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Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Coluna

Uma obra de arte interrompida – 30 anos da morte de Dener

Naquele acidente de carro no Rio de Janeiro pereceu, talvez, a mais promissora esperança do futebol brasileiro

Há exatos 30 anos, no dia 19 de abril de 1994, o mundo perdia um promissor artista da bola, Dener Augusto de Sousa, ou simplesmente Dener – no futebol, os gênios costumam ter um nome só porque eles se bastam por si só.

Nascido em São Paulo, em 2 de abril de 1971, Dener jogou pela Portuguesa, Grêmio e Vasco, além de uma convocação para a Seleção. Para a Lusa, deu o título da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1991. De família muito pobre, chegou a ser detido ainda quando menor de idade. É um típico artista da bola brasileiro.

Eu tinha nove anos incompletos, idade em que o futebol já começa a moldar o caráter emocional do brasileiro. Por isso lembro muito bem do momento em que recebi a notícia da morte do jogador, que tinha recém completado 23 anos. Para ser preciso, lembro mais da sensação que me causou a notícia; era como perder uma partida de final de campeonato, daquelas que você tem certeza que vai ganhar porque o seu time é muito superior. Não é só a derrota, é aquela sensação de injustiça, de desperdício de tudo o que de belo foi feito até ali. E Dener, com apenas 23 anos, já tinha enchido os nossos olhos com a beleza da sua arte.

Estávamos, também, às vésperas da Copa do Mundo. O Brasil estava desacreditado, 24 anos na “fila”, e Dener podia ser o Pelé de nossa geração, aquele que entraria em campo e desmontaria as seleções adversárias. Ao menos fomos tetra-campeões aquele ano, mesmo sem Dener, justiça foi feita em nome do santo futebol arte.

Os puristas, acadêmicos e pretensos eruditos que me perdoem, mas comparo a perda de Dener com a de um artista genial que se vai, deixando poucas, mas grandiosas obras.

No romantismo brasileiro, temos o caso dos poetas da segunda geração: Álvares de Azevedo morreu com 20 anos, Casimiro de Abreu, com 21; da terceira geração, Castro Alves morreu com 24. Todos eles deixaram uma obra, senão vasta em todo o potencial que tinham caso vivessem mais anos, ao menos em quantidade o suficiente para o deleite das gerações futuras.

Mas foi a tragédia na vida de Manoel Antônio de Almeida o que mais me fez lembrar de Dener. Em sua História da Literatura Brasileira, José Veríssimo afirma que, com a morte do escritor de Memórias de um sargento de milícias num naufrágio, em 1861, aos 30 anos, indo de viagem para Campos, “naufragou a talvez mais promissora esperança do romance brasileiro”. Almeida deixou apenas esse romance, uma obra-prima da nossa literatura, inovadora e avançada para a época.

Outros gênios do futebol arte brasileiro apareceram e aparecerão, mas nunca saberemos exatamente onde Dener poderia chegar. Resta-nos assistir ao que ficou registrado de sua arte, um jogador habilidoso, leve, elástico, criativo, rápido. Ele reunia todas as principais características dos gênios da bola. E enchia os nossos olhos, os meus olhos de menino, que aprendia o que era o futebol arte, com a beleza de suas jogadas.

Naquele acidente de carro no Rio de Janeiro pereceu, talvez, a mais promissora esperança do futebol brasileiro naquele momento: Dener.

Dener - Golaço contra o Santos - Narração Silvio Luiz - 1993
DENER GOLAÇO   PORTUGUESA 1X0 INTER DE LIMEIRA   CAMP PAULISTA 13/11/1991

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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