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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Coluna

‘Vampetaço’, memes e inteligência artificial

Podemos ficar tranquilos: a inteligência artificial deve acabar com muitas atividades, mas não acabará com os memes e a irreverência

Na última semana, comentamos o lançamento da nova ferramenta da OpenAI, o SORA, modelo capaz de gerar vídeos curtos em resolução relativamente alta a partir de uma descrição textual. Um desenvolvimento inevitável dos geradores de imagem, como o próprio Dall-E da OpenAI, que já se encontra em sua terceira versão. Desde então, outro evento importante tomou conta do debate sobre inteligências artificiais: a nova versão do modelo do Google, o Gemini 1.5.

Os resultados são hilários. O comentarista político Michael Tracey pediu por imagens dos “pais fundadores” dos Estados Unidos em 1789 e recebeu uma coleção de imagens com homens e mulheres negros e indígenas. Esqueça Thomas Jefferson! Uma das minhas favoritas era a imagem de um papa indígena, gerada apenas a partir do prompt “crie a imagem de um papa”.

Isso é resultado de uma política deliberada do Google em relação aos seus modelos de inteligência artificial generativa. “Em linha com os nossos Princípios de IA e políticas de segurança robustas, garantimos que os nossos modelos são submetidos a extensos testes éticos e de segurança”, diz a postagem a respeito do Gemini 1.5 no blogue de desenvolvimento do Google. A ética, no caso, é a ética identitária que não aceita a história como ocorreu e está disposta a mudá-la retroativamente.

A essa altura, devem estar se perguntando o que isso teria a ver com o “vampetaço”, campanha de internautas brasileiros que envolve postagens de uma enxurrada de imagens do ensaio pornográfico do craque do Corinthians, ação que normalmente representa um ataque ao destinatário das imagens dado que Vampeta (algo que deveria estar implícito para qualquer um que já tenha visto o jogador, mas enfim).

Além do fracasso do Gemini, a última semana foi marcada por um “vampetaço” contra as autoridades sionistas, que destrataram não apenas o presidente Lula, após sua denúncia do genocídio em curso na Palestina, como todo o Brasil. As postagens do primeiro-ministro Benjamin Netaniahu atacando o Brasil estão, por exemplo, cheias de respostas de brasileiros com as imagens de Vampeta pelado, com suas partes cobertas por um “cessar-fogo” ou outras palavras de ordem contra o sionismo e o Estado de Israel.

A Internet está cheia de ações como essas. Apesar de ter um carinho especial pela criatividade brasileira, momentos de descontração como esse, com ou sem cunho político, são parte da cultura digital. Basta ver a onipresença dos memes. Assim como qualquer tipo de humor, o “vampetaço”, memes no geral, carregam consigo um certo conteúdo “ofensivo” como diriam os identitários. Finalmente, quando se ri, geralmente se ri de alguém.

Portanto, apesar da Internet estar recheada de conteúdo com essas características, e apesar dos modelos de inteligência artificial serem gerados com base no conteúdo gratuitamente disponível na Internet – inclusive as suas postagens, caro leitor -, o Gemini jamais seria capaz de participar de um “vampetaço”. Acreditem, eu tentei. Minha falta de aptidão para edição de imagens me fez tentar gerar uma imagem por lá, mas não tive sucesso.

O ChatGPT nem mesmo sabe definir um “vampetaço”. “Um “vampetaço” é um termo utilizado no futebol brasileiro para descrever um tipo de chute forte e alto, geralmente feito de longa distância. O termo ficou conhecido devido ao jogador de futebol Marcos André Batista Santos, conhecido como Vampeta, que tinha essa característica de chutar com força e precisão de longe”, diz o robô da OpenAI. O Gemini então, capaz de falsificar a história para obedecer à ética identitária, não deve nem poder saber quem é Vampeta, pois certamente esse é um dos jogadores de futebol que menos se adequa a essa doutrina.

A “inteligência artificial” que temos à nossa disposição é incapaz de criar humor, memes. Quer dizer, exceto caso o faça involuntariamente (estou rindo até agora do papa de cocar). Essa característica fortemente humana não pode ser imitada não por uma limitação tecnológica, mas por uma ação deliberada desses monopólios – acima de todos o Google – para impedir que o conteúdo gerado por seus modelos saia do script. Tente conversar sobre política com esses robôs para entender melhor do que estamos falando.

Se a semana de estreia do Gemini 1.5 servir de referência para o que está por vir, a inteligência artificial pode estar prestes a tornar obsoletas inúmeras profissões, mas certamente não irá tirar o trabalho dos humoristas. E nem o trabalho voluntário dos internautas, incansáveis em sua capacidade de criar memes.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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