Este é um tópico gramatical bem simples: o substantivo coletivo é aquele que designa o conjunto de seres, mas tem a morfologia no singular. A “boiada” é o conjunto de bois, mas está no singular; não se diz “as boiada chegaram”, mas “a boiada chegou”.
Geralmente, quando se trata de descrever os substantivos coletivos, basta a lista deles e o assunto pode ser encerrado; no entanto, a partir desse tópico, podemos tratar de distinções importantes para o conhecimento das palavras. As palavras têm sentido e forma; seu sentido é o significado e sua forma é o funcionamento gramatical. A palavra “boiada”, por exemplo, tem sentido plural, mas a forma está singular; o sentido de “boiada” é grupo de bois que, por ser mais de um, é plural, contudo, a forma gramatical funciona no singular.
Isso é importante porque mostra que as palavras podem ser estudas quanto ao sentido e quanto à forma. O estudo do sentido chama-se semântica e o estudo da forma chama-se morfologia; os substantivos coletivos são, portanto, substantivos que têm a semântica no plural e a morfologia, no singular.
O conhecimento da morfologia é relevante porque, por meio dela, podemos estudar tópicos gramaticais tais quais as concordâncias verbal e nominal ou conjugação verbal, entre outros. As divergências entre semântica e morfologia não aparecem apenas no número, elas aparecem também no gênero: a palavra “mesa” está no gênero feminino, mas o sentido é neutro, pois “mesa” não tem sexo; do mesmo modo, a palavra “livro” tem morfologia no masculino, mas sentido neutro.
Essa discussão a respeito da morfologia do substantivo será tópico de colunas posteriores, quando poderemos desenvolvê-la melhor; por enquanto, vamos retornar aos substantivos coletivos. Usam-se os substantivos coletivos quando se pretende enfatizar o grupo e não, seus membros; quando se diz “a boiada chegou”, há ênfase na unidade do grupo, que não aparece em “os bois chegaram”, pois, embora parecidas, as duas orações têm significados distintos.
Enfim, em várias questões de língua, depois de entender, resta-nos somente decorar a matéria; o uso dos coletivos depende de vocabulário e, para conhecê-los, eles devem ser memorizados. Para tanto, segue uma pequena lista que, evidentemente, pode ser aumentada pela curiosidade do leitor por meio de consultas em gramáticas ou dicionários:
alcateia = lobos
arquipélago = ilhas
banca = examinadores
banda = músicos
bando = aves, malfeitores
cacho = bananas, uvas
cambada = caranguejos, chaves, malandros
cancioneiro = canções
caravana = viajantes, peregrinos, estudantes
cardume = peixes
constelação = estrelas
corja = ladrões
coro = cantores, anjos
elenco = atores
feixe = lenhas, capins
frota = navios, ônibus, taxis
legião = soldados, demônios
malta = desordeiros
manada = bois, búfalos, elefantes
matilha = cães
ninhada = pintos
plêiade = poetas, artistas
quadrilha = bandidos
ramalhete = flores
rebanho = ovelhas
vara = porcos
(as ilustrações desta coluna são poemas visuais de Fernando Aguiar)