No artigo Brasil deve dar resposta enérgica ao bilionário do “vamos dar golpe em quem quisermos”, o colunista Aquiles Lins, do Brasil 247, comparou o apoio que Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter), deu ao golpe militar na Bolívia em 2019 com o vazamento de informações sobre a atuação ilegal dos tribunais brasileiros. Disse Aquiles Lins:
“Em 24 de julho de 2020, o bilionário Elon Musk, dono da Tesla e da rede social X (antigo Twitter) mostrou os dentes contra a democracia de países latino-americanos. Ao responder a uma provocação sobre interesse em derrubar o então presidente da Bolívia Evo Morales para ter acesso ao lítio boliviano, que abasteceria os carros da Tesla, Musk escreveu em sua conta no Twitter: ‘Vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso’. Quase quatro anos depois, o bilionário agora se volta contra o Brasil, com ataques diretos ao Poder Judiciário, especialmente contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No domingo (7), Elon Musk pediu no X a renúncia ou impeachment do ministro Alexandre de Moraes. O bilionário afirmou que em breve o X iria divulgar como as exigências do ministro violam a legislação brasileira, acusando-o de trair a Constituição e o povo brasileiro.”
Aquiles Lins evoca o caso da Bolívia como quem dissesse: quem merece confiança, um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) ou um apoiador de golpes de Estado? Colocado nesses termos, alguém muito ingênuo poderia acreditar que, nessa história, Alexandre de Moraes seria uma vítima. Ocorre, no entanto, que, quando se fala em golpe de Estado, Moraes não fica atrás de Musk.
Se Elon Musk apoiou o golpe na Bolívia, Moraes apoiou o golpe de Estado de 2016 no Brasil. Um golpe, diga-se de passagem, que afetou uma quantidade muito maior de gente. Para efeitos de comparação, a Bolívia tem 12 milhões de habitantes, enquanto o Brasil tem 215 milhões – Moraes apoiou um golpe de Estado, portanto, em um país quase vinte vezes maior que o país de Evo Morales. O Brasil também é infinitamente mais influente que a Bolívia no que diz respeito à política internacional. A eleição de Lula, por exemplo, causou um efeito muito maior na América do Sul que a eleição de Luis Arce. Da mesma forma, um golpe no Brasil é capaz de empurrar todo o subcontinente para a direita.
Alguém poderia dizer que o apoio de Moraes ao golpe de 2016 foi circunstancial. Ele não sabia o que estava fazendo, ele apoiou porque seus colegas apoiaram, ele acreditava que estava fazendo o melhor para o País – enfim, desculpas não irão faltar. Mas um simples fato comprova que Moraes tinha plena ciência do que fez, não se arrepende e é, até hoje, um fator importante para a continuidade do golpe.
Em declaração recente, Moraes elogiou o governo de Michel Temer! Isto é, elogiou, por definição, o golpe de 2016, que resultou no governo do golpista Temer. Elogiou, portanto, não apenas ataques tenebrosos contra a população do País, como a reforma trabalhista, mas também elogiou o movimento que acabaria resultando na vitória eleitoral de Jair Bolsonaro (PL).
A credencial de “golpista” de Elon Musk, portanto, não é suficiente para, neste caso, determinar quem está com a razão. Felizmente, contudo, há critérios muito mais simples para isso que vasculhar as redes sociais de qualquer uma das figuras.
O critério é: tornar público as arbitrariedades do Estado brasileiro contra a população faz a luta dos trabalhadores avançar ou retroceder? É melhor fazer com que o povo saiba quem são os seus inimigos e como conspiram contra ele ou é melhor mantê-lo na ignorância?
Essa é a única discussão a ser feita. Ninguém é obrigado a gostar de Elon Musk para apreciar o que há de positivo em seus vazamentos. Ninguém é obrigado a apoiar o golpe reacionário na Bolívia para utilizar as informações divulgadas por Musk em benefício da luta do povo.
