O tradicional programa Resumo do Dia, que há quase 6 anos vai ao ar de segunda a sexta na Causa Operária TV ( COTV), teve nesta última quarta-feira (17), uma edição especial, de nº 1473, em que o apresentador e dirigente do Partido da Causa Operária, Antônio Carlos Silva, ao lado de Tiago Pires, recebeu Fábio Picchi, militante do Partido, para uma conversa sobre as participações internacionais do PCO junto a partidos revolucionários da esquerda nos Estados Unidos e na Europa.
Ao longo de 1 hora e meia de duração, o programa noturno da COTV apresentou também as principais notícias do dia na política nacional e principalmente internacional. Aproveitando a presença do convidado especial para obter uma impressão de como o cenário atual, de profunda crise do imperialismo e acirramento dos conflitos da luta de classes em todo o mundo o que tem impactado no ambiente e na política interna nos Estados Unidos, onde haverá eleições presidenciais no segundo semestre.
Falando a respeito disso, Picchi afirmou: “Uma experiência pessoal para ilustrar o tamanho da crise: eu não vi nenhum material de campanha do [Joe] Biden [presidente dos EUA que busca a reeleição em novembro] em nenhum lugar onde eu passei. Vi material do Trump e vi mais de uma dezena de materiais de campanha do Kennedy [Robert Jr.], um candidato sequer coberto pela imprensa e tem um detalhe: ele como membro de uma família importante nos EUA, ligado ao partido democrata, ele vai se lançar (candidato), tem muito dinheiro, tem apoio grande da burguesia norte-americana, e vai se lançar em todos os estados. A grande dificuldade na política norte-americana é se lançar nacionalmente […] Lá os estados tem uma autoridade grande, então você precisa ter dinheiro para se lançar em cada estado e seguir as leis de cada estado para se lançar, então a esquerda não consegue se lançar nacionalmente por causa disso, por falta de recursos. Mas o Kennedy não é um pobre coitado da esquerda”.
“Falando sobre a crise, eu aproveitei para assistir no final do dia a televisão norte-americana, e é engraçado ver como a Fox News é simétrica à CNN. A CNN defende o Biden. Já a Fox News defende o Trump, dizendo que ele é perseguido judicialmente, que é uma perseguição dos adversários políticos, mas quem eles chamaram pra entrevistar foi o responsável pela campanha do Kennedy, e ele conversava com eles porque a Fox News enxerga que o Kennedy tira votos tanto do Trump quanto do Biden, mas que tira mais votos do Biden do que do Trump, então é um bom candidato para os republicanos […] Ou seja, as redes de imprensa, a gente sempre soube que são canais de propaganda da burguesia, mas no momento o grau propagandístico delas está estratosférico”, acrescentou o militante do PCO.
Comentando as impressões do companheiro Fábio Picchi e analisando a importância da crise histórica do imperialismo, o companheiro Antônio Carlos Silva afirmou: “é importantíssimo o depoimento do Fábio […], mostra uma tendência (do povo norte-americano) de repudiar em primeiro lugar a candidatura oficial dos democratas. A crise dos Estados Unidos é a crise do maior opressor de todos os povos do mundo: o imperialismo norte-americano. Essa crise vem acompanhada da perda da autoridade internacional dessa máquina de opressão que é os Estados Unidos. É uma situação muito semelhante ao que a gente acompanhou por exemplo no final da década de 1970 com a derrota dos EUA no Vietnã, que criou uma situação que permitiu naquele momento o desenvolvimento de uma situação revolucionária em vários países do mundo: em 1979 a revolução no Irã e na Nicarágua, depois a crise na Polônia. Então toda essa situação, que também aqui no Brasil teve um aspecto importantíssimo, que foi o maior ascenso da luta operária no começo da década de 1980, as crises das ditaduras militares, é muito similar à de hoje: o que estamos assistindo é a perda da autoridade dos EUA”.
