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Coluna

Os quadrinhos de Kiko Garcia

O terror brasileiro nos quadrinhos da nova geração

Em 1976, quando a Rio Gráfica Editora lançou a revista Kripta, eu tinha por volta de 12 anos de idade, pude acompanhar todos os números e, para quem teve a mesma sorte, certamente se lembra da arte e dos roteiros fantásticos; aquela Kripta brasileira dialogava com as famosas revistas estadunidenses Creepy e Eerie, dos anos 1960, em que monstrengos apresentavam, regularmente, histórias em quadrinhos de terror e ficção científica.

Kiko Garcia, com sua produção independente, a revista Catacumba, refere-se àquela tradição de HQs de terror, contudo, embora fazendo menções às revistas estadunidenses, os trabalhos do Kiko são diferentes por, pelo menos, dois motivos, isto é, os temas e o traço. Enquanto nos quadrinhos de terror estrangeiros e, por decorrência disso, em várias HQs brasileiras, há a presença constante de vampiros, lobisomens, múmias e zumbis, Kiko Garcia evita essas personagens; o único morto-vivo da Catacumba é o simpático apresentador das histórias.

Isso não significa insistir no folclore, tematizando sacis, curupiras ou boitatás, visto que, na Catacumba 1, o tema é o pavor na escada, na 2, loiras macabras, e na 3, antiquários dos horrores, todos eles assuntos habituais em narrativas de terror; nessas circunstâncias, a Catacumba se faz brasileira devido às personagens e ambientações, cuja maioria se refere ao Brasil da virada do século XIX para o século XX. Na Catacumba 1, por exemplo, em “Terror na Escada”, uma das personagens é o famoso ladrão anarquista Gino Meneghetti, quem revolucionou os conceitos de assalto e assaltante, no início do século XX, na cidade de São Paulo; na Catacumba 2, a história “A Loira do Asfalto” se passa em rodovias brasileiras, com os típicos postos de gasolina e borracharias; na Catacumba 3, no primeiro quadrinho da história “O Anel da Falecida”, há a imagem de um galinheiro, ainda comum nos quintais de algumas casas do interior.

Quanto ao traço do desenhista, o leitor atento, certamente, perceberá a diferença entre os traços largos do Kiko Garcia e o modo realista dos desenhos de Frank Frazetta e Steve Ditko, autores da já mencionada revista de terror estadunidense Eerie. No terror de Creepy e Eerie, os traços, apesar das particularidades de cada artista, são bastante realistas, enfatizando-se, assim, as tramas encenadas pelos roteiristas. No Brasil, contrariamente, autores de terror feito Flavio Colin ou Julio Shimamoto diferenciam-se, principalmente, pela singularidade das ilustrações; ao que tudo indica, o Kiko Garcia, com traço próximo da xilogravura característica do nordeste brasileiro, segue pelos mesmos caminhos.

Por fim, os trabalhos do Kiko Garcia se encontram na internet, bastando acessar o site https://www.kikomics.com.br/

 

 

 

 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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