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Ricardo Rabelo

Ricardo Rabelo é economista e militante pelo socialismo. Graduado em Ciência Econômicas pela UFMG (1975), também possui especialização em Informática na Educação pela PUC – MINAS (1996). Além disso, possui mestrado em sociologia pela FAFICH UFMG (1983) e doutorado em Comunicação pela UFRJ (2002). Entre 1986 e 2019, foi professor titular de Economia da PUC – MINAS. Foi membro de Corpo Editorial da Revista Economia & Gestão PUC – MINAS.

Coluna

Os tentáculos do Sionismo Global

"A presença e penetração do sionismo no mundo capitalista é imensa e não se resume ao Estado de Israel"

O genocídio em Gaza gerou uma série de estudos sobre o sionismo, enfatizando a questão do Estado de Israel como concebido e construído de acordo com um planejamento perverso. Esta é a realidade que se tornou presente em nosso dia a dia, que nos enche de indignação e que nos leva a acreditar que a possível extinção do Estado de Israel eliminará o poder do sionismo no mundo.

Na verdade, a presença e penetração do sionismo no mundo capitalista é imensa e não se resume ao Estado de Israel. Pode se dizer que, como uma praga, o sionismo se infiltrou e penetrou de tal forma nas estruturas capitalistas mundiais que a única forma efetiva de eliminá-lo é destruindo a estrutura monstruosa e perversa do capitalismo mundial. A burguesia judaica sempre se inseriu nas esferas comerciais e financeiras desde a origem do capitalismo. Não é surpreendente, portanto, que ela vai crescer e se expandir com o desenvolvimento do capitalismo, onde a forma financeira do capital ganha cada vez mais preponderância.

A gênese do sionismo

Em suas etapas iniciais, o sionismo foi se tornando importante na Europa à medida que crescia o poder econômico e financeiro das poderosas famílias judaicas que patrocinavam o movimento desde o início, e com sua vinculação bem sucedida ao Império Britânico, sendo, ao mesmo tempo, um instrumento e um parceiro de sua expansão colonial, cuja metodologia de dominação foi usada posteriormente no Estado judeu.

Por outro lado, a implantação do Estado judeu na região próxima ao Canal de Suez e onde se explorava com sucesso o petróleo servia aos interesses do Império, o que se materializou no patrocínio inglês do “lar judeu” na Palestina através da declaração de Balfour, nome do ministro de Relações Exteriores da Inglaterra, Arthur James Balfour. A declaração foi entregue o Barão Lionel Walter Rothschild, líder do mais importante grupo financeiro sionista da Europa, para transmissão à Federação Sionista da Grã-Bretanha e Irlanda.

Outro vínculo tenebroso do sionismo foi com a Alemanha Nazista, que foi concretizado no chamado Acordo de Haavara de 25 de agosto de 1933 . Este acordo garantiu a transferência de cerca de 65000 judeus para a Palestina porque eles concordavam com os fundamentos do sionismo, sendo os demais submetidos aos campos de concentração e ao extermínio pelo regime nazista.

Apesar de fundamental a criação e manutenção do Estado judeu no Oriente Médio para funcionar como instrumento de controle dos Estados árabes e impedir que a revolução destes povos progredisse em aliança com a URSS, outra inserção do sionismo seria fundamental para que ele crescesse e se tornasse congênito do capitalismo: a que foi feita com a emigração de um grande fluxo de judeus para os Estados Unidos.

A inserção do sionismo nos EUA

A partir de 1845 que o Movimento Sionista Mundial empreende uma política de inserção nos setores da classe dominante dos Estados Unidos. Não é à toa que a burguesia judia seja fundamental para a consolidação do capitalismo nos Estados Unidos, e sua expansão para o restante do mundo capitalista.

Banqueiros e comerciantes judeus imigrantes da Europa começaram a se estabelecer nos Estados Unidos, nas décadas de 40 e 50 do século XIX. Destaca-se aí um importante grupo de bancos, especialmente com capital financeiro alemão. Todos eles se vinculavam à família Rothschild, e acabariam estabelecendo amplas relações não apenas econômicas, mas também sociais.

August Belmont, agindo em nome da família Rothschild, criou a firma August Belmont & Co., que ficaria encarregada de realizar transações cambiais, empréstimos comerciais e privados e transações societárias, dessa forma, contribuindo para a criação do grupo bancário Morgan.

