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Coluna

Taiwan: uma ilha sob pressão do imperialismo

Taiwan vive um momento de desafios e oportunidades em seu desenvolvimento econômico, social e político, com destaque para as eleições presidenciais de 2024

Taiwan é uma ilha no leste da Ásia, com cerca de 23 milhões de habitantes, que é parte integrante, historicamente, do território chinês mas seu governo, patrocinado pelo imperialismo norte-americano, insiste em se autoproclamar uma república soberana e democrática. A China reivindica sua integração ao país, mas na situação concreta mantém a ilha com status de “província rebelde”. Essa disputa histórica tem gerado tensões militares, diplomáticas e comerciais entre Taiwan, China e Estados Unidos, que vem adotando ações de dominação da ilha, numa política cínica em que formalmente reconhece diplomaticamente a China, mas tenta tutelar Taiwan na prática. Além disso, Taiwan vive um momento de desafios e oportunidades em seu desenvolvimento econômico, social e político, com destaque para as eleições presidenciais de 2024, que devem definir o rumo do país nos próximos anos.

A estratégia do imperialismo para dominar Taiwan

A origem do conflito entre China e Taiwan remonta à guerra civil chinesa, que ocorreu entre 1927 e 1949, e que opôs o Partido Nacionalista (Kuomintang ou KMT), ligado à burguesia chinesa e o Partido Comunista (PCCh), com forte influência sobre as massas. Após a vitória dos comunistas, que fundaram a República Popular da China (RPC) em Pequim, o líder dos contrarrevolucionários Chiang Kai-shek e seus seguidores se refugiaram em Taiwan, onde estabeleceram a República da China (ROC), que continuou a reivindicar a soberania sobre todo o território chinês. Desde então, a China considera Taiwan como uma parte inseparável de seu território e não reconhece a legitimidade do governo da ilha, que por sua vez se considera um Estado independente e soberano.

Os Estados Unidos, que eram aliados do KMT durante a guerra civil, reconheceram inicialmente a ROC como o único governo legítimo da China e forneceram apoio militar e econômico a Taiwan. No entanto, na década de 1970, os EUA mudaram sua política externa e passaram a reconhecer a RPC como o único representante da China nas Nações Unidas e a estabelecer relações diplomáticas com Pequim, rompendo formalmente com Taipei. Ao mesmo tempo, os EUA mantiveram laços informais com Taiwan e aprovaram a Lei de Relações com Taiwan, que autoriza o fornecimento de armas defensivas e assistência de segurança à ilha, além de declarar que qualquer tentativa de alterar o status quo pela força seria uma ameaça à paz e à segurança na região.

Essa aparente ambiguidade nas relações entre os EUA, a China e Taiwan tem gerado uma situação de conflito latente no Estreito de Taiwan, que separa a ilha do continente. A China tem aumentado sua pressão militar, diplomática e econômica sobre Taiwan, realizando exercícios militares, enviando aviões e navios para a zona de defesa aérea e marítima da ilha, isolando-a internacionalmente e restringindo seu acesso a mercados e organizações internacionais. Os EUA, por sua vez, têm reforçado seu apoio a Taiwan, vendendo armas, enviando autoridades de alto nível, realizando operações de liberdade de navegação no Mar da China Meridional e aprovando leis que incentivam o intercâmbio e a cooperação em diversas áreas.

A disputa entre os EUA e a China em torno de Taiwan tem se intensificado nos últimos anos, em meio à rivalidade estratégica entre as duas maiores potências mundiais. A China vê Taiwan como uma questão de soberania e integridade territorial, que não admite interferência externa, e como um símbolo de seu ressurgimento como uma grande potência. Os EUA veem Taiwan como um instrumento importante para sua política de “contenção da China”. Ambos os países afirmam buscar uma solução pacífica para o impasse, mas não descartam o uso da força em caso de provocação ou agressão.

Como os EUA tem armado Taiwan

Uma das principais formas de dominação dos EUA sobre Taiwan é o fornecimento de armamentos para a ilha, que visa fortalecer sua capacidade de defesa e dissuasão contra uma possível agressão chinesa. Desde 1979, os EUA já venderam mais de US$ 50 bilhões em armas para Taiwan, incluindo caças, mísseis, tanques, navios, radares, helicópteros e sistemas de defesa aérea. Essas vendas são autorizadas pelo Congresso dos EUA, que tem o poder de aprovar ou rejeitar as propostas do Executivo, e são feitas com base na Lei de Relações com Taiwan, que estabelece que os EUA devem fornecer a Taiwan armas de caráter defensivo, de
acordo com as necessidades da ilha.

