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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

PVT Chat é uma reflexão sobre o legado do Occupy Wall Street

Filme foca na contemporaneidade e nos comportamentos na era digital para falar sobre a distopia do capitalismo tardio

PVT Chat é um filme norte-americano de produção independente, de 2020, dirigido por Ben Hozie, jovem cineasta de Nova York.

Como o próprio título indica, tem como foco a contemporaneidade e os comportamentos na era digital.  PVT é uma corruptela de “private” (privado) que ganha certa ambiguidade não só pelo sentido de privacidade, mas também de propriedade.

Isso acontece porque o filme é uma reflexão surpreendente sobre a alienação e o desamparo da juventude de classe média urbana dos Estados Unidos atualmente.

Ele infere que esta situação é resultado do movimento Occupy Wall Street, de 2011, que pretendia ser um protesto social contra o capitalismo, mas que se esvaziou devido à falta de organização e de objetivos políticos claros.

“Não mudou absolutamente nada”, diz um personagem a respeito do movimento em uma cena marcante, situada em uma galeria de arte onde uma jovem artista expõe uma instalação.

A encenação também aponta o vazio de uma arte mercantilizada, que não consegue dar respostas adequadas à conjuntura na qual é produzida.

Esta incapacidade de refletir sobre os motivos do fracasso do Occupy Wall Street e de encontrar alternativas é mostrada nas atitudes e no cotidiano dos personagens, onde impera a falta de perspectiva e a alienação no consumo de prazeres virtuais.

A combinação entre trabalho precarizado, pouca renda, insegurança e fragmentação cada vez maior dos relacionamentos, agora mediados pela internet, gera uma subjetividade que busca fugir do ambiente hostil na alienação mercantilizada da vida digital.

O enredo acontece em Nova York, no período que antecede à Covid-19 (as filmagens ocorreram em 2018) e concentra-se no relacionamento amoroso entre Jack (Peter Vaak) e Scarlet (Julia Fox).

Ela é uma artista plástica que, para sobreviver, oferece serviços sexuais online como “cam girl”, onde interpreta uma dominatrix que satisfaz os desejos de seus clientes.

Ele tem como fonte de renda os jogos de cartas online, como poker e roletas. Parece uma metáfora sobre os day traders das bolsas de valores, que apostam em ações como modo de vida.

Aparentemente, Jack é bom em conseguir que a banca perca de vez em quando, garantindo um pouco do aluguel e dos custos do seu passatempo preferido que é interagir sexualmente e virtualmente com Scarlet.

Em uma das cenas, Jack enfrenta o dono de seu pequeno apartamento que decide expulsá-lo sem aviso por causa de quatro dias de atraso no aluguel. Para acelerar o processo, o senhorio contrata um pintor de paredes que começa seu trabalho com Jack ainda dormindo.

Após algumas peripécias, Jack e Scarlet finalmente se encontram frente a frente e estabelecem uma relação fora do ambiente virtual.

Até chegar a este ponto, a história evolui com traições e golpes, o que confere a Scarlet a característica de femme fatale, a Jack de investigador e ao filme um parentesco com o gênero noir.

Esta referência não deixa de ser sintomática do nosso atual momento histórico se levarmos em conta que este gênero, inspirado no expressionismo alemão, teve seu auge durante os tempos sombrios da II Guerra Mundial.

Apesar dos temas, há um tom de ironia e farsa nas absurdas situações encenadas que exigem um certo distanciamento por parte de quem assiste. O conteúdo político aflora justamente nesta encenação do absurdo como norma.

Só assim para entender o final aparentemente feliz e ao mesmo tempo distópico que fecha a aventura dos dois personagens.

Streaming

PVT Chat está no Mubi.

Artigo publicado, originalmente, em 16 de dezembro de 2021.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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