Os Rothschild também apoiaram os banqueiros judeus alemães Kuhn, Loeb e Seligman, que vão criar o Banco J. & W. Seligman & Co., que teve grande participação no financiamento de ferrovias, na construção do Canal do Panamá, bem como da formação da Standard Oil e da General Motors. Outra família bancária judia-alemã, os Warburgs, se tornou sócio da Kuhn, Loeb & Co., e passaria a administrar a Wells Fargo & Co., bem como o Manhattan Company Bank. A Kuhn, Loeb &Co assumiria o controle da Western Union e Westinghouse, bem como diferentes linhas ferroviárias. A família Lehman, por sua vez, criou seu banco Lehman Brothers, que no início do século XX seria associado ao Goldman, Sachs e Co., com fama de escolher por conta própria os cargos de secretário do Tesouro dos EUA.

Um importante fato aconteceu em 1913, quando cinco famílias judias-sionistas assumiram o controle do Federal Reserve. São as famílias ROTHSCHILD, ROCKEFELLER, KUHN-LOEBS, GOLDMAN SACHS e LEHMAN. O Federal Reserve (FED) é uma entidade privada que empresta dinheiro a outros bancos, controla as taxas de juros, a cunhagem de moeda e detém o direito exclusivo de emitir notas. 

Quando este tipo de formação social se tornou hegemônica em termos internacionais , essas famílias também passaram a controlar o capital financeiro internacional, o que desde então lhes deu uma enorme capacidade de controlar os destinos econômicos e, portanto, políticos do mundo.

A partir daí, o capital financeiro judaico e sionista vai definir a eleição de importantes funcionários governamentais e até de presidentes, bem como dos órgãos de controle da política monetária e de instituições de crédito locais e globais (chefes do Tesouro, Secretário do Comércio, diretores do Banco Mundial e do FMI). 

Outros fundamentos do seu poder, são os consórcios petrolíferos e tecnológicos, a indústria bélica, constituindo também o Complexo Industrial Militar dos EUA. Este mesmo capital grande influência nos conglomerados mediáticos e de entretenimento, a indústria cultural e artística, em geral, nas organizações sociais, empresariais e profissionais, nas fundações e ONGs.

O capital financeiro judaico sionista influencia uma boa parte da força militar, econômica, sociocultural e diplomática dos Estados Unidos. São os grandes credores do mundo capitalista o núcleo fundamental do imperialismo. 

As estruturas do poder sionista nos EUA

O poder sionista é, certamente, uma extensa e complexa rede de capitalistas e empresas interligados e interagindo entre si, destinados a influenciar direta e sistematicamente a política externa dos principais países imperialistas de forma a apoiar a entidade sionista. 

Dessa forma, muitos dos grandes magnatas corporativos nos EUA estão por trás dessa potência mundial sionista, como doadores diretos ou financiadores. Também muitos cargos no Congresso, no Senado e em posições-chave estratégicas, como o Tesouro e o Departamentos de Estado, o Pentágono, o Conselho de Segurança Nacional e a própria Casa Branca.

Algumas das organizações sionistas nos EUA:

Liga Antidifamação contra o Antissionismo (1914; que teria sua réplica anos depois — 1927 — na Liga Internacional contra o Racismo e o Antissemitismo, na França); Organização Sionista da América (1897; afiliada da Organização Sionista Mundial até 1993, quando o Movimento Sionista Americano foi oficialmente criado); Movimento Sionista Americano (1993); Congresso Judaico Americano (1918); Conselho Sionista Americano; Comitê de Assuntos Públicos EUA-Israel (1959; geralmente mantém apoio direto ao Likud. Todos os membros da Conferência dos Presidentes pertencem à sua comissão executiva.) Todos eles são constituídos como grupos de pressão, comitês de ação política, think tanks e grupos de vigilância da mídia

A tudo isso deve ser adicionado o sionismo evangélico (cristão), tais como: Maioria Moral (1979); Embaixada Cristã Internacional em Jerusalém (1980); Fraternidade de Cristãos e Judeus (1983); Conselho de Pesquisa Familiar; Coalizão de Unidade Nacional para Israel (1991); Christian Friends of Israeli Communities (1995) especialmente posicionado contra os Acordos de Oslo; Cristãos Unidos por Israel (2006).

Estes são os principais “THINK TANKS” sionistas:

Pilgrims Society (1903), um ramo americano da sociedade criada na Inglaterra um ano antes. Receberá contribuições substanciais dos fundos da família Morgan, Rockefeller, Carnegie e Lazard Brothers; Mesa Redonda (1909); Royal Institute of International Affairs (1920) – Londres; Conselho de Relações Exteriores (1921); Instituto Aspen (1949); Instituto de Pesquisa de Política Externa (1955); Instituto Hudson (1961); Instituto Washington para a Política de Pessoas Próximas (1985); Centro de Política de Segurança (1988); Instituto Gatestone (2008).