Em 2020, o governo Trump aprovou oito pacotes de vendas de armas para Taiwan, no valor total de US$ 5,1 bilhões, incluindo drones, mísseis antinavio, torpedos, minas, sistemas de artilharia e sistemas de comunicação. Em 2021, o governo Biden aprovou dois pacotes de vendas de armas para Taiwan, no valor total de US$ 750 milhões, incluindo peças de reposição para tanques, veículos de combate, armas pequenas e sistemas de armas de combate. Em 2022, além de treinamento de tropas, os EUA venderam U$ 14 bilhões em armamento a Taiwan e doaram outros U$ 80 milhões.

As vendas de armas dos EUA para Taiwan são vistas como um sinal de compromisso e solidariedade com a ilha, mas também como uma fonte de irritação e indignação para a China, que as considera uma violação do princípio de uma só China e uma interferência em seus assuntos internos. A China tem protestado e condenado as vendas de armas dos EUA para Taiwan, acusando-os de encorajar as forças separatistas na ilha e de minar a estabilidade e a paz na região. A China também tem imposto sanções a empresas e indivíduos dos EUA
envolvidos nas vendas de armas para Taiwan, além de aumentar sua pressão militar sobre a ilha.

O conflito entre o imperialismo norte-americano e a China

Pesar de um conflito em todas as dimensões políticas entre os EUA e a China há uma grande contradição no plano econômico pois a economia dos EUA está fortemente vinculada à da China o que se naturalmente cria áreas de cooperação e de competição, de convergência e de divergência, de diálogo e de confronto. Os dois países são as maiores potência econômicas do mundo, os maiores emissores de gases de efeito estufa, os maiores detentores de armas nucleares, os maiores consumidores de energia e os maiores parceiros comerciais um do outro. Eles também são os principais atores na governança global, tendo assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e participação em diversas organizações e fóruns internacionais. Eles compartilham interesses comuns em questões como a prevenção da proliferação nuclear, o combate ao terrorismo, a promoção da saúde global, a recuperação econômica, a mitigação das mudanças climáticas e a manutenção da paz e da segurança regionais e internacionais.

No entanto, os EUA , cujo capitalismo está em evidente declínio não admite a ascensão da China como grande potência industrial , tecnológica e militar que ultrapassa os EUA e vários aspectos cruciais da competição econômica e tecnológica. O imperialismo busca então acirrar os conflitos entre os dois países, usando de seu ainda grande poderio na economia mundial para colocar obstáculos à evolução da China, além de se colocar como uma grande democracia e defensor dos direitos humanos, caracterizando a China como uma ditadura repressiva e arbitrária. A China disputa a liderança e o poder na região Ásia-Pacífico e no mundo como um todo e desafia a hegemonia dos EUA buscando um papel mais proeminente e assertivo no cenário mundial.

O desempenho econômico e os problemas de Taiwan

A situação econômica de Taiwan tem evoluído positivamente, apesar das tensões políticas e militares com a China. Taiwan tem uma balança comercial superavitária, reservas internacionais elevadas e uma renda média per capita de US$ 35 mil. Em 2020, Taiwan foi um dos poucos países que cresceram durante a pandemia, registrando uma expansão de 2,98% do seu PIB, superando a China pela primeira vez em 30 anos. Taiwan enfrenta, no entanto, alguns desafios econômicos, como a dependência da China como parceiro comercial, a escassez de água e energia, a desigualdade social e o envelhecimento da população.

Os principais setores da economia de Taiwan são a indústria, os serviços e a agricultura. A indústria é o setor mais importante, representando cerca de 30% do PIB e 70% das exportações. Taiwan é uma potência tecnológica, que domina o mercado global de semicondutores e outros produtos de alta tecnologia, como eletrônica, comunicações, computação, biomedicina e energia verde. Os serviços são o segundo setor mais importante, representando cerca de 69% do PIB e 29% das exportações. Taiwan tem um setor de serviços diversificado, que inclui finanças, comércio, turismo, transporte, educação, saúde e cultura. A agricultura é o setor menos importante, representando cerca de 2% do PIB e 1% das exportações. Taiwan produz principalmente arroz, frutas, vegetais, chá, flores, peixes e aves.

