Neste sábado (17) o general ucraniano Alexander Sirski ordenou que suas tropas se movimentassem da cidade de Advicca, localizada a dezenas de quilômetros de Donesk, capital de província russa de mesmo nome localizada no Donbas, para “linhas mais favoráveis”. “Com base na situação operacional em torno de Avdiivka, a fim de evitar o cerco e preservar a vida e a saúde dos soldados, decidi retirar as nossas unidades da cidade e passar para a defesa em linhas mais favoráveis”, anunciou o recém-apontado comandante em chefe das Forças Armadas ucranianas em suas redes sociais, segundo reporta o portal russo Russia Today.
As Forças Armadas russas trabalhavam pacientemente no cerco de seus adversários há meses, cientes de que a situação ucraniana era insustentável. Segundo tropas ucranianas na região, os ataques constantes nos últimos dias fizeram do front “muitas vezes mais infernal que as batalhas mais quentes dessa etapa da guerra”.
Um dia antes da debandada, o chefe das forças ucranianas na região havia informado que a situação estava “difícil, mas sob controle”. A debacle, porém, já havia sido anunciada pelos patrocinadores das Forças Armadas ucranianas: “Advivca está sob risco de cair sob controle russo”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, na última quinta-feira (15). Em menos de 48 horas o “risco” transformou-se numa “situação difícil” apenas para tornar-se um recuo para “linhas mais favoráveis”.
O presidente ucraniano, falando à Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, que acontece neste final de semana, disse que “de forma a evitar o cerco, foi decidido que se recuasse para outras posições”. Ele acrescentou, porém, que “isso não significa que as pessoas tenham recuado muitos quilômetros, e que a Rússia tenha capturado algo”. Em constante campanha financeira para efetivamente adiar sua inevitável derrota – ao custo de centenas de milhares de vidas ucranianas – Zelenski não pode deixar transparecer a situação real na frente de batalha.
“Infelizmente, manter a Ucrânia numa situação artifical de escassez de armas… permite a [o presidente russo Vladimir] Putin se adaptar à intensidade das hostilidades”, reforçou o presidente ucraniano, ecoando a campanha imperialista cada vez menos popular de envio de recursos à Ucrânia em sua guerra por procuração contra a Rússia. A situação é particularmente crítica nos Estados Unidos, principal patrocinador do conflito, onde o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Joshnson, continua se recusando a colocar em votação o projeto de lei que autoriza o envio de US$ 95 bilhões em auxílio militar à Ucrânia, Israel e Taiuã. “Nós continuaremos a exigir que, antes de cuidarmos de problemas ao redor do mundo, cuidemos dos nossos primeiro”, disse Johnson, referindo-se à recente crise imigratória que tomou conta da fronteira sul do país.
Advivca estava em disputa desde o início da guerra civil entre os fascistas ucranianos que se apoderaram do governo após golpe de Estado em 2014, e a minoria étnica russa que habita a região do Donbas, que fundaram as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, hoje incorporadas à Rússia.
“Não só vivi em Donetsk sob o bombardeio nazista vindo de Advivca durante quase dez anos, como minha primeira posição militar, em dezembro de 2014, foi em Iasinovataia, do outro lado da autoestrada Donetsk-Gorlovka de Advivca”, relata o voluntário norte-americano Russell Bentley, também conhecido por seu pseudônimo “Texas”, que luta ao lado da resistência do Donbas desde o início do conflito. Em artigo publicado pela agência de notícias Sputinik, continua: “Em 2016, eu estava em Advivca, quando as forças da República Popular do Donetsk (RPD) repeliram um avanço ucraniano no que era então a área residencial da ‘Zona Cinzenta’ de Advivca, no lado norte da autoestrada. Pouco depois da minha visita, toda a área residencial de Advivca foi arrasada pela artilharia ucraniana e, até recentemente, tudo a norte da autoestrada estava sob controlo do ‘Banderastão’ [em referência ao nacionalista ucraniano que colaborou com a ocupação nazista da União Soviética, Stepan Bandera]. No verão de 2017, servi na linha de frente da frente de Advivca. Um lado da rodovia era nosso (RPD), o outro lado pertencia aos ucranianos. Com um periscópio, eu podia ver bandeiras ucranianas tremulando a algumas centenas de metros de distância.”
A maioria dos bombardeios contra a população civil de Donetsk, ao longo dos últimos dez anos, vinha de Advivca. Numa posição mais recuada, as forças ucranianas podem passar a utilizar armas de grande poder destrutivo contra os civis russos, como o sistema de mísseis de longo alcance norte-americano, HIMARS. O custo político de tal atentado, porém, pode custar o pouco apoio que ainda resta ao esforço de guerra ucraniano dentre a população dos países imperialistas.
Há ainda outro problema. Sem recursos externos, o racionamento de munição torna-se cada vez mais necessário para o exército ucraniano. Representante do Departamento de Defesa dos Estados Unidos relatou que a derrota ucraniana em Advivca deu-se essencialmente por falta de munição. “Vemos isso como algo que poderá ser o prenúncio do que está para vir se não conseguirmos este financiamento suplementar — porque sem financiamento suplementar, não só não poderemos reabastecer as forças que estão corajosamente tentando defender Advivca, como também encontraremos muitos outros locais ao longo da linha de frente das tropas que estarão com poucos suprimentos de munição crítica”, relatou.
Com um conflito quente no Oriente Médio, um confronto iminente com a China e uma popularidade decrescente dentro de seus países, o apoio imperialista à Ucrânia pode estar com os dias contados. Talvez considerem, em breve, que os ucranianos tenham sangrado a Rússia o suficiente.