O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), utiliza as enchentes no Rio Grande do Sul para fazer coro com a campanha imperialista sobre as “mudanças climáticas”. Em seu artigo publicado no Brasil 247 nesta sexta-feira (17), diz que “A tragédia que se abate sobre o RS é um exemplo marcante e doloroso da necessidade de agirmos imediatamente, de investirmos em uma economia sustentável”, como se o problema não fosse o neoliberalismo, mas uma vaga insustentabilidade econômica.
O desastre no Rio Grande do Sul não é fruto de um investimento x ou y, mas da falta quase absoluta em investimentos públicos. Os governos estão interessados em “cortar gastos”, uma exigência do “mercado”, para que reste dinheiro para os bancos, que parasitam as contas do Estado.
Até mesmo a imprensa burguesa tem sido obrigada a reconhecer o abandono em que se encontrava o Rio Grande do Sul. O sistema de contenção de enchentes estava há anos completamente sucateado e sem manutenção. Bombas quebradas, comportas enguiçadas, espaço entre barreiras que permitiam a passagem de água. A lista é enorme.
Política imperialista
A tal “economia sustentável”, segundo Rodrigues, deve ainda ser “inclusiva e justa, focada em fontes renováveis de energia e matéria-prima, na resiliência e adaptação de nossas cidades às novas condições climáticas, na recuperação de nossas áreas degradadas, na redução da nossa pegada de carbono e na inclusão econômica e social dos mais necessitados”.
A “inclusão” e “justeza” são apenas enfeites para a defesa que o governador faz da política imperialista, que fala de condições climáticas, fontes renováveis, pegada de carbono e todo um palavrório para enganar os incautos.
As “condições climáticas” estão sendo utilizadas para encobrir a culpa do neoliberalismo, e de seu representante no Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite, pela enchente e centenas de milhares de desabrigados.
O clima muda, falar em “mudanças climáticas” chega a ser redundância, pois a geologia comprova que nosso planeta tem passado por infinitas alterações no clima. A questão é: como nos precavermos. A prevenção só pode ser efetiva com os gastos públicos em obras de contenção. E não apenas isso, mas um contínuo sistema de manutenção dessas obras. O neoliberalismo, porém, exige que se corte esses gastos, foi exatamente por isso que o imperialismo deu o golpe de Estado em 2016, para, dentre outros crimes, aprovar o teto de gastos e amarrar as contas governamentais em favor do pagamento de juros para os bancos.
Propaganda
Um dos parágrafos do artigo de Jerônimo Rodrigues é uma verdadeira peça de propaganda. O governador diz que “agir no presente construindo um futuro melhor exige que invistamos cada vez mais em sustentabilidade, e há um aspecto desse contexto no qual a Bahia, assim como outros estados do Nordeste, se coloca cada vez mais em lugar de notoriedade: a transição energética. Impulsionado por sua rica fonte de energia solar e eólica, o estado lidera a transição energética do Brasil. Com 92,32% de sua matriz energética proveniente de fontes renováveis, destaca-se como modelo de sustentabilidade”.
É preciso esclarecer que as energias eólicas e solar não são assim tão “sustentáveis”. A produção de placas solares, por exemplo, demanda um enorme gasto de energia “suja”, que vai desde a mineração, transformação do quartzo, transporte etc., que, em grande medida, acaba se transformando na troca de um “carbono” por outro.
As fazendas eólicas são outro problema. As pás das turbinas eólicas são feitas de resinas derivadas de petróleo e têm uma vida útil não muito longa devido ao esforço que sofrem. No Nordeste, elas já estão virando um lixo que ninguém quer descartar. Há também o impacto do barulho, que incomoda quem mora em suas proximidades, bem como um grande impacto na vida selvagem. Temos ainda nesses dois tipos de geração de energia a presença de bancos de baterias de lítio, altamente tóxicas e de difícil descarte.
Estamos dizendo com isso que não se deve investir nesse tipo de tecnologia? Não, pois é preciso pesquisar e desenvolver todos os recursos. Mas é necessário desmascarar essa farsa de “energias renováveis”, “sustentáveis”. O Brasil tem a maior bacia hidrográfica do mundo, bem como uma das maiores reservas de petróleo. Seria muito mais racional investir nessas matrizes energéticas. No entanto, o lobby imperialista, por meio das ONGs, infiltrou identitários no governo, como Marina Silva e Sônia Guajajara, que tentam impedir nosso país de se desenvolver em favor do grande capital estrangeiro.
Acobertamento
Em vez de denunciar o neoliberalismo, a gestão criminosa de Eduardo Leite, e os cortes de gastos públicos que afetam o seu próprio governo, Rodrigues fala em investimentos maciço, hidrogênio verde. Se aproveita para dizer que “a Bahia possui os melhores e mais eficientes ventos do país, de acordo com o próprio mercado, com potencial de geração…”. Está preocupado em atrair negócios “sustentáveis”, quando o problema visivelmente não é esse.
A política de “sustentabilidade” só tem servido para impedir o desenvolvimento de países explorados pelo imperialismo. Tem impedido que se construam estradas de ferro, hidrelétricas, condenando nosso país a voltar para a Idade da Pedra. Não é possível manter uma indústria, hospitais etc., apenas com as energias ditas “renováveis”. Essas, no máximo, podem por enquanto servir como um adendo para o sistema energético.
O papel da esquerda tem de ser o de denunciar o neoliberalismo em vez de aderir à campanha enganosa imperialista das mudanças climáticas e das falsas promessas de energias renováveis. Tudo isso tem servido para acobertar os verdadeiros culpados pelos desastres que tem levado dor e desespero para a população trabalhadora.
Toda essa ladainha climática e identitária afasta a classe trabalhadora da esquerda pequeno-burguesa, pois quer empregos, quer se desenvolver. A esquerda que prega um “capitalismo verde” tem contribuído apenas para promover a política imperialista, responsável pelo esmagamento brutal e pela deterioração da qualidade de vida dos trabalhadores.