“Não existe classe operária!” Qual militante do PCO não ouviu essa frase dezenas ou centenas de vezes ao realizar atividades de rua. A frase, para todo marxista, é um completo absurdo. E como todo absurdo há diversas formas de ser respondida, desde a ridicularização até uma explicação citando o próprio Manifesto do Partido Comunista. Por isso, escreverei uma série de colunas, sem regularidade definida, com todo tipo de prova de que a classe operária não só existe, como é a classe do futuro, a classe que tomará o poder e libertará toda a humanidade.
O primeiro caso que citarei é de um momento em que a classe operária toma as ruas para festejar: o carnaval. Uma das formas que fica claro que existem os operários é fazer um contraste entre eles e a pequena burguesia, que é quem frequentemente afirma a morte da classe operária. Isso ficou claro no Bloco Vermelho do Rio de Janeiro, no carnaval de 2024. O bloco aconteceu em um dia atípico, não na terça de carnaval, mas sim no domingo após o carnaval.. Por isso foi marcado em um local diferente, a Feira da Glória.
Apesar de ser uma feira muito popular com pessoas de diversos locais da cidade, há uma concentração grande de pequeno-burgueses. Bastou o bloco começar a cantar a mais tradicional marcha “Olha a cabeleira do Zezé” que chegou o cancelamento fulminante. A canceladore quase começou uma briga com uma das companheiras que estava na folia. Na Feira da Glória o carnaval no domingo já estava morto. Mas o Bloco Vermelho não seria derrotado tão facilmente. Botamos o bloco na rua e fomos para a Lapa.
Lá tudo mudou. Quem entrava em cena? A classe operária. E assim começava o carnaval! Em dois minutos de batucada começou a se aglomerar uma multidão, e o que cantavam? Todas as marchinhas da festa mais popular do mundo. “Olha a cabeleira do Zezé”, “Maria sapatão”, “índio quer apito”, “o teu cabelo não nega mulata” dentre outras. Ninguém lá se importava com o identitarismo. Ninguém também oprimia as mulheres, os índios, e os homossexuais, o motivo? A classe operária não oprime ninguém, é ela que é oprimida. Por isso nela não cresce o identitarismo.
A folia só parou porque o mestre da bateria, que escreve esse artigo, não aguentou manter a batucada. Mas se conseguisse seria uma festa até o fim do dia, pois os trabalhadores não paravam de circular pelas ruas da Lapa. O Bloco Vermelho demonstrou que o carnaval é a festa da classe operária, a festa mais popular do mundo. Demonstrou também porque há tanta repressão no carnaval. É preciso lembrar o caso do baile do PCO em São Paulo, que foi duramente reprimido pela GCM e pelo “rapa”, também no carnaval de 2024.
No fim, lembrei do texto ridículo do PCdoB que falava das fantasias proibidas do carnaval. Uma das proibições era o chamado “blackface”, termo importado dos EUA em que um branco se fantasia de negro pintando o rosto. A realidade mostra o quão ridículo é o identitarismo. Nas ruas do carnaval a grande maioria era de negros, em todas as tonalidades que existem no nosso maravilhoso Brasil. Só falar em “blackface” é algo ridículo. O materialismo é implacável.
Aqui se vê também a diferença do que é problema para a classe operária e para a pequena burguesia no carnaval. Enquanto o identitário pequeno-burguês quer regular as músicas e as fantasias, os operários têm preocupações muito mais concretas. Vou conseguir levantar dinheiro no carnaval ou serei reprimido pela polícia? Vou conseguir curtir um bloco perto de casa ou terei que pegar duas horas de transporte público para curtir o carnaval? Vou conseguir chegar no bloco ou a empresa de trem não funciona, pois é feriado? Vou chegar na praia ou a “Operação Verão” da PM vai me levar para delegacia? Vou curtir o carnaval ou a polícia e o identitarismo (dois lados da mesma moeda) vão acabar com a nossa festa? A realidade concreta mostra que existe a classe operária.
Por fim, uma menção honrosa a uma das mais incríveis festas da humanidade, o desfile das escolas de samba na Intendente Magalhães. Essa festa vale um texto por si só, quem sabe a segunda parte desta série de colunas.