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Guerra no Oriente Médio

Para o MRT, resistência palestina e nada são a mesma coisa

Grupo ignora completamente a ação dos grupos armados na derrota de "Israel"

Em artigo intitulado Israel assassina 2º líder do Hamas em ataque no Líbano e afirma que seguirá ofensiva em 2024, um tal Gabriel “Biro”, apresentado nas redes sociais como “mestrando da UFPE e militante da Faísca Revolucionária”, apresenta o assassinato de Salah al-Arouri, vice-presidente do gabinete político do Hamas, como uma “nova fase de sua ofensiva genocida contra o povo palestino”. Segundo o texto, publicado pelo portal Esquerda Diário, do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), a iniciativa israelense comprovaria a existência de “um planejamento para alargar a ofensiva militar na região, se preparando para se estender no tempo, pois as operações militares irão continuar ‘ao longo de todo’ ano de 2024”.

O assassinato ao qual “Biro” se refere é, de fato, um acontecimento importante. Não apenas pela posição de Salah al-Arouri no Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), mas principalmente porque ele ocorreu em um território que não era, até o momento, parte dos conflitos iniciados após a Operação al-Aqsa. “Israel” matou Salah al-Arouri com drones enviados para a cidade de Beirute, capital libanesa. Não há dúvidas, portanto, que se trata de uma tentativa do Estado sionista de aumentar o número de países e organizações envolvidas na guerra. Mas seria correto caracterizar a ação de “Israel” como uma “nova ofensiva”?

Segundo “Biro”, a “nova ofensiva” israelense seria uma necessidade de “expandir o conflito”:

“Ainda que os bombardeios, o genocídio e a barbárie da crise humanitária na Faixa de Gaza por parte de Israel estejam elevando os termometros [sic] da luta de classes no Oriente Médio, que podem estar colocando limites para ofensiva isralense [sic] e fortalecendo a resistência palestina, eventos recentes demonstram que Israel se prepara para expandir o conflito na região e não arrefece-lo.”

Para o Esquerda Diário, portanto, seria “Israel” quem estaria tomando a iniciativa. Se é o Estado sionista quem está decidindo “expandir o conflito”, somos obrigados a concluir, portanto, que o Estado sionista é tão poderoso que, ao mesmo tempo em que está promovendo um genocídio na Faixa de Gaza, também seria capaz de impor derrotas a uma série de organizações inimigas sediadas em países vizinhos, como Líbano, Iêmen e Síria. Chegaríamos à conclusão, portanto, que estaríamos prestes a testemunhar uma nova “Guerra dos Seis Dias”, quando o Estado sionista tomou territórios da Faixa de Gaza, da Síria e do Egito, desmoralizando por completo o movimento nacionalista de Gamal Abdel Nasser.

Para que não haja dúvida de que essa é a análise de “Biro”, basta levar em consideração o trecho abaixo, em que o mestrando da UFPE justifica a retirada das tropas sionistas:

“A mídia burguesa internacional vem propagando que seria uma ‘retirada de tropas da faixa de Gaza’, como um sinal de recuo. Mas o próprio Estado de Israel nega categoricamente o fim da ‘guerra’, ao contrário, reafirma que as movimentações de tropas sendo realizadas é justamente um planejamento para alargar a ofensiva militar região, se preparando para se estender no tempo, pois as operações militares irão continuar ‘ao longo de todo’ ano de 2024.”

As declarações de “Biro” são bastante reveladoras do que pensa o MRT sobre a guerra no Oriente Médio. Segundo ele, a retirada das tropas sionistas não seria “um recuo”, mas sim uma reorganização militar. Ora, mas isso é justamente o que diz o… Estado de “Israel”! Quais serão os fatos? O que teria levado “Israel” a retirar seus soldados do campo de batalha? Será que não tem outra explicação senão a dos serviços de inteligência “israelenses”?

Sim, há. Primeiro, aos fatos. Segundo a imprensa sionista, pelo menos 500 soldados “israelenses” teriam sido mortos pelas forças de resistência palestina. Além disso, 57 oficiais e agentes da Polícia de “Israel” também foram mortos nos assentamentos, juntamente com cerca de dez soldados do Shin Bet, órgão de inteligência interno de “Israel”. Tudo isso reconhecido pela própria imprensa “israelense”, de tal forma que o número pode ser muito superior. Não custa lembrar, também, que “Israel” não está combatendo as forças armadas de um outro Estado, mas sim organizações militantes armadas.

Há vários outros fatos que corroboram com os dados emitidos pela imprensa sionista. Em novembro, David Orin Baruch, diretor do cemitério Monte Herzl, a oeste de Jerusalém Oriental ocupada, disse que, a cada hora, era enterrado um militar israelense. Tal declaração levaria à conclusão de que o número de militares mortos já seria algo em torno de 700 por mês.

Há mais. Logo após a Operação al-Aqsa, de 7 de outubro, o primeiro-ministro “israelense” Benjamin Netanyahu prometeu “exterminar” o Hamas. No entanto, recentemente, o próprio primeiro-ministro reconheceu que seriam necessários “meses” para alcançar seu objetivo. A incapacidade de vencer os combatentes do Hamas, portanto, parece ser uma explicação muito mais plausível para a retirada das tropas que um novo “planejamento” de “Israel”. Vale lembrar, também, que neste momento há vários soldados “israelenses” em hospitais psiquiátricos, traumatizados pelo combate travado contra a resistência.

Tudo indica, na verdade, que a guerrilha palestina esteja se desenvolvendo como um espetáculo, como uma sinfonia orquestrada pelos dirigentes do Hamas. Conforme já demonstrado em vários vídeos, os combatentes islâmicos destruíram blindados jogando granadas com a própria mão e emboscaram os soldados sionistas aparecendo e sumindo de túneis cujas entradas e saídas são imperceptíveis para quem não vive na região.

