Cresce a pressão midiática pela paralisação do futebol brasileiro. Os meios de comunicação, que têm seu principal interesse no esporte, a audiência, garantidos com a catástrofe humanitária do Rio Grande do Sul, engrossam o coro para que o futebol pare de funcionar no Brasil, diferentemente de todos os setores da economia e, inclusive, de todas as formas de entretenimento. Quais seriam, portanto, os interesses da TV em paralisar o Brasileirão?
Há, é claro, o lobby de Grêmio, Internacional e Juventude, os times gaúchos, que se entendem em prejuízo técnico após o desastre em seu estado. Esse problema não será resolvido, sequer com a retomada das atividades. Os dois de Porto Alegre ainda estão em competições internacionais e têm de lidar com o calendário e as decisões da Conmebol, sobre a qual são menos influentes, e, portanto, têm de se fazer ouvir ao menos aqui no Brasil.
Porém, a Globo também não quer ter problemas com seu pacote de transmissão a cabo, o Premiere, que poderia perder datas e patrocinadores com três jogos anulados a cada rodada, alguns deles partidas importantes, com clubes grandes (imagine quando cada um dos gaúchos enfrenta o Flamengo, jogo em que há piques de audiência). É preferível, deste ponto de vista, que o campeonato pare e retorne mais próximo ao normal em julho.
Terceiro, o fator mobilizador do futebol. Ondas de solidarização como as de Belo Horizonte, no último domingo, quando o Clube Atlético Mineiro realizou um treino aberto na Arena MRV, são espaços convidativos a revoltas contra própria burguesia e a imprensa que a representa, ecoando a manifestação que ocorreu em Porto Alegre na última semana, com os cidadãos da cidade (naquele caso, possivelmente bolsonaristas) expulsando a TV Globo da área em que estava, por considerá-la parceira do governador Eduardo Leite.
O futebol, como fenômeno de massas, pode revelar o que pensa o povo sobre a tragédia rio-grandense, principalmente em episódios como o de BH.