Os principais parceiros de exportação de Taiwan são a China e Hong Kong (40%), países da ASEAN (18%), EUA (12%), Europa (9%) e Japão (7%).Taiwan também é um dos principais investidores na China continental, com cerca de 194 bilhões de dólares em projetos desde 1991. A China ainda depende de Taiwan para importar componentes eletrônicos de alta tecnologia, como semicondutores e produtos ópticos, embora hoje já produza estes componentes quase tão avançados como Taiwan. No entanto, a China também impõe sanções e restrições a alguns produtos de Taiwan, como alimentos, areia natural e equipamentos mecânicos, por motivos políticos e militares. A relação econômica entre a China e Taiwan é complexa e ambígua.

As eleições presidenciais e parlamentares de 2024

As eleições presidenciais e parlamentares de Taiwan, que ocorrerão em 13 de janeiro de 2024, será um momento decisivo para o futuro da ilha, que pode alterar a relação de submissão aos EUA e uma maior aproximação com a China, que consideraria esse fato uma grande vitória sobre os EUA . Nas eleições parlamentares um sistema eleitoral misto será utilizado para eleger os membros do Yuan Legislativo. O Yuan Legislativo é composto por 113 membros, dos quais 73 são eleitos por voto direto e 34 são eleitos por representação proporcional. Os outros seis membros são eleitos por votação única não transferível.

Nas eleições presidenciais os eleitores terão que escolher entre três candidatos, que representam visões diferentes sobre a identidade, a soberania e as relações externas de Taiwan. O candidato do governo atual, submisso aos EUA, é Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (DPP), que é o atual vice-presidente da República e presidente do partido. O partido enfrentou uma grande crise em 2022, ao perder importantes eleições para a oposição. Nestas eleições regionais, verificou-se uma vitória avassaladora dos nacionalistas face ao Partido Progressista Democrata. Assim, o KMT conquistou 13 das 21 autarquias a votação, incluindo a capital Taipei. O Partido Democrático Progressista apenas garantiu a vitória em 5 autarquias. As cidades de Taoyun, Keelung e Nova Taipei, cidades mais progressistas, foram também estas conquistadas pelo partido de Chiang, acentuando assim a desastrosa noite eleitoral para o DPP.Em função desta derrota , a atual presidente da República Tsai Ing-wen, pediu demissão da presidência do partido.

Lai é considerado um defensor da independência de Taiwan, mas tem moderado seu discurso para manter o status quo da ilha como uma nação soberana e democrática, mas que não deve declarar formalmente sua independência. Lai promete seguir a política externa da atual presidente Tsai Ing-wen, que busca fortalecer as relações com o imperialismo norte- americano e europeu . Lai também defende o desenvolvimento econômico sustentável, a inovação tecnológica, a justiça social e a reforma política de Taiwan.

O candidato da oposição é Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT), que é o atual prefeito de Nova Taipé, a segunda maior cidade de Taiwan. Hou é considerado um lider importante do KMT, que defende a reaproximação com a China, com base no Consenso de 1992, que reconhece a existência de uma só China. Hou propõe melhorar as relações econômicas, culturais e humanitárias com o continente, sendo considerado o candidato preferido pela China. Hou também defende a a revitalização da economia, a melhoria da qualidade de vida e a reforma administrativa de Taiwan.A principal proposta de Hou é reativar o Acordo de Comércio e Serviços através do Estreito de 2013, que pretende aproximar a economia de Taiwan e a da China.

O candidato de terceira via é Ko Wen-je, do Partido Popular de Taiwan (TPP), que é o ex-prefeito de Taipé, a capital e maior cidade de Taiwan. Ko é considerado um populista e um pragmático, que se posiciona como uma alternativa aos dois grandes partidos, que ele acusa de polarizar e paralisar a política de Taiwan. Ko propõe uma abordagem pragmática e flexível em relação à China, baseada na ideia de que “ambos os lados pertencem a uma só família”, mas sem aceitar o princípio de uma só China. Ko também defende a renovação política e social, a transparência e a participação pública, a diversificação econômica e a integração regional de Taiwan. Sua candidatura e sua negativa de se aliar com o Kuomitang, favorece a divisão de votos da oposição e a virtual vitória do candidato do governo.

De acordo com as últimas pesquisas de opinião, que não é possível de saber se são verdadeiras, Lai lidera a corrida presidencial, com cerca de 35% das intenções de voto, seguido por Hou, com 29%, e Ko, com 23%. No entanto, o cenário ainda pode mudar, dependendo de fatores como as manobras dos EUA para favorecer seu candidato preferido, a mobilização dos eleitores de oposição, que garantiram a vitória da oposição em 2023 e a possibilidade, muito difícil, de uma aliança entre os partidos da oposição. Caso ganhe o candidato preferido pela China, a eleição de 2024 poderá estabelecer uma nova derrota para imperialismo.

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