A executiva da direção nacional do PSOL emitiu um documento se posicionando sobre a conjuntura política atual e os próximos passos do partido. Intitulado “Sem Anistia para os golpistas, pelo fim do genocídio do povo palestino e pela luta feminista e antirracista” o documento segue com todos os grandes erros políticos do partido de Boulos. Não compreende as questões internacionais, não compreende a luta política nacional e termina enfatizando a luta identitária. O documento do PSOL é muito útil para a esquerda como um exemplo do que não deve ser feito.
Ele começa abordando a questão internacional: “a situação internacional se caracteriza pelo crescimento da extrema-direita e situação defensiva do campo progressista”. Ao mesmo que isso é um fato, que a extrema-direita avança em diversos países na Europa, nos EUA, na América Latina o “campo progressista” também impõe derrotas ao imperialismo. Há os casos da África, onde os franceses tão sendo derrotados, da Ucrânia, onde a OTAN está sendo derrotada, do Oriente Médio, onde “Israel” e o imperialismo estão sendo derrotados e outros menos importantes. A situação não é tão terrível como pintada pelo PSOL.
A nota continua: “nesse movimento internacional, Trump cresce nas prévias das eleições dos EUA, o que reforça a análise da necessidade de organização da esquerda e dos movimentos sociais internacionalmente no combate à extrema-direita em ascensão na política internacional”. Aqui o PSOL quase acerta, mas não basta afirmar que se combate a extrema-direita, isso porque o grande problema internacional da esquerda, inclusive do PSOL, é sua aliança com a direita tradicional. É o problema inclusive do governo Lula. Não basta organizar a esquerda, é preciso organizar os trabalhadores de forma independente.
O PSOL então analisa a situação nacional: “os desdobramentos das investigações da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 avançam, com mais de 80 pessoas condenadas por praticar o ato golpista e indicam a participação de Bolsonaro, além de militares e empresários no mais grave atentado à democracia brasileira desde o processo de redemocratização”. Se em política internacional o PSOL está muito enganado, em nacional as declarações já são bizarras. As manifestações dos bolsonaristas seriam um atentado maior à democracia que o golpe de 2016 e a prisão de Lula em 2018! Aqui fica claro o erro do PSOL, a sua política é apenas atacar a extrema-direita, nunca a direita tradicional, que é igualmente inimiga dos trabalhadores.
Ainda sobre os bolsonaristas: “o ato de domingo mostra que a centralidade da luta política no Brasil é a luta contra a extrema-direita, representou uma tentativa de Bolsonaro de demonstrar força diante das inúmeras acusações e evidências de sua participação em atentar contra a democracia”. A centralidade da luta política contra o bolsonarismo é um fato. Mas a estratégia do PSOL e a responsável pela atual força do Bolsonarismo. O que montou o ato da Av. Paulista não foi a popularidade das políticas do governo Bolsonaro, foi na realidade o processo judicial que se montou contra o ex-presidente. As bases bolsonaristas são mais mobilizadas a cada novo processo, a prisão de Bolsonaro tenderia a gerar a maior mobilização de todos. Essa é a política do PSOL e, portanto, o “combate ao bolsonarismo” do partido é o que mais fortalece o bolsonarismo no atual momento.
A nota então comenta posição de presidente da Câmara: “no congresso nacional, Arthur Lira segue pressionando o governo e na busca de articular sua sucessão tende a pautar as agendas regressivas tanto na agenda econômica quanto na penal. Lira também segue afirmando que irá colocar em votação este ano a reforma administrativa, PEC 32, proposta pelo governo Bolsonaro que em caso de aprovação será o maior desmonte do funcionalismo público, aprofundando a agenda neoliberal e a privatização dos serviços públicos”.
Neste momento o PSOL demonstra sua contradição sem perceber. Os ataques aos trabalhadores são realizados não só pela base bolsonarista, mas também pela base da direita tradicional. É a mesma política que existia durante o governo Bolsonaro. Os principais ataque aos trabalhadores, privatizações, reforma da previdência, entrega da base de Alcântara e mais, eram todos apoiados pelo bloco do PSBD. O Marco Temporal, por exemplo, um ataque dos latifundiários aos indígenas, era apoiado pelo STF. Falar de Lira sem falar na direita tradicional ofusca os inimigos dos trabalhadores.
Vale citar novamente o início do texto em que se caracteriza o grande erro do PSOL “situação internacional se caracteriza pelo crescimento da extrema-direita e situação defensiva do campo progressista”. Para o partido o único problema do Brasil é a extrema-direita e, sendo assim, pode se aliar com deus e o demônio. Vale tudo para atacar Bolsonaro, se aliar com Alexandre de Moares, que votou na prisão de Lula, tudo bem. Se aliar com o governo Biden, que derrubou Dilma, tudo bem. Se aliar com o PSDB, maior inimigo dos trabalhadores no Brasil, tudo bem.
Essa estratégia, além de ineficiente, é tenebrosa tanto por sua derrota quanto por sua vitória. Caso a política do PSOL seja vitoriosa, algo que é muito difícil, será uma vitória não da esquerda, mas sim da direita, que é quem dirige de fato a política do PSOL. Ou seja, a capitulação na luta leva necessariamente à vitória da direita. É o resultado inevitável de não ter uma política independente de esquerda.
O ponto principal é: o PSOL diz ter como objetivo o combate a extrema-direita, ao bolsonarismo, mas sua política tem o efeito 100% oposto. O partido quer aderir ao bloco que no mundo inteiro está em crise, o bloco de Biden, do PSDB, de Macron. Ele quer se apegar a força política que está em decadência para combater a força política, como ele mesmo afirma, em ascensão. Com essa política a derrota dos trabalhadores é inevitável.