Vaticano

A crise que levou Jorge Mario Bergoglio ao papado

Papa Francisco, erroneamente apresentado como "progressista", integrava uma ala liberal da Igreja Católica

A recente morte de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, deu margem a muita confusão em torno do significado político desta personagem no interior da Igreja Católica. Intelectuais da esquerda pequeno-burguesa lamentaram-se pela morte do papa “progressista”, “esquerdista” ou até mesmo “revolucionário”. A extrema direita, ressentida por uma posição simpática do Papa a algumas questões sociais, correram a comemorar a morte do papa “comunista”. Mas afinal, por que Bergoglio chegou ao papado?

Para responder a essa pergunta, é preciso remeter a questão aos anos anteriores à chegada de Francisco ao Vaticano.

O papado anterior ao de Francisco foi o de Joseph Ratzinger (Bento XVI), marcado por ser um dos únicos quatro papas de toda a história a ter renunciado ao mais alto cargo da Igreja Católica. A renúncia de Bento XVI expôs a impopularidade da ala mais conservadora. Ratzinger era um crítico das reformas postas em prática pelo Segundo Concílio do Vaticano, do qual participou como teólogo em 1962-1965. Elas buscavam modernizar a Igreja e encorajar o diálogo interreligioso. Entre as resoluções do Concílio estavam o abandono do latim como língua exclusiva de culto, bem como a adoção progressiva de trajes civis pelo clero.

“O concílio trouxe uma maior tolerância em relação aos progressos científicos; a posterior revogação da condenação de Galileu foi um gesto simbólico dessa nova atitude. As estruturas da Igreja modificaram-se parcialmente e abriu-se espaço para maior participação dos leigos, incluindo as mulheres, na vida da instituição” (Catolicismo e mundo contemporâneo, portal Hieros, 23/5/2009).

O Concílio da década de 1960, tal como a Igreja de conjunto ainda hoje, buscava dar resposta a um problema alarmante: a diminuição do número de fiéis, principalmente na Europa, o desprestígio da religião católica e a perda de influência sobre governos em diversas partes do mundo.

“O catolicismo está perdendo força na América Latina [mais de 425 milhões de católicos vivem na América Latina – quase 40% da população católica mundial. O continente é a região com mais católicos no mundo]. Em quatro décadas – entre 1970 e 2014 –, os católicos, que representavam 92% da população na região, agora são 69%, segundo pesquisa divulgada (…) pelo instituto Pew Research, de Washington, nos Estados Unidos. Nesse mesmo período, a proporção de protestantes passou de 4% para 19% da população (…) Também aumentou o número de pessoas sem filiação religiosa – que se declaram ateias, agnósticas ou nada em particular –, passando de 0% para 8%.” (Catolicismo perde força e um em cada cinco é protestante na América Latina, El País, 14/11/2014)

Em reação à política do Segundo Concílio, Bento XVI tomou uma série de medidas que aumentaram ainda mais as tensões no Vaticano. O passado nazista — Bento XVI integrou a juventude hitlerista — dificultou a relação com os judeus, bem como seu extremo conservadorismo. Declarações contra o Islã levaram a protestos e ataques a igrejas católicas no Oriente Médio e em outros países, causando inclusive a morte de uma freira na Somália. A suspensão da excomunhão de quatro bispos tradicionalistas, dos quais um negava o Holocausto, o indispôs com judeus e mesmo católicos. Causaram furor internacional suas declarações na África sobre o uso de camisinha, que só piorava as coisas no combate à AIDS.

Apesar do conservadorismo de Bento XVI ter causado uma crise na Igreja Católica, sua renúncia foi uma saída bastante peculiar encontrada pelo Vaticano. Joseph Ratzinger criou para si mesmo o título de “papa emérito”, uma função cujo objetivo era mediar as alas extrema direita e liberal dentro da Igreja. Esse esforço ficou evidente em vários momentos — em especial, na morte de Bento XVI.

Bergoglio chegou ao papado, assim, com a missão de acalmar a Igreja Católica após a bagunça causada por sua crescente ala de extrema direita.

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