O dirigente revolucionário ainda comentou a respeito de mais uma intervenção no âmbito internacional que será feita pelo PCO nos próximos dias, em um fórum na cidade de Roma, na Itália, a respeito da questão palestina: “no próximo final de semana, dias 20 e 21, vai acontecer em Roma um fórum internacional com a participação de dezenas de representantes de partidos de esquerda, organizações da Europa e de todo o mundo, inclusive várias organizações do Oriente Médio. Esse fórum se reuniu pela primeira vez em outubro do ano passado, nós tivemos a oportunidade de participar desse primeiro encontro em Roma. O eixo do fórum naquele momento era um posicionamento, de todos os setores, de defesa da Rússia contra os ataques promovidos pela OTAN e os Estados Unidos, usando a Ucrânia como bucha de canhão. Porém como o fórum aconteceu poucos dias depois dos acontecimentos de 7 de outubro, a reação espetacular da resistência palestina contra os invasores israelenses, o fórum já se posicionou e saiu às ruas participando das primeiras manifestações em Roma defendendo a luta do povo palestino contra a ocupação de Gaza. Desta vez o fórum vai discutir mais diretamente esse tema, e nós vamos levar para lá a posição do PCO, os materiais de apoio à resistência do Hamas, fazendo campanha da necessidade de denunciar a política da imprensa capitalista que mente desavergonhadamente em relação aos acontecimentos naquela região, e divulgando a versão do Hamas sobre os acontecimentos, que nos foi apresentada em entrevistas”.
Finalizando sua participação especial, o companheiro Fábio Picchi respondeu a perguntas feitas pelo público, abordando os desafios para a criação de um partido revolucionário comunista nos Estados Unidos que rompa com o monopólio dos partidos democrata e republicano, duas faces da mesma moeda. Picchi destacou a importância da realização dessa tarefa como um polo de resistência dentro do principal país imperialista, que justamente pela sua condição de grande opressor dos povos do mundo, historicamente sempre impôs uma violenta oposição ao desenvolvimento da esquerda revolucionária em solo norte-americano, o que se verificou mais notadamente no fenômeno do macarthismo: “A chave para sair desse impasse é o que o Partido dos Comunistas dos Estados Unidos vem fazendo, que seria nossa política se nós estivéssemos organizados lá: não cair no jogo do ‘mal menor’, que é a única plataforma dos democratas, dizer que eles ‘não são o Trump’. A propaganda deles gira em torno de falar como o Trump é ruim, anti-latino, anti-negro, etc. E eles só conseguem avançar com essa campanha porque têm muitos recursos. A solução pra esquerda é não cair nisso, entender que independentemente do resultado das eleições, a classe operária precisa ter uma representação independente”.
“O lugar onde aconteceu o congresso do Partido dos Comunistas dos Estados Unidos teve inclusive que mudar de nome nos anos 50, por causa do Macarthismo. Lá se chamava originalmente ‘AROW Park’, um acrônimo de American Russian Organized Workers (Organização dos Trabalhadores Norte-americanos e Russos), significando solidariedade entre os norte-americanos e os trabalhadores da União Soviética na época. Quando veio a perseguição do Macarthismo eles acrescentaram um ‘R’ no nome, e virou ‘ARROW’, que significa ‘flecha’ em inglês. Então eles redecoraram o lugar para parecer uma reserva indígena […] Eles fizeram essa redecoração para escapar da censura e da perseguição do governo dos Estados Unidos”.
Política Nacional
Além do debate entre os companheiros acerca das questões da política internacional, o programa ainda destacou algumas das principais notícias da política interna brasileira. Ganhou destaque a greve dos servidores federais da educação, que já paralisou as atividades em mais de 50 universidades em todo o País. Antônio Carlos Silva comentou a respeito: “foi realizado um importante ato em Brasília pelos servidores das universidades e institutos federais, que foi um protesto muito significativo em um momento em que há uma madorra, uma situação de paralisia no movimento sindical. Mas em meio à greve que atinge mais de 50 universidades e mais de 80 institutos federais de educação, os servidores da educação juntamente com trabalhadores de outras categorias realizaram uma manifestação com presença estimada de mais de 5 mil trabalhadores. Isso sinaliza uma tendência de luta presente no movimento sindical e acontece justamente na semana em que o ministro da fazenda, Fernando Haddad, veio a público infelizmente contrariando a expectativa dos servidores e dos trabalhadores, que votaram no Lula justamente para enfrentar um dos problemas centrais da classe trabalhadora, que é a política de arrocho salarial, de expropriação dos salários realizada pelos governos Temer e Bolsonaro […] Essa política é uma política kamikaze do governo, de se chocar com um setor que foi importante no apoio ao Lula, pra queimar o próprio governo Lula com um setor que o apoiou com a expectativa de recomposição salarial. É preciso que a CUT e os sindicatos chamem a unificação desse movimento, pois é necessária um greve ampla e geral dos servidores contra a política da direita, dos setores neoliberais, de esfolarem os servidores públicos, de cortar na carne daqueles que trabalham, para oferecer o sacrifício em favor dos banqueiros e da suas máfias políticas que estão avançando com exigências cada vez maiores contra o governo”.
