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Pernambuco

Recife: nos 76 anos da Nakba, ato marchará até consulado dos EUA

Marcada para 16h, a manifestação tem como local de concentração a Praça do Derby, no centro da capital pernambucana

Nesta quarta-feira, 15 de maio, data conhecida como Nakba (“catástrofe”, em árabe), acontece, em Recife, um ato em apoio ao povo palestino e a todos os povos, a exemplo dos iemenitas, sírios, iraquianos, libaneses e iranianos, que estão lutando contra o Estado nazista de “Israel”. Marcada para 16h, a manifestação tem como local de concentração a Praça do Derby, no centro da capital pernambucana.

Nos últimos anos, a Aliança Palestina-Recife, coletivo formado por apoiadores da causa palestina, sejam eles pertencentes à comunidade árabe ou não, sempre tem realizado atividades na data da Nakba. Entre elas, palestras, homenagens ao povo palestino e a inauguração de uma praça. Neste ano, no entanto, o grupo estará ao lado de dezenas de outras entidades que, junto com a Aliança, compõem o Comitê de Solidariedade Palestina-Pernambuco e estarão presentes na Praça do Derby.

Entre as entidades que compõem o Comitê, está o Centro Cultural Islâmico Imam Sadeq, fundado em 30 de maio de 2015. Atualmente, o centro está sediado no bairro de Jardim Atlântico, em Olinda, mas está em processo de instalação de sua nova sede na cidade do Recife.

Em entrevista a este Diário, Eduardo Santana*, coordenador do Centro, explicou que “a entidade islâmica, de caráter confessional, cultural e educacional, desenvolve projetos voltados a melhor informar o público em geral sobre os princípios do Islã, sobretudo, na perspectiva filosófica da escola Jafarita, baseada no desenvolvimento espiritual, comunitário, histórico e sociopolítico, a partir do legado da família do Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre ele)”.

Segundo Santana, é comum que os seguidores da escola Jafarita sejam chamados de xiitas, termo provindo da designação árabe “xiia Ali”, ou seja, “os partidários de Ali”, “algo pertinente à preferência na sucessão do Profeta Muhammad (a paz e as bênçãos de Deus sobre ele), após o seu falecimento, pela figura de Ali bin Abu Tálib (a paz de Deus sobre ele), seu primo e genro”.

Santana ainda destacou que o Centro Cultural Islâmico Imam Sadeq é uma “entidade reconhecida pela sociedade pernambucana, alinhado a várias organizações e instituições democráticas, como é o caso do Comitê de Solidariedade Palestina-Pernambuco, ao Fórum da Diversidade Religiosa de Pernambuco – Diálogos e ao Conselho de Igualdade Racial da Prefeitura do Recife”.

Quando perguntado sobre a Nakba, Santana a descreveu como “um dos maiores crimes contra a humanidade já promovidos e patrocinados pelo imperialismo ocidental, impondo ao povo palestino um status de desumanização e segregação sem precedentes na história dos incontáveis crimes dos europeus contra a autodeterminação dos povos”. “Talvez”, continuou ele, “o maior crime do imperialismo no pós-grandes guerras e uma síntese referencial para os que lutam contra a opressão, genocídios e injustiças praticados pelas potências do ironicamente chamado ‘mundo livre’”.

Em entrevista ao DCO, Angélica Reis, integrante da Aliança Palestina-Recife, contou que um pai de um amigo do coletivo “tentou não fugir na diáspora palestina”. Ele permaneceu no território mesmo após a fundação de “Israel”, até o dia em que, “ao acordar e abrir a janela de sua casa, viu três vizinhos enforcados em uma árvore”. Neste dia, “ele decidiu tirar seus filhos de lá, veio para o Brasil na esperança de um dia poder retornar”. Infelizmente, ele faleceu “sem poder voltar para sua amada terra”.

O ato dos 76 anos da Nakba acontece em um momento dramático, em que os civis palestinos vêm sendo alvos de crimes diários por parte da entidade sionista. Mais de 35 palestinos já perderam a vida nos últimos sete meses, dos quais 15 mil eram crianças. Angélica Reis destacou dois eventos que lhe “embrulham o estômago”.

O primeiro é o que ficou conhecido como o “massacre da farinha”, quando “o Estado assassino de israHell** matou centenas de palestinos famintos que se aglomeravam para pegar comida”. O evento aconteceu no dia 29 de fevereiro, consistindo em um dos piores crimes de guerra cometidos pela entidade sionista. Segundo Ismail al-Ghoul, correspondente da emissora catarense Al Jazeera, afirmou na época, “após abrir fogo, tanques israelenses avançaram e passaram por cima de inúmeros feridos e mortos”. No dia 14 de março, aconteceu um outro massacre com as mesmas características, deixando mais de cem mortos.

O outro assunto revoltante destacado por Reis “são as centenas de colonos sionistas que fazem de tudo para que a ajuda humanitária não entre em Gaza, seja colocando pedras nas estradas, atacando os motoristas, jogando fora a comida ou acampando nas estradas”. Os comboios humanitários são inspecionados pelo exército israelense. Mesmo assim, com bastante frequência, os colonos realizam seus bloqueios fascistas. Essa situação tem levado a que mais de 90% da população palestina esteja passando fome.

De acordo com Santana, o Centro Cultural Islâmico Imam Sadeq não considera que há uma guerra em curso, pois “não há qualquer possibilidade de igualar a estrutura bélica sob domínio da ocupação sionista com o que dispõe o Hamas”. “No entanto”, destaca, “os incontáveis fracassos militares e a incompetência estratégica dos comandantes sionistas ficaram visíveis no combate direto com a guerrilha da resistência palestina em Gaza, forçando a intensificação de bombardeiros indiscriminados e criminosos visando alvos reconhecidamente civis, que vitimaram até o momento mais de 35 mil pessoas, e, até mesmo, reféns israelenses”.

Apesar dos incontáveis crimes de guerra praticados por “Israel”, a entidade sionista ainda não conseguiu assassinar nenhuma grande liderança das forças de resistência. Por outro lado, crescem as denúncias de que o número de mortes de soldados israelenses seria muito maior que o que o governo informa. A crise no meio militar é tão grande que o primeiro-ministro está considerando o alistamento forçado dos ultraortodoxos, o que levaria este setor a romper com o governo.

“Num desespero visível com o passar do tempo sem conquistas reais, a ocupação sionista multiplicou seus crimes contra a humanidade e contra a legislação internacional, bombardeando a representação diplomática do Irã em Damasco, capital da Síria, buscando uma escalada que justificasse a sanha assassina do seu governo”, continuou Santana. “A legítima retaliação iraniana mostrou que o mito de um Israel ‘imbatível’ caiu por terra, pois mesmo a Guarda Revolucionária do Irã tendo usado projéteis obsoletos do seu arsenal, mas manobrados com capacidade tecnológica originais e ainda desconhecidas da OTAN, conseguiu causar danos irreversíveis à famigerada base aérea de Nevatim, ponto de partida dos ataques israelenses e da OTAN aos civis em Gaza.”

Ao mencionar o Irã, Santana faz referência à Operação Promessa Cumprida, na qual o país persa, investindo pouco mais de um milhão de dólares, obrigou “Israel” e seus aliados a desembolsar mais de um bilhão de dólares para amenizar o estrago. “Lembremos que, além do seu aclamado ‘domo de ferro’, a ocupação sionista contou, sem sucesso, com o apoio de sistemas antiaéreos da Jordânia, Arábia Saudita, do Grande Satã, do Reino Unido e da França, visando barrar, sem sucesso, o ataque bem-sucedido do Eixo da Resistência Anti-imperialista”, concluiu Santana.

