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Irã

Um comunista pode e deve apoiar grupos religiosos que lutam

Os marxistas ensinaram que a luta deve ser feita com todos aqueles que que estejam dispostos a enfrentar o imperialismo

Um vídeo no YouTube de Marcelo Andrade tenta questionar o apoio do PCO ao Irã. Com o título de Comunistas apoiam um ditador teocrata!, Andrade tenta apresentar uma contradição entre ser comunista e defender um governo de tipo religioso. Vejamos os argumentos contidos no vídeo:

Logo no início, Marcelo Andrade pergunta: “a religião não era o ópio do povo?”. Mais adiante, ele afirma que “Marx deixou bem claro o seu ódio contra a religião. Era materialista fanático“, além disso, segundo Andrade, Marx “deixou claríssimo” que “não dá para harmonizar religião com marxismo”.

Logo no início, Andrade mostra que não entende nada de marxismo. Isso porque ele não sabe exatamente o que Marx queria dizer quando comparou a religião ao ópio. Para isso, ao invés de repetir a formulação de censo-comum, como faz Marcelo Andrade, busquemos a frase em sua formulação original:

“A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo” (Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, Karl Marx).

Segundo Marx, portanto, a religião tem dois sentidos: 1) expressa a miséria social e econômica, a “miséria real”, como ele diz; 2) é um protesto contra essa miséria. Mais ainda, é o “soluço” do oprimido. Para Marx, portanto, a religião é uma forma que o povo oprimido tem de enfrentar a realidade miserável do mundo. Nesse sentido, Marx não condena o povo e suas crenças, mas compreende a sua situação social e sua forma de enfrentá-la. O ópio é apenas uma metáfora para explicar essa fuga da realidade.

Marx acredita que, com a evolução da sociedade e com a luta de ideias, o povo vai substituir a religião, forma espiritual de protesto e de enfrentamento da realidade, por uma forma real, a luta política consciente, material.

Essa concepção de Marx, por si só, ao invés de refutar o apoio do PCO ao governo e ao povo iranianos, mostra o acerto dessa política. No caso do povo islâmico, eles estão lutando de fato contra os opressores. No caso da religião islâmica, não é um simples soluço, mas uma luta real. A população iraniana tem o direito de acreditar no que quiser. Uma coisa é a discussão de ideias, outra é a tentativa de impor sobre um povo uma determinada ideologia. O marxismo não defende isso.

Para apoiar a luta dos iranianos, não é necessário ser islâmico, nem marxista. Basta ser contra a opressão que o imperialismo impõe sobre o mundo.

Marx e os verdadeiros marxistas que vieram depois dele nunca pregaram o ódio a nenhum povo religioso. Fazer uma luta ideológica em defesa do materialismo como doutrina científica não tem nada a ver com perseguir religiões.

A ideia de que os comunistas perseguem as religiões é outra demostração de ignorância de Marcelo Andrade. A política defendida por Lênin, por exemplo, era a de liberdade total de culto. Os Bolcheviques, depois da revolução, defendiam que o povo tinha o direito de expressar suas crença.

São duas confusões expressas por Marcelo Andrade, não sabemos se por ignorância ou má intenção: 1) a liberdade de culto é muito diferente da instituição burocrática da religião que procura influir na política; 2) o stalinismo e regimes influenciados por ele podem ter perseguido a religião, mas isso é uma deturpação do que defende o marxismo, o stalinismo não tem nada de marxismo.

Em Cuba, por exemplo, há liberdade de culto, há igrejas e centros de religiões africanas. O povo cubano tem o pleno direito de expressar as suas crenças. Algo muito diferente de permitir que a cúpula burocrática da igreja tente influenciar politicamente o país.

Outra demostração de desconhecimento histórico de Marcelo Andrade. Os marxistas, em muitos casos, apoiaram grupos políticos com ideologia religiosa. Um exemplo é o apoio dado por Lênin aos revolucionários irlandeses que lutaram pela independência da Irlanda. A ideologia dominante entre os nacionalistas irlandeses era o catolicismo.

O apoio do PCO ao Irã, ao Hamas e a tantos grupos islâmicos do Eixo de Resistência não é nenhuma novidade na história do movimento operário e comunista.

Isso porque o marxismo não é sectário. Para o marxista, em primeiro lugar está a luta contra a burguesia, nesse caso, contra o imperialismo. É a luta dos oprimidos contra o inimigo comum. E o Irã é um aliado nessa luta.

Marcelo Andrade afirma que o PCO não está “nem um pouco preocupado com coerência”: “eles têm um grande inimigo, o ocidente, os EUA, o capitalismo. Qualquer um que lute ou tenha aversão ao capitalismo, aos EUA, eles vão se aliar e vão gostar“.

O que Marcelo Andrade chama de incoerência é, na verdade, a posição mais coerente que se pode tomar. Andrade, como todo direitista, é um dogmático e moralista. Em sua mente, as pessoas não devem se misturar com quem pensa diferente, se um ladrão entrar em sua casa e tiver um comunista disposto a ajudá-lo a se defender do ladrão, Marcelo Andrade vai rejeitar a ajuda, melhor deixar roubar do que me juntar a quem pensa diferente. No mundo real, as ideias da direita não têm fundamento e são, elas, sim, sem coerência.

O PCO luta contra o imperialismo e a opressão mundial, ou seja, contra os maiores ladrões que o mundo já viu. Sem abdicar daquilo que acredita, o PCO está disposto a se aliar com todos os que compartilham essa luta comum. Se realmente estão lutando, o PCO não pergunta a religião, a cor da pele, a ideologia. O PCO é totalmente coerente com essa política.

Por fim, Marcelo Andrade tenta difamar o regime iraniano como uma grande e horrenda ditadura, repetindo o que fala a imprensa imperialista contra o Irã. Basta-nos dizer que suas colocações são mentirosas e caluniosas. Um regime que está lutando contra o imperialismo certamente é muito mais democrático do que as supostas democracias que, nesse momento, estão prendendo estudantes apenas por se manifestarem, como é o caso dos Estados Unidos.

Mas uma coisa importante sobre o Irã é preciso dizer: da mesma maneira que o PCO não pergunta a religião daqueles que estão verdadeiramente lutando, os iranianos também não se interessam pela ideologia daqueles com os quais eles estão aliados. Essa é a prova de que o regime do Irã não é uma teocracia fanática que tem horror a qualquer um que não pense como eles.

Os iranianos estão juntos com os grupos xiitas que compartilham de suas crenças, mas também apoiam o Hamas, grupo sunita. No Eixo de Resistência, ou seja, aliados do Irã, há grupos que são marxistas, portanto, materialistas, como a FPLP e a FDLP.

Parece que quem é de fato um amante de uma teocracia, ou seja, de um mundo governado por uma ideologia única, uma única religião, é Marcelo Andrade.

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