Circula timidamente nas redes sociais da esquerda, em geral, nos grupos de “consumo interno”, e, principalmente, vinculados ao Partido dos Trabalhadores (PT), cards convidando os ativistas para uma manifestação no dia 8 de janeiro, em Brasília, e em algumas outras cidades, em “defesa da democracia”, a fim de marcar o aniversário de um ano das manifestações da direita bolsonarista na Esplanada dos Ministérios que culminaram com a invasão de prédios dos Três Poderes.
A princípio, quando se é chamado um ato contra a direita, a esquerda de conjunto deveria participar. O problema é que não é um ato verdadeiramente contra a direita.
Trata-se de um ato em “defesa da democracia”. Um ato com o Supremo Tribunal Federal (STF), cuja participação de seu presidente já está confirmada, entre muitos outros convidados da direita nacional (parlamentares, governadores, inclusive bolsonaristas). A mesma direita responsável pelo golpe de 2016, que manteve Lula preso por mais de 500 dias e que mantém – neste momento – um forte cerco contra o governo Lula, impondo suas políticas reacionárias no Congresso Nacional, no Banco Central, no STF etc.
E qual o objetivo do ato? Defender uma política que não é de esquerda, que é a política da burguesia, da direita golpista, dos que derrubaram Dilma, que realizaram a criminosa operação Lava Jato contra o PT e todo o povo brasileiro, que aprovaram as famigeradas reformas trabalhista e da previdência, as privatizações… enfim, tudo o que puderam contra o povo brasileiro.
O Partido da Causa Operária não vai se somar a esse tipo de iniciativa.
A suposta luta contra a direita relacionada com o 8 de janeiro de 2023 se apresenta, assim, como um grande fracasso político. Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento da situação política concordaria com isso. O que há para ser comemorado quando colocaram na cadeia com penas altíssimas de 15, 17 anos dezenas de pobres coitados, manipulados pela direita, que acreditavam na justeza da política de Bolsonaro?
É difícil acreditar que o PT tenha a ilusão que a ação repressiva do STF contra os manifestantes de 8 de janeiro vai deter a extrema direita. É difícil entender que um dirigente político acredite que condenar um funcionário da Sabesp, um aposentado, um vendedor ambulante e outros que viajaram centenas de quilômetros de ônibus a Brasília para protestar, vai conter a direita, porque se a direita fosse o servidor público, o ambulante, o pequeno comerciante, o militar de baixa patente aposentado etc., a esquerda nunca teria que se preocupar com a direita.
Quando o PCO denunciou e denuncia que há perigo de golpe de Estado, está falando de generais, coronéis e altas patentes da polícia militar, do imperialismo, dos juízes golpistas das altas cortes, ou seja, dos mesmos que estiveram por trás do golpe de 2016.
Alguns deles até reconheceram publicamente que houve reuniões no Palácio do Planalto para conspirar, para tramar um golpe.
E o que aconteceu com os generais-ministros de Bolsonaro? Nada.
A esquerda e o governo Lula estão festejando um acontecimento que deveria ser denunciado, por se tratar de uma ação vergonhosa do aparelho repressor brasileiro contra uns zé-ninguém. A condenação de pé-rapados vai servir de base (e já é usada) para condenar mobilizações da esquerda, para encobrir que os verdadeiros golpistas estão livres, alguns até participam do governo e podem até participar dos atos do dia 8/1.
Não merecem a companhia e a solidariedade da militância da esquerda que lutou e sofreu (junto com todo o povo) com o golpe.
Chama também a atenção que são setores da esquerda que se mostram “animados” com os atos do dia 8/1, com golpistas, não tenham “movido um dedo” e se recusem a participar das mobilizações em defesa da luta do povo palestino, cujo genocídio é apoiado por muitos “democratas” que figuraram nos palanques do dia 8/1.
Definitivamente, esse não é nosso lugar.
