O Ansar Alá (chamados de Hutis pela imprensa burguesa), partido que governa o Iêmen, se torna cada vez mais popular conforme aumenta a guerra contra a Inglaterra, os Estados Unidos e “Israel”. Isso tem resultado em um dos avanços mais espetaculares de sua luta, uma enorme tendência de reunificação do país. O processo se acelerou muito nos últimos meses, desde o início da guerra contra o sionismo, e agora o sultão da região de Marib anunciou sua reaproximação com o Ansar Alá. O governo central então anunciou a reabertura da estrada Sana-Saruá-Marib, que estava fechada desde 2015.
A guerra de libertação nacional
Primeiro é preciso recapitular a guerra contra o imperialismo no Iêmen. O Ansar Alá, na esteira da primavera árabe, tomou o poder em 2014 por meio de uma guerrilha vitoriosa. O imperialismo reagiu organizando uma coalizão de governos árabes liderados pela Arábia Saudita e Emirados Árabes, assim se iniciou uma das guerras mais violentas do século XXI. Estava no Iêmen, antes do atual genocídio em Gaza, a maior crise humanitária do planeta. Uma consequência é que as regiões mais desérticas e menos populosas ficaram sob o controle de um governo fantoche dos sauditas, assim o país manteve dividido durante os últimos nove anos.
Uma trégua foi alcançada em 2022, quando o Iêmen conseguiu bombardear refinarias sauditas. Em 2023, o Irã realizou o acordo com os sauditas e isso deu iniciou a conversas de paz entre o Iêmen e seus vizinhos ao norte. Essas conversas, no entanto, ficaram em segundo plano com a guerra em Gaza. Mas se as conversas diplomáticas estão paradas, o que acontece no próprio Iêmen é muito diferente. As principais lideranças ligadas aos sauditas, tanto militares quanto tribais, estão cada vez mais se aliando ao Ansar Alá tamanha é a sua popularidade.
Por isso há agora as conversas e acordos entre o governo central do Ansar Alá e os poderes locais ligados aos sauditas. O governador em uma das províncias de Marib, Ali Maomé Taiman, ligado ao Ansar Alá, afirmou sobre a reabertura da estrada: “a iniciativa é um gesto de boa vontade da liderança da autoridade local… e é uma primeira etapa que será seguida por outras para abrir o restante das estradas”.
O processo de reunificação
Já o Sultão al-Arada, um importante líder tribal em Marib e membro do partido Islá apoiado pela Arábia Saudita, confirmou a iniciativa no mesmo dia. Ele afirmou: “em consulta com lideranças políticas e militares, foi estabelecido hoje um posto de controle de segurança na estrada que liga Marib e Sana [capital do Iêmen]”. E ainda acrescentou que a iniciativa de abrir a estrada foi discutida com a ONU. Ele ainda deixou claro seu desejo de que essa política se amplie. O portal Responsible Statecraft publicou em janeiro um relatório que indica que o partido Islá não apenas deu declarações em apoio ao Ansar Alá como também está fornecendo apoio material ao governo central.
O portal The Cradle divulgou que uma de suas fontes afirmou que essa iniciativa faz parte da reaproximação entre o Ansar Alá e o partido Islá. Ou seja, é uma aproximação entre as principais forças políticas que estão em guerra, um caminho direto para a unificação do país. Nas palavras dessa fonte: “o partido Islá controla [partes de] Marib. Eles têm se mostrado mais favoráveis ao Ansar Alá. Muitos membros do Islá anteriormente desertaram [para o Ansar Alá]. Agora, isso está ocorrendo no contexto do acordo de paz com a Arábia Saudita… Os sauditas não querem mais fazer parte dessa guerra”.
A fonte ainda afirmou que toda a região de Marib se aproximou mais do Ansar Alá e que essa iniciativa de abertura da estrada sinaliza um aumento da “proximidade” entre os partidos e aconteceu devido à guerra em Gaza – que aumentou a popularidade local do Ansar Alá devido às suas operações navais no Mar Vermelho e no Golfo de Adem contra os navios israelenses. Por pouco não houve uma operação militar em Marib em 2021, ela foi parada devido às negociações de paz.
A Arábia Saudita afirma oficialmente que não intervirá mais no Iêmen. O ministro das Relações Exteriores do reino, Faisal bin Farhan, anunciou que seu país está “totalmente comprometido” com o acordo de paz saudita-iemenita, que estará “pronto para assiná-lo o mais rápido possível”. Os dois fatores estão diretamente relacionados, sem o apoio militar direto dos sauditas, que por sua vez era um apoio do imperialismo, os grupos separatistas não conseguem manter a sua posição e se vem obrigados a se unificar com governo central.
O caso do Iêmen é uma demonstração de como uma luta internacional, em defesa da Palestina e contra o imperialismo, se reverte em vitórias políticas para a luta nacional contra o imperialismo nos países atrasados.