O candidato à prefeitura de São Paulo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Guilherme Boulos, defendeu, em entrevista ao portal My News, a internação compulsória de dependentes químicos, em especial dos miseráveis que se amontoam na região da Cracolândia, no Centro de capital paulista. Segundo o psolista, “nenhuma pessoa que está viciada, ainda mais no crack, que é uma droga pesadíssima, vai até o CAPS pegar uma senha, esperar, marcar uma consulta para depois de um mês. Isso não existe”.
Defendida por expoentes da direita dita “civilizada”, como o prefeito carioca Eduardo Paes (PSD), até membros da extrema direita como o ex-governador paulista João Doria (PSDB) e o ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro (PL), a internação compulsória é uma forma de encarceramento extra-oficial, uma vez que autoriza a internação de um cidadão para tratamento do vício em drogas por determinação de um juiz, à revelia do paciente ou de autorização familiar. Ciente do caráter não apenas direitista, mas abertamente bolsonarista da selvageria repressiva que defende, o pré-candidato do PSOL procura atenuar sua política, adocicando-a:
“Hoje se faz todo um debate, muitas vezes artificial, em torno da internação compulsória. Sabe por quê? Porque no tema da internação compulsória, qual caso é internação? Qual caso é hospital? Qual caso é redução de danos? Essa definição não pode ser de um prefeito. Essa definição é do profissional”.
O psolista continua defendendo a medida bolsonarista, acreditando ser diferente de seus “opositores” (isto é, o atual prefeito Ricardo Nunes e Bolsonaro), por atribuir critérios técnicos, apolíticos ao poder de aplicar a pena de internação compulsória: “se seu filho, sua filha, está com problema de saúde mental, você ia mandar para o Ricardo Nunes decidir o que ele vai fazer? Não. Você vai mandar para um psiquiatra, para um psicólogo. Então, a definição das formas de tratamento, ela precisa ser feita pelo profissional qualificado. E internação, no limite, é, sim, uma alternativa”.
Aqui, deve-se compreender concretamente quem é o “profissional qualificado”, com a responsabilidade de determinar quem será forçado ao tratamento contra as drogas. Colocado abstratamente, um incauto poderia supor que um ser de luz, totalmente desprovido de interesses mundanos seria o tal “profissional” a decidir quem será submetido a um determinado tratamento, à revelia de sua própria vontade ou de autorização familiar. No mundo real, segundo a lei aprovada por Jair Bolsonaro (PL), a “alternativa” defendida por Boulos e também pelo ex-presidente fascista é clara:
“Internação involuntária: aquela que se dá, sem o consentimento do dependente, a pedido de familiar ou do responsável legal ou, na absoluta falta deste, de servidor público da área de saúde, da assistência social ou dos órgãos públicos integrantes do Sisnad, com exceção de servidores da área de segurança pública, que constate a existência de motivos que justifiquem a medida.” (Art. 23-A, § 3º, inc. II da Lei n.º 13.840/2019).
Onde Boulos viu que a lei supracitada atribui a Ricardo Nunes o papel de “decidir” pela internação compulsória ou a qualquer outro agente eleito, é um mistério, mas é explícito que a política do postulante ao governo municipal da principal cidade da América Latina, fora o fraseado destinado a enganar sobretudo a classe média esquerdista, é exatamente o mesmo de Bolsonaro. Para a burguesia, é desnecessário que a lei estabeleça a um carrasco notório o papel de determinar quem vai ou não ser forçado à internação.
Uma vez estabelecida a liberação, médicos como os que se mobilizaram contra a vinda de profissionais de saúde cubanos ao País, os que se recusam a realizar abortos mesmo dentro da lei e cuja entidade de classe persegue quem o faz é que comporão a categoria do “profissional qualificado” defendido por Boulos. Juízes como Marcelo Bretas, Sergio Moro, Wilson Witzel, Alexandre de Moraes e um sem número de pares analisarão os pedidos formulados, sentenciando massas de miseráveis a um “tratamento” forçado.
Tudo sob os aplausos de Guilherme Boulos, dito homem de esquerda, cujas tendências fascistas escancaram-se vez por outra, como na defesa de uma política repugnante para o problema das milhares de pessoas destroçadas por um sistema econômico parasitário e em franca decadência, que, em sua crise terminal, empurra um número crescente de elementos mais pobres da classe trabalhadora à miséria, às drogas e à marginalidade. Bem medido, bem posto, Boulos revela-se tão perigoso para os mendigos quanto os direitistas que diz combater.