Sionismo e Imperialismo

Esta vinculação integral do sionismo nos EUA com o Estado Judeu explica porque ele mergulhou no genocídio irrestrito em Gaza, pois o sionismo faz todos acreditarem do “direito de se defender” de Israel e, portanto, de descumprir qualquer lei ou regra internacional, como as resoluções da ONU. Para se defender, o Estado sionista pode, assim como o III Reich, ocupar territórios, praticar o apartheid, realizar pogroms, cometer os mais hediondos crimes de guerra.

Ele age como uma base militar do imperialismo na Ásia, mas também e principalmente como um agente político que impede, com sua vitimização do holocausto, que as instituições internacionais, sejam econômicas, diplomáticas ou legais, tenham capacidade de punir o Estado criminoso, pois elas estão sob o controle direto dos EUA, que carrega dentro de si o poder mundial sionista.

Em 1948, os EUA foi o primeiro governo a reconhecer, poucos minutos após sua proclamação, como entidade estatal independente, o Estado de Israel. Na verdade, além da sustentação política, os EUA forneceram vultosos recursos financeiros , um total de US$ 7 bilhões entre 1949 e 1965. De 1966 a 1970 foram US$ 63 milhões por ano. Em 1971, essa quantia subiria para US$ 634,5 milhões (sendo 85% para assistência militar), multiplicando-se por mais de 5 vezes após a Guerra do Yom Kippur, em 1973.

Nos anos 90, o Estado de Israel recebeu cerca de US$ 92 milhões, mais de 2/3 dos quais dos Estados Unidos. Também tem o privilégio de receber empréstimos dos bancos comerciais do mundo a taxas de juros abaixo do resto do mundo.

A derrota de Israel 

Apesar de todo este dinheiro, Israel não está vencendo a “guerra contra o Hamas”, que foi o promotor, para Israel, de um novo Holocausto . Israel, no entanto, está perdendo também a guerra cultural, pois deixou de ter importância o argumento de ter sido vítima de massacre quando comete o mesmo tipo de crime contra os palestinos em uma dimensão muito maior.

Está claro que a violência de Israel não advém da agressão que sofreu em 7 de outubro de 2023, pois esta violência se dá desde pelo menos desde 1948 contra uma população indefesa. Os palestinos foram submetidos à expropriação de suas terras, a pilhagem de seus bens, os assassinatos em massa, a detenção em prisões arbitrárias de pessoas inocentes, o confinamento, a separação violenta das famílias, o impedimento de acesso à eletricidade, à água, à comida e remédios. Na verdade, Israel não tem direito de defesa, já que é uma potência invasora que ocupa ilegalmente um território, e submete seus habitantes à tortura diária de violências em todos os aspectos. 

O Declínio do Imperialismo

O imperialismo, que traz em seu interior o parasitismo sionista, determina o uso de todo tipo de instrumento para impedir o desenvolvimento dos países atrasados e tenta por todos os meios deter a China. Para imperialismo, o avanço econômico e tecnológico deste país que nunca invadiu ou destruiu outro país é inaceitável e deve ser suprimido. Não pela concorrência no mercado mundial, mas pelas sanções econômicas e agressões militares por ousar desafiar seu poder global.

A Rússia, que por defender militarmente a sobrevivência das populações russas da Ucrânia, paga um alto preço em milhares de sanções e sua virtual exclusão do mundo financeiro, reagiu e mostra uma economia em crescimento e um grande apoio popular a seu governo, o que não acontece nos países do bloco imperialista. O sionismo internacional, apesar de debilitado em Israel, onde age usando a violência criminosa contra um povo oprimido, reage a partir dos polos de poder e domínio da ordem econômica mundial controlados pelo imperialismo. 

Os EUA, demente como seu presidente, mostra-se cada vez mais disposto a desencadear a fase nuclear da Guerra Total à qual nos submeteram. A partir da Palestina, ele ameaça explodir toda a Ásia. Apesar de ter obrigado a Ucrânia a uma aventura militar impossível que determinou a devastação do país, expande sua intervenção direta no conflito apenas para tentar demolir um dos maiores países do mundo. A submissão da Europa a este esforço de guerra determinou um processo de crise econômica e política que acordou o monstro nazista que já existia no continente. É somente um avanço na luta de classes que pode deter esta ameaça do apocalipse gerada e coordenada pelo sionismo norte-americano e israelense.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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