Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Política internacional

Pondé e a apologia da máquina de destruição imperialista

Em artigo na Folha de S.Paulo, ideólogo da extrema direita defende a ditadura mundial dos monopólios em sua guerra contra os povos do planeta

No artigo Depenar Israel é parte do jogo de muitos órgãos multilaterais hoje, publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, Luiz Felipe Pondé volta a defender explicitamente as barbaridades praticadas pelo governo de Benjamin Netaniahu contra o povo palestino. Que um dos ideólogos da extrema direita brasileira (projetado pela grande imprensa durante a preparação para o golpe de 2016 e que já residiu no Estado de “Israel”) defenda os crimes de guerra da entidade sionista não é nenhuma novidade. O que chama a atenção particularmente neste texto, no entanto, são os seus novos argumentos.

Passados quase oito meses do início do conflito, a campanha de que “Israel” é uma pobre vítima que está “se defendendo” já não convence mais ninguém. A opinião pública internacional condena os horrores praticados pela ocupação criminosa, de tal forma que, nos Estados Unidos, sede da dominação imperialista, os estudantes estão ocupando universidades de elite, em um movimento muito radical contra o governo de seu próprio país. Ao mesmo tempo, a propaganda de que “Israel” irá conseguir “exterminar o Hamas”, como prometeu seu primeiro-ministro, também se mostrou nada mais que uma bravata. Por isso, Pondé tira da cartola uma nova ladainha para tentar comover os incautos.

Diz o “filósofo” radicado em São Paulo:

“O quase total isolamento geopolítico de Israel (…) pode ser um veneno para a região e para o mundo. O projeto do Irã é atacar Israel pelo sul – Hamas – e pelo norte – Hezbollah. Israel (…) não ficará quieto assistindo sua própria destruição”.

Uma vez que já caiu por terra a farsa de que seria preciso defender “Israel” porque seria a terra de “pobres judeus indefesos”, que teriam sido “vítimas dos pogrons na Europa”, Pondé agora clama por ajuda porque os inimigos da ocupação sionista seriam os inimigos de toda a humanidade. Isto é, segundo Pondé, a derrota de “Israel” seria não mais um “novo holocausto”, mas sim uma vitória de “países perigosos” – isto é, do Irã, da Rússia e da China.

O apelo de Pondé revela, em primeiro lugar, que a choradeira contra o “massacre de judeus” era uma farsa. Ninguém deu a mínima importância para isso, e, de tão farsesca que é, essa choradeira foi substituída por uma nova campanha. Em segundo lugar, também revela a fragilidade de “Israel”, que precisa apelar não mais para a solidariedade com o suposto sofrimento de sua população, mas sim para os cálculos políticos e militares de outros países.

Diante da situação desesperadora em que “Israel” se encontra, encurralada pelo Irã, pelo Hamas, pelo Hesbolá e pelo Iêmen, o apelo de Pondé faz sentido. O ideólogo da extrema direita demonstra, afinal, certa sensibilidade para as mudanças que estão acontecendo na política mundial – e, assim, ajuda a esclarecer o verdadeiro papel que o Estado criminoso de “Israel” cumpre.

Só faria sentido alardear sobre as ameaças dos inimigos de “Israel” “para a região e para o mundo” se houvesse países preocupados com essas ameaças. E de fato há. O imperialismo – isto é, os Estados Unidos, a França, o Reino Unido, a Alemanha e o Japão – estão, a cada dia mais preocupados com o papel que países como China, Rússia e Irã vêm desempenhando na política mundial. Neste sentido, o apelo de Pondé é uma prece para que o imperialismo intervenha. Nenhuma surpresa: “Israel” é uma espécie de empregado do imperialismo. Um Estado criado para reprimir as tendências nacionalistas dos povos do Oriente Médio e que é, até hoje, sustentado pelo orçamento norte-americano. Após apanhar muito na rua, o filho agora chora para que o seu papai lhe acuda.

Visto desse ponto de vista, as monstruosidades de “Israel” adquirem, portanto, um outro caráter. Massacres como o de Rafá, em que dezenas de pessoas foram queimadas vivas e em que bebês morreram desmembrados por bombas altamente destrutivas, não são uma particularidade da entidade sionista, mas produto da necessidade do imperialismo de manter a sua dominação sobre os povos. É o interesse dos países desenvolvidos de manter uma ditadura mundial que faz com que haja aberrações como “Israel”, que vai até as últimas consequências para reprimir um povo que uta por sua libertação. Pondé aqui se revela não como alguém que defende crimes de guerra em nome da suposta proteção de um “povo” com o qual se identifica, mas sim como um ser desprezível que aplaude um genocídio em nome dos interesses dos bancos, das petroleiras, da indústria armamentista e dos grandes monopólios que controlam os governos dos países imperialistas.

