No texto Os esperneios de uma direita derrotada, o sociólogo e colunista Emir Sader, do Brasil 247, apresenta uma visão bastante otimista sobre o cenário político para as próximas eleições. Publicado em 30 de setembro, o artigo argumenta que a direita brasileira já estaria em uma posição de derrota, visível, por exemplo, na visita de Tarcísio a Bolsonaro, a primeira desde a condenação do ex-presidente, que coincidiu com a posse de Edson Fachin no Supremo Tribunal Federal (STF).
Sader sugere que a direita já “aceita a condenação de Bolsonaro” e que, tendo percebido que “a anistia é impossível constitucionalmente”, se divide entre os que ainda a defendem e os que buscam alternativas para reduzir as penas. Ele conclui que “o cenário é o da derrota da direita, que passa à defensiva”.
No entanto, a ideia de uma direita “derrotada” parece ser mais um desejo do que uma realidade. A anistia, por exemplo, não é inconstitucional; o que existe é uma interpretação contrária de juízes do STF que usam essa tese para bloquear o projeto. Além disso, a direita está dividida e em disputa para as próximas eleições, com figuras como Alexandre de Moraes – que condenou Bolsonaro – pertencendo a esse campo político. A burguesia, que trabalhou para tirar Bolsonaro de cena e abrir espaço para um candidato mais controlável, já se prepara para emplacar outro nome.
Outro ponto do texto de Sader é a suposta resignação da direita com a vitória de Lula. Ele cita a afirmação de Tarcísio de que irá se candidatar à reeleição em São Paulo, e não à presidência, para evitar “o pior cenário: ficar sem o governo de São Paulo e não conseguir a presidência da República”. Para Sader, a direita se “resignaria com a vitória de Lula para um quarto mandato” e “todos os eventuais pré-candidatos à presidência pela direita concentram seus olhares em 2030, depois do quarto mandato de Lula, quando acreditam que possam ter maiores possibilidades de ganhar”.
Essa interpretação, porém, é superficial e dá valor demais a fala de Tarcísio, que é, afinal de contas, um político. Sua fala sobre a reeleição em São Paulo, que já foi feita em outras ocasiões, pode ser vista como uma estratégia para ganhar a confiança da base bolsonarista. É sabido que ele é uma figura que se aproveitou da popularidade de Bolsonaro para se eleger e que tem um alinhamento mais próximo ao imperialismo do que ao bolsonarismo em si. Ele precisa evitar a imagem de oportunista que esperou a condenação de Bolsonaro para se lançar.
A visão de que a vitória de Lula é garantida e de que a direita esperará até 2030 é contradita pelo que se observa em outros países. O impedimento de Evo Morales na Bolívia e a condenação de Cristina Kirchner mostram que a burguesia não cederá espaço facilmente.





