de tecnologia, como Google, Microsoft, Amazon, SpaceX é que estão entrando na disputa.
As novas empresas já estão envolvidas nos contratos de armas do Pentágono, o que explica a ascensão dessas empresas na bolsa de valores. Para substituir as velhas indústrias que fabricavam os porta-aviões, bombardeiros ou tanques de guerras passadas, é essencial expandir o capital.As empresas de tecnologia com interesses no setor de armas estão tentando abocanhar a maior parte do orçamento astronômico de defesa do governo dos EUA, que já está perto de US $ 1 trilhão.
O próximo passo é a monopolização. Palantir e Anduril, duas das maiores empresas de tecnologia de defesa, estavam atualmente negociando com uma dúzia de seus concorrentes para formar uma holding capaz de responder em uníssono às licitações do governo dos EUA, o que lhes permitiria quebrar o oligopólio dos ex-licitantes.
Entre as empresas presentes nas negociações estão a SpaceX, de Elon Musk, a OpenAI, criadora do ChatGPT, a Saronic, fabricante de barcos autônomos e a Scale AI, especialista em bancos de dados para inteligência artificial. “Estamos trabalhando juntos para criar uma nova geração de empresas de defesa”, concluiu um dos envolvidos no desenvolvimento da holding.
O desastroso caça F35 é uma amostra da velha indústria de guerra que os recém-chegados ao mercado, como Elon Musk, querem acabar. A relação preço-desempenho desses gigantescos aparatos de guerra é ruinosa. Pelo contrário, o papel da holding do Vale do Silício é fornecer ao Pentágono armas mais baratas e mais eficazes. Para uma guerra permanente, são necessárias empresas mais eficientes, capazes de baixar o preço das armas.
Isso explica por que neste mês o preço das ações da Palantir, empresa de análise de dados, disparou e as startups de tecnologia de defesa garantiram financiamento recorde este ano. Os especuladores estão apostando que estarão entre os vencedores porque Trump tem duas prioridades: por um lado, reduzir significativamente os gastos do governo e, por outro, gastar mais dinheiro em guerra e pesquisa espacial.
A Palantir agora está sendo negociada com maior valor em Wall Street do que a Lockheed Martin. A empresa foi cofundada por Peter Thiel, que inicialmente financiou a Anduril, uma empresa especializada em sistemas autônomos, inteligência artificial e tecnologias avançadas de defesa. A Anduril deu seus primeiros passos em 2017 e agora está avaliada em 14 bilhões de dólares. A SpaceX e a OpenAI, com avaliações de US$ 350 bilhões e US$ 157 bilhões, também participam do esforço militar. A SpaceX e a Palantir vêm devorando grandes contratos militares há anos, e muitos outros estão tentando seguir seus passos, especialmente aqueles que no futuro querem ter uma conexão com os chefes do Pentágono.
Musk e Thiel querem que suas empresas tenham sucesso juntas. Eles estão entre aqueles que há muito acreditam que a aquisição de equipamentos de defesa dos EUA é lenta, cara e muito distante dos mercados competitivos porque as licitações não são transparentes e é grande a influência de militares e lobistas das antigas empresas de armas.
O imperialismo começou mal nesta questão da Inteligência Artificial e com a evolução da indústria bélica para incorporar este avanço tecnológico, é possível que também não consiga acompanhar a evolução bélica da China em termos tecnológicos, como já consegue a Rússia com seus misseis hipersônicos. Nos próximos conflitos bélicos ter ou não ter um significativo avanço em Inteligência Artificial poderá ser equiparado a ter ou não ter a bomba nuclear, que passará a ser algo obsoleto daqui para frente. Para que investir bilhões em uma bomba que nunca atingirá o inimigo graças à sua eficiente defesa antimíssil comandada por Inteligência Artificial?