A relação umbilical entre o imperialismo e “Israel”, contudo, não são suficientes para compreender a questão que está colocada atualmente. É preciso ainda levar em consideração que o imperialismo sofreu um grande conjunto de derrotas nos últimos anos, entre as quais estão a derrota na Síria, a expulsão de suas tropas no Afeganistão, os golpes nacionalistas na África e a guerra da Ucrânia. Nesse cenário de crise, que demonstra um movimento internacional de contestação de sua autoridade, o imperialismo precisa reagir com muita violência. Do contrário, não conseguirá recuperar a sua autoridade e, portanto, verá ainda mais países lutando para se libertar. Nesse sentido, o imperialismo se prepara para um grande enfrentamento com os países que mais têm minado a sua autoridade: Irã, Rússia e China.

O apelo de Pondé é, portanto, antes de qualquer coisa, a tomada de uma posição em meio a uma guerra iminente. O “filósofo” diz: “Joe Biden, nos acuda, pois estaremos ao seu lado na destruição de economias inteiras, no extermínio de povos inteiros e na mais brutal repressão de sociedades inteiras”.

Dito isso, tudo o mais que Pondé diz em seu artigo não passa do mais puro cinismo. Ele inicia seu artigo reclamando que o procurador do Tribunal Penal Internacional pediu a prisão de três líderes do Hamas, mas também pediu a prisão do primeiro-ministro israelense. Segundo diz, a ação contra os líderes do Hamas “é para inglês ver porque todo mundo sabe, e ele [o procurador] e seu tribunal também, que pedir a cabeça de terrorista só engana quem é analfabeto na dinâmica dos grupos terroristas e seus apoiadores como o Irã. Terroristas são como picaretas sem nome na praça, que, portanto, você não tem como cobrar. Primeiros ministros, por sua vez, são como bons pagadores, você e seus advogados podem depená-los”.

Nem mesmo um idiota como Pondé acredita nisso. O Tribunal Penal Internacional (TPI) foi criado em 2002. Desde lá, não foi condenada uma única pessoa que fosse parte fundamental da maior máquina genocida do planeta, que é o imperialismo. A guerra do Iraque, por exemplo, teria matado, diretamente, 600 mil pessoas. Nenhum dos responsáveis por esse massacre foi sequer indiciado pelo TPI, muito embora sejam todos “bons pagadores”, como o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que ocupou um papel importante na invasão. O mesmo pode ser dito sobre a guerra do Afeganistão, que durou 20 anos e deixou um saldo de centenas de milhares de mortos.

A última condenação de maior repercussão no TPI foi – pasmem – a do presidente russo Vladimir Putin. Ele, que não é nenhum “terrorista”, mas sim uma figura pública, que costumava participar de eventos diplomáticos pelo mundo, foi condenado por comandar uma das operações militares mais incruentas da história contra um regime que havia instalado laboratórios de armas biológicas, que assassinou mais de 13 mil russos em seu próprio território em tempos “de paz” e que utiliza armas sujas e mesmo armas químicas. É um deboche.

A realidade é o exato oposto do que diz Pondé. Quem ignora por completo as resoluções dos organismos internacionais é o próprio Estado de “Israel”. Não há prova maior disso que o massacre de Rafá, ocorrido 48 horas após a Corte Internacional de Justiça determinar a suspensão das operações militares israelenses na cidade. O que o “filósofo” não consegue esconder é que a brutalidade das ações de “Israel” é tão grande que mesmo um tribunal tão viciado como o TPI está se vendo obrigado a processar Netaniahu, ainda que para fazer demagogia.

Pondé também apresenta o argumento absurdo de que “as acusações contra Israel serão baseadas em apurações de ‘agentes independentes’ da ONU e do ‘governo de Gaza’ – o Hamas”. Ele ainda complementa que “não existem agentes internacionais independentes em Gaza, pois a maior parte deles opera para o Hamas, todo mundo sabe disso na região”.

Novamente, uma piada de mau gosto. Sendo o Estado de “Israel” sustentado pelos países mais ricos e mais poderosos do mundo, como seria possível que o Hamas tivesse uma capacidade de corromper os agentes internacionais maior que a entidade sionista? E mais: se o governo de Gaza é o Hamas porque esse é o partido mais popular da Faixa de Gaza, que outra força social seria legítima para representar os interesses do povo palestino? Ao se opor a uma investigação dos agentes internacionais independentes e ao governo de Gaza, Pondé está defendendo, na verdade, que a única coisa que pode ser tomada como verdade é o que “Israel” diz. O que o “filósofo” busca, portanto, é uma licença para mentir livremente.