As falas dos dirigentes do Hamas e de seu braço armado, as Brigadas al-Qassam, corroboram a situação extremamente favorável da resistência palestina. No dia 10 de dezembro, Abu Obeida, porta-voz das Brigadas al-Qassam, afirmou:

“Em 10 dias, nossos combatentes conseguiram confrontar as forças inimigas em várias frentes antes do cessar-fogo nas regiões norte, central e sul”, atestou o porta-voz das Brigadas al-Qassam. “Nossos combatentes destruíram com sucesso mais de 180 veículos militares em 10 dias, incluindo blindados, tanques e escavadeiras (…) realizamos um número significativo de operações contra as forças de artilharia fora dos assentamentos, envolvendo forças dentro de edifícios e emboscadas contra forças de infantaria (…) realizamos dezenas de operações de franco-atirador e detonamos um campo minado (…) nossas operações resultaram em um grande número de fatalidades e feridos confirmados [das forças sionistas], e nossos combatentes retornaram em segurança às suas bases após cada operação.”

E não é apenas o discurso. A conduta dos dirigentes também apontam no mesmo sentido. Nas últimas declarações públicas, os porta-vozes do Hamas têm deixado claro que só irão negociar a troca de prisioneiros com “Israel” se o Estado sionista suspender os bombardeios. Essa posição não é de quem está perdendo a guerra, mas de quem, na pior das hipóteses, está conseguindo se defender das hostilidades inimigas.

É realmente incrível que em um texto que se propõe a analisar a política do governo “israelense”, o MRT seja incapaz de citar, em momento algum, as vitórias da resistência palestina. “Biro”, no entanto, procura outras explicações para as mudanças operadas por “Israel” no terreno militar:

“Enquanto isso, em Israel, a crise política que ameaçava Netanyahu antes do desencadear da ofensiva contra Gaza, segue internamente, colocando mais instabilidades políticas a um governo profundamente questionado pela população judia. A Suprema Corte de Israel derrubou, na segunda-feira dia 1 de janeiro, um controverso plano governamental do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para limitar os poderes do judiciário, numa medida que reacendeu tensões políticas no país. A lei vetada pela corte é elemento-chave de uma revisão do sistema judiciário que provocou uma divisão profunda da sociedade israelense e motivou meses de protestos.”

De onde vem esse “elemento-chave”? Assim como “Biro” não explica o recuo dos “israelenses”, também não explica porque, no meio deste conflito, a Suprema Corte de “Israel” decidiu tomar uma decisão que, necessariamente, aumentaria a crise política no país. A explicação é simples: a Suprema Corte de “Israel”, assim como o Supremo Tribunal Federal (STF), é uma trincheira do imperialismo norte-americano no regime político. A disputa entre Netanyahu e Suprema Corte é a disputa entre a extrema direita “israelense”, que procura ter uma posição mais independente dos Estados Unidos, e o próprio imperialismo, que tem a necessidade de controlar o regime “israelense” para que ele não desperte uma revolta generalizada no mundo árabe. A ação do Supremo Tribunal, portanto, é uma tentativa do imperialismo de, por meio do próprio regime “israelense”, conter a extrema direita. E por qual motivo? Estariam os Estados Unidos desejando que “Israel” não vencesse a guerra contra os povos árabes? Não, pelo contrário: a preocupação dos Estados Unidos é justamente com a fraqueza de “Israel”, que, sob a pressão da extrema direita, irá provocar novos conflitos, sem a garantia de que irá os vencer.

Mais adiante, “Biro” até cita os Estados Unidos:

“Biden, por sua vez, liderando os EUA, principal força imperialista que apoia e oferece suporte militar, econômico e logístico a Israel, segue pressionado pelas eleições de 2024.”

Mais uma vez, no entanto, faz questão de ignorar a resistência palestina. De fato, o apoio a “Israel” está minando o pouco apoio social que o presidente Joe Biden tem nos Estados Unidos. Mas isso não resume o problema. A preocupação do imperialismo não é apenas com as eleições, mas com o fato de que a resistência árabe pode lhe impor uma derrota sem precedentes no Oriente Médio. Prova disso é a ação dos Hutis, no Iêmen, que pode levar a uma crise econômica de grandes proporções. Mesmo que torne Joe Biden impopular, o peso de apoiar Benjamin Netanyahu poderia ser compensado de outra forma, aumentando a repressão dentro do próprio país. O que mais preocupa os Estados Unidos, na verdade, é que o avanço da resistência palestina pode levar à destruição do Estado de “Israel”.

Há ainda uma questão que merece ser respondida. Se a resistência árabe está sendo vitoriosa, por que, então, “Israel” estaria interessada em “expandir a guerra”? Ora, porque isso é mais uma demonstração de fraqueza, e não de força! “Israel” decidiu provocar o Líbano e o Hesbolá ao realizar um atentado em Beirute porque vê na generalização do conflito a única forma de os Estados Unidos entrarem na guerra e, assim, prolongarem o conflito. Assim como “Israel” bombardeia civis porque não consegue vencer os combatentes do Hamas em terra, as provocações contra o Líbano é um ato de desespero, de quem está pedindo desesperadamente para que o imperialismo não lhe abandone, como já praticamente abandonou o presidente ucraniano Vladimir Zelensky.

Não se trata, portanto, de uma “nova ofensiva”, no sentido de que “Israel” estaria prestes a exterminar uma dúzia de organizações árabes. Trata-se, pelo contrário, de uma reação de um Estado que sabe que está sendo visto como fraco por todo mundo.

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