Outro evento de grande importância diretamente relacionado à causa palestina é a mobilização dos estudantes norte-americanos. “Os estudantes são a vanguarda na mudança de qualquer sistema”, lembrou Reis. “Os alunos americanos têm seus motivos para além da consciência e humanidade, são os seus impostos que estão sendo usados diretamente para matar cada palestino. Precisamos de mais, sabemos que muitos trabalhadores e sindicalistas já pararam em diversos momentos desde 7 de outubro de 2023 para cá; porém, é preciso que esses trabalhadores se unam a esse enorme chamado dos estudantes. Devemos ressaltar que é a primeira vez que vemos um movimento tão grande a nível mundial exigindo uma Palestina livre e isso nos dá esperança”.

Uma das principais armas do imperialismo contra o movimento dos estudantes é a acusação de “antissemitismo”. Para Reis, no entanto, tudo deve ser colocado na conta dos sionistas. Afinal, são eles que estão promovendo um genocídio e “depois reclamam do crescimento absurdo que vem se tornando o antissemitismo de outubro para cá”. A integrante da Aliança deixa clara a sua posição: “sou a favor do povo judeu, aquele povo judeu que está nas ruas, nas universidades, nas escolas, no parlamento e em todo o mundo gritando, em uma só voz, ‘Palestina Livre’. Quem não se levanta contra esses crimes, não merece uma vírgula de empatia ou respeito, pelo contrário”.

Para Angélica Reis, as palavras de ordem centrais hoje que deveriam ser ecoadas no ato do Recife são “Not in our name” (“não em nosso nome”), criada pelos judeus do Jewish Voice for Peace, e “From the river to the sea, Palestine will be free” (“do rio ao mar, a Palestina será livre”).

Segundo Eduardo Santana, “os muçulmanos e muçulmanas que seguem corretamente os princípios islâmicos puros não podem estar desvinculados da causa palestina, nem de qualquer outra causa na qual se manifeste a luta contra a opressão de pessoas, povos, etnias, nações e nacionalidades no mundo todo, sejam muçulmanos ou não-muçulmanos os oprimidos”. O coordenador do Centro Cultural Islâmico diz ainda que “o Alcorão sagrado é claro em relação ao comportamento do(a)** muçulmano(a) no que tange os opressores, instituindo uma postura progressista e objetiva neste sentido: ‘e que surja de vós uma nação que recomende o bem, dite a retidão e proíba o ilícito. Esta será (uma nação) bem-aventurada’ (capítulo 03, versículo 104)”.

Em outra passagem do Alcorão, citada por Santana, lê-se: “ó fiéis, sede perseverantes na causa de Deus e prestai testemunho, a bem da justiça; […] Sede justos, porque isso está mais próximo da piedade, e temei a Deus, porque Ele está bem inteirado de tudo quanto fazeis(capítulo 05, versículo 08)”.

Sobre a instituição da justiça, “base primordial da jurisprudência islâmica”, Santana cita “o Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre ele)”, que disse: “o mais temente dentre vós é quem diz a verdade, quer ela o prejudique ou o beneficie”. Assim, explica Santana, “a opressão ou a injustiça, mesmo que parta de um líder muçulmano, deve ser denunciada e combatida, sem meios termos”.

Eduardo Santana cita também “o Imam Ali (a paz de Deus sobre ele)”, que teria determinado a justiça isonômica como base da lei durante o seu governo, afirmando: “por Deus! Que serei justo para com o oprimido e julgarei com justiça o seu opressor pela sua insensibilidade, obrigando-o a cumprir pena, mesmo que desagrade a quem quer que seja”.

*Muçulmano xiita, educador na educação pública, graduado e pós-graduado em História, História do Nordeste, e Metodologia do Ensino de História, ex-presidente do Centro Islâmico do Recife – CIR, fundador do Grupo Jovem Islâmico do Recife, coordenador do Centro Cultural Islâmico Imam Sadeq.

**Grafia original utilizada pelos entrevistados

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