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Teoria marxista

Poxa, como é difícil ser um revolucionário

A depender das concepções da esquerda pequeno-burguesa atual, o movimento operário realmente ficará desorientado

O dirigente da corrente Resistência do PSOL, Henrique Canary, publicou um artigo no sítio do grupo chamado O drama dos revolucionários em um tempo sem revolução. Apenas analisando o título, já se revela o abandono de setores da esquerda pequeno-burguesa de qualquer perspectiva revolucionária. O “drama”, que mais precisamente poderíamos chamar de “dramalhão”, não condiz com a realidade atual e mostra que o grupo troca a revolução por um certo ceticismo.

“Uma angústia envolve o coração dos revolucionários: a ausência de revoluções. Já se vão quase 50 anos sem uma revolução socialista vitoriosa, mais de 30 do fim da União Soviética, mais de 15 de uma crise econômica que não encontra saída e pelo menos 10 de ascenso ininterrupto do fascismo em todo o mundo.”

Logo nas primeiras palavras do texto, Canary mostra que seu ceticismo vem de uma incompreensão profunda da história. Segundo ele, “já se vão 50 anos sem revolução socialista vitoriosa”. Qual seria essa revolução de 50 anos atrás? Se ele se refere à Revolução dos Cravos, de fato, foi uma revolução importantíssima e decisiva na crise capitalista. Mas depois da Revolução dos Cravos, o mundo assistiu à Revolução Iraniana (1979), à Revolução Sandinista na Nicarágua (1979), apenas para ficar em dois casos quase tão impactantes quanto à Revolução Portuguesa. Por que Canary ignora as revoluções posteriores? Talvez porque seu sectarismo não queria acreditar que essas revoluções tenham sido revoluções, mas como ele não afirma isso, temos apenas que especular.

Quando ele diz: “revolução socialista vitoriosa”, ao pé da letra, nem a portuguesa, nem as posteriores foram revoluções socialistas vitoriosas: nenhuma expropriou toda a burguesia, por exemplo. No entanto, foram revoluções e, como tal, deveriam ser exaltadas. Mas Canary prefere o drama e a tristeza.

Sobre os 30 anos do fim da União Soviética, é até estranho ouvir uma pessoa que se diz trotskista lamentar dessa maneira o colapso da URSS. A queda da União Soviética não foi um episódio contrarrevolucionário. O imperialismo apenas precisou se adaptar à nova situação, fazendo propaganda sobre o suposto “fracasso do socialismo”. Mas propaganda não é realidade. A queda da URSS significou o enfraquecimento de um apoio importante do imperialismo no mundo. O domínio da burocracia soviética servia como ponto de equilíbrio para o imperialismo.

Com todas as contradições que se possa apontar – mas tudo na história tem contradições – a queda da URSS era inevitável e necessária. Foi um episódio de características revolucionárias, mas na ausência de um grupo capaz de direcionar essa revolução, o imperialismo conseguiu controlar a situação. De qualquer modo, não haveria motivo para tanta depressão por parte de Canary.

Ao comparar a atualidade com o início do século XX, cuja crise do imperialismo, nas palavras do autor, “atingiu uma espécie de auge jamais imaginado“, ele afirma que “não estamos às vésperas de uma nova onda revolucionária mundial. O início do século XX se caracterizou, por um lado, pela crise aguda do sistema (coisa que vemos hoje), mas por outro, pelo avanço irrefreável do movimento, da organização e da consciência proletária em todo o mundo. Foi a época de fortalecimento dos grandes partidos social-democratas europeus, germens do que seria o futuro movimento comunista internacional“.

A depender das concepções da esquerda pequeno-burguesa atual, da qual Henrique Canary é representante, o movimento operário realmente ficará desorientado, diferente do que foi no início do século quando existiam os partidos social-democratas. Ainda bem que a revolução não depende de Canary nem de seu grupo de diletantes.

Ao invés de se apegar no que realmente importa, que é a crise aguda do capitalismo, Canary se apega à questão subjetiva. Claro que é muito importante que haja organizações revolucionárias capazes de levar até o fim uma revolução, mas isso não tem nada a ver com não estarmos num momento que pode, sim, evoluir para uma onda de revoluções.

Se Canary parasse de olhar o mundo com seus olhos de esquerdista senil, veria a revolução na Palestina que está acontecendo agora. Não é véspera, é hoje. Mas Canary não olha para a Faixa de Gaza com o espírito de luta de um revolucionário, que é o espírito de todos os palestinos nesse momento, mas com o espírito de um padre que só sabe lamentar tudo de feio que acontece no mundo.

O saudosista e dramático Canary tenta nos explicar que “naquele tempo era melhor”, “é pouco provável que qualquer um de nós tenha uma vida epopeica como Marx, Trótski ou Rosa Luxemburgo“, lamenta ele. O que ele não leva em conta é que a crise capitalista de hoje é mais profunda do que a de antes. Quando Lênin caracterizou o imperialismo como a fase superior do capitalismo, ou seja, como a fase de transição do capitalismo para o socialismo, ele não estava escrevendo uma tese acadêmica para a universidade. Se o imperialismo é como descreveu Lênin, significa, obviamente, que mais de 100 anos depois estamos mais perto do socialismo do que nas épocas “epopeicas” de Marx, Trótski e Rosa.

E nem seria preciso irmos até Lênin para verificar a profundidade da crise imperialista nas últimas décadas. Revoluções aconteceram de modo muito mais frequente, o imperialismo foi derrotado em vários lugares.

Se não há no mundo uma organização capaz de levar adiante essas revoluções até o fim, orientá-la e unificá-las, cabe aos revolucionários trabalharem nesse sentido. Mas a revolução está presente, de várias formas.

Canary não consegue reconhecer as revoluções que acontecem diante do próprio nariz, na Palestina, por exemplo. Isso porque ele mesmo não é um revolucionário, é apenas um saudosista. “Como era bom naquele tempo”, mas se ele estivesse “naquele tempo”, seria capaz de reconhecer uma revolução?

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