Ainda, o programa denunciou a posição reacionária da deputada Tebete do Amaral (PSB), que criticou o deputado Glauber Braga (PSOL) pela sua indisposição com um membro do MBL, fazendo um apelo demagógico à “não-violência” dentro da política. A esse respeito, Tiago Pires comentou: “a Tabata do Amaral saiu em defesa de um membro do MBL, que provocou o Glauber Braga. O Glauber escorraçou o cara do parlamento, e ela veio com um discurso pacifista […], dizendo que violência não é uma maneira aceitável de lidar com as divergências políticas […] Lembrando que ela é uma ‘capitã do mato’ da luta das mulheres, sempre votando contra os interesses populares, como a gente viu na questão da entrega da água, na questão das leis trabalhistas, da reforma da previdência, e uma série de outros ataques que ela apoiou, inclusive ela participou daquela manifestação que o MBL fez em oposição às manifestações de rua da esquerda pelo Fora Bolsonaro, ela esteve lá junto com o MBL. Então ela é uma amiguinha deles e não deve se lembrar de toda a violência que o MBL comandou contra os setores da esquerda, junto ao pessoal que iria se tornar bolsonarista, e aí vem querer dar lição de moral de como a gente deve combater a direita, sem colocar em questão que existe toda uma história por trás. Qualquer ataque que eventualmente venha da esquerda contra a extrema-direita tem que ser entendido como uma resposta de tudo que foi feito historicamente contra o setores populares. Nesse sentido temos que nos solidarizar com o Glauber Braga e também apoiar todos aqueles que criticaram esse embuste que é a Tabata do Amaral”.
Por fim, o Resumo do Dia noticiou um evento social organizado por Guilherme Boulos (PSOL) para arrecadação de fundos com objetivo de financiar a candidatura do psolista e de sua vice, Marta Suplicy, à prefeitura de São Paulo. Longe de deslegitimar o direito de Boulos de promover essa iniciativa, os companheiros apenas questionaram a relevância do propósito do evento e destacaram a diferença de tratamento dada por alguns setores da esquerda ao evento, quando comparada à reação diante das campanhas financeiras e políticas levadas adiante pelo PCO. O militante revolucionário Tiago Pires se posicionou em defesa do partido: “Eu confesso que quando vi a notícia eu limpei a vista, achei que estava precisando de óculos, mas o valor era esse mesmo: o senhor Guilherme Boulos vai participar de um jantar onde o PSOL está vendendo convites que custam entre 1.000 e 20.000 reais. Tudo isso seria pra arrecadar fundos para o pré-candidato à prefeitura de São Paulo, o Guilherme Boulos. Essa festa vai ser realizada no Club Homs, um lugar muito chique. Então isso coloca pra gente uma reflexão: a gente do PCO vai realizar um jantar e está pedindo 200 reais pelo convite para arrecadar fundos com a finalidade de custear os materiais que a gente vai levar para a rua e fazer a defesa da Palestina com 1 milhão de panfletos, 80 mil cartazes e 100 mil adesivos, e estamos convidando os simpatizantes e militantes de esquerda a se solidarizar e participar desse evento que tem uma finalidade nobre. Nós precisamos criar um movimento nacional em defesa da Palestina que seja capaz de pressionar o governo Lula a romper as relações políticas, econômicas e militares com o estado nazista de Israel. Essas críticas (ao PCO) a gente viu também em outros momentos […] Mas você não vê nenhuma crítica, por exemplo, a essa festa aí do Boulos. Você vai cobrar de 1.000 a 20.000 reais pro trabalhador? Não é o trabalhador que vai participar dessa festa. São os setores da alta classe média e é a burguesia que vai financiar a campanha desse embusteiro também que é o Guilherme Boulos, que vai ser candidato junto com a golpista, ambos golpistas, que é a Marta Suplicy”.
Assista ao programa na íntegra: