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Coluna

Problemas com o Sujeito

A correção gramatical precisa ser devidamente explicada e justificada para fazer sentido

Um problema comum de língua é saber a utilização adequada entre duas maneiras de dizer algo. Qual é o correto: “para eu fazer” ou “para mim fazer”? Na oralidade da língua portuguesa, a expressão “para mim fazer” ocorre frequentemente; do ponto de vista gramatical, porém, ela estaria errada. Entretanto, para a correção fazer sentido, o erro precisa ser explicado.

O português é uma língua de origem latina e embora seja diferente do latim em muitos aspectos linguísticos, ainda se aproxima bastante dele quando estudamos a língua em suas mudanças. Uma das diferenças mais significativas entre as duas línguas é o fato de o latim marcar funções sintáticas em desinências gramaticais. Isso precisa ser explicado melhor.

Quando em português dizemos “o professor viu o aluno”, sabemos que “o professor” é o sujeito da oração porque, entre outras soluções gramaticais, ele está antes do verbo “viu”; na mesma frase, o termo da oração “o aluno” é o complemento do verbo. Trocando as posições dos dois substantivos na frase, ela se torna “o aluno viu o professor”; nessa nova oração, pelo mesmo motivo do exemplo anterior, a posição das palavras na frase indica que agora “o aluno” é o sujeito e “o professor” é o complemento do verbo. No latim, a solução linguística é outra; comparando nossas orações nas duas línguas, facilmente percebem-se as diferenças:

O professor viu o aluno – Magister discipulum uidit

O aluno viu o professor – Discipulus magistrum uidit

No latim, a diferença das funções sintáticas de sujeito e complemento verbal são marcadas na terminação das palavras: (1) quando o professor é sujeito, fala-se “magister”, e quando ele é o complemento do verbo, fala-se “magistrum”; (2) quando o aluno é sujeito, fala-se “discipulus”, e quando ele é o complemento do verbo, fala-se “discipulum”.

Essa é uma das diferenças principais entre o latim e as línguas românicas, tais quais o português, o espanhol, o francês e o italiano. Contudo, em alguns tópicos da língua portuguesa, o anterior sistema latino ainda se mantém; isso acontece com os pronomes pessoais: (1) os pronomes pessoais do caso reto (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas) são sujeitos da oração; (2) os pronomes pessoais do caso oblíquo (me, mim, comigo, te, ti, contigo etc.) são complementos verbais.

Quando se diz “eu estudei”, isso está correto porque “eu” é o sujeito; quando se diz “ele comprou o livro para mim”, também está correto porque “para mim” é complemento do verbo. Desse modo, um pronome do caso oblíquo não poderia ser sujeito e nem um pronome do caso reto poderia ser complemento verbal. Todavia, isso acontece quando se diz “isto é para mim fazer”, pois nessa frase o “para mim” torna-se o sujeito do verbo fazer, violando-se uma lógica da língua portuguesa. Desse ponto de vista, “eu” seria o pronome adequado para esse tipo de formulação linguística: “isto é para eu fazer”. Longe de ser requinte gramatical próprio de algumas regras da norma culta, temos aqui questões de uso do sistema linguístico do português.

Por fim, cabe indagar por que esse uso incorreto é tão frequente? As palavras do português perderam a característica da morfologia latina, apesar de ela ainda se manter no sistema pronominal. Por analogia com os substantivos, com o passar do tempo, talvez também ela deixe de existir, mas até lá, convém não se esquecer de algo tão simples na correção gramatical da nossa língua.

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