A necessidade de defender “Israel” e o imperialismo é tão grande que Pondé tenta distorcer até mesmo o que há de mais incontestável no conflito. Na parte final do artigo, o “filósofo” cita o que seriam provas de que o Hamas são os “verdadeiros criminosos de guerras [sic]”. Tudo se resume a vídeos que, se de fato existirem, teriam mostrado, no máximo, combatentes comemorando a morte de seus inimigos. Esses, sim, seriam os grandes crimes. Quanto àqueles praticados por “Israel”? Nem uma palavra. Pondé diz ainda que “o simples fato de se considerar números ditados pelo Hamas –uma organização criminosa— como dados estatísticos confiáveis já é indício de má fé”.

Suponhamos que de fato o Hamas tenha elevado os números oficiais em cinco vezes – o que não há prova alguma de que tenha acontecido. Ainda assim, “Israel” teria matado oito mil pessoas, muito mais que o Hamas matou desde 7 de outubro. Trata-se de um argumento insustentável. Mas, pior que isso, é o fato de que o genocídio do povo palestino não está expresso apenas em estatísticas. Graças ao desenvolvimento da Internet, é possível acompanhar o que acontece na Faixa de Gaza com bastante precisão. É possível, portanto, ver incontáveis vídeos de crianças mortas, fotos de valas comuns, registros de pessoas carbonizadas etc. Isto é, ainda que o Hamas falsificasse os números, a imprensa independente é capaz de fornecer um quadro do que acontece em Gaza. E o quadro é desesperador.

Suspeitar dos números divulgados pelo Hamas é a típica canalhice de quem já perdeu por completo o debate. É uma tentativa desesperada e totalmente inútil de apresentar as poucas centenas de mortes de soldados israelenses no 7 de outubro de 2023 como algo mais monstruoso que os crimes de guerra de “Israel”.

Para encerrar, Pondé ainda atesta que, “para quem já teve o desprazer de ver esses vídeos, um elemento que chama atenção é o que eles mais gritam: ‘Allah é Grande!’, cada vez que matam alguém. Claro, esses assassinos não são a totalidade dos muçulmanos, mas negar que há um forte componente religioso nessa matança é tapar o sol com a peneira, não?”.

O argumento é tão idiota quanto o anterior. É óbvio que há um componente religioso na luta do Hamas – a sociedade palestina é majoritariamente religiosa. No entanto, se há uma relação entre “matança” e religião, essa relação não está na sociedade palestina. Quem vem promovendo um processo de limpeza étnica há mais de sete décadas em nome de uma suposta “terra prometida” é o Estado de “Israel”. Os sionistas, inclusive, são os primeiros a levantar a acusação mal cheirosa de “antissemitismo” contra qualquer um que se coloque contra “o direito de autodeterminação dos judeus”. Mesmo assim, mesmo os sionistas se valendo de uma religião para promover um genocídio, o povo palestino não promove qualquer tipo de perseguição religiosa. O próprio Hamas, em sua declaração de princípios, deixa claro que não tem qualquer questão com o povo judeu – sua luta é contra a ocupação sionista.

O sionismo, por outro lado, é quem procura promover uma perseguição com base na religião. Em “Israel”, os direitos religiosos dos palestinos já são sistematicamente violados. Até mesmo durante o período do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, “Israel” costuma impedir que os árabes frequentem a Mesquita de Al-Aqsa. O problema da religião, no entanto, vai mais além: como o próprio Pondé já indicou, a religião muçulmana serve, para o imperialismo, como um “rótulo” contra os seus inimigos. Ao dizer que não há como negar o “componente religioso”, Pondé diz: é preciso perseguir os que praticam o Islã, pois são potenciais “terroristas”.

A política de “rotular” os inimigos é parte fundamental da propaganda de guerra do imperialismo. Há pouco tempo, os russos eram tratados em toda a Europa como um povo inimigo, de tal modo que até mesmo obras clássicas da cultura eslava foram censuradas. Com os adeptos do Islã, o mesmo já ocorre e deve se intensificar. O imperialismo se prepara para uma grande ofensiva contra os povos. E Pondé, como um bom lacaio, já ingressou na campanha de hostilidades contra aqueles que serão suas vítimas.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.