A HQ “O Elvis que eu amo”, de Kelly Alonso Braga, foi finalista da feira de quadrinhos Des.gráfica 2017, na cidade de São Paulo. A história se compõe por colagens, nas quais Elvis Presley, em fotografias, atua com desenhos de uma moça, quem confessa as obsessões com o cantor; dessa perspectiva, a HQ, na primeira leitura, mostra-se uma excelente comédia com cenas constrangedoras e confusões. Na segunda leitura, porém, a comédia ganha tonalidades trágicas… por fim, o riso se resolve em drama.
Por que comédia? Em princípio, uma moça apaixonada por Elvis Presley se torna engraçada; quando isso se realiza, mediante delírios gráficos, o humor se resolve em variadas situações, entre elas, os exageros de Élvina, fixada em Elvis desde o próprio nome até a casa onde mora, repleta de fotografias, álbuns de música e cartazes do artista.
Para prosseguir: por que tragédia? Porque a fixação de Élvina, ao longo da narrativa, revela-se doentia. Não se trata apenas de admirar o artista, mas da ilusão de viver com ele, ser seu amante, e, a todo momento, confundi-lo com as demais pessoas, existindo, assim, apenas em função de Elvis; consequentemente, a protagonista perde, vagarosamente, a noção de si mesma.
Por fim: por que drama? Porque, em sua loucura, Élvina denuncia, entre outros tópicos, a alienação feminina. Vale lembrar, drama, entre suas acepções, significa “qualquer peça de caráter grave ou patético que representa ações da vida comum”. Pois bem, tal definição se adequa, perfeitamente, às desventuras de Élvina; entre elas, a dependência do modelo masculino representado pelo cantor, quem nunca foi revolucionário, colocando-se, habitualmente, enquanto garoto propaganda do american way of live, ou seja, um modo de vida distante do cotidiano de Élvina.
Além do mais, na paródia de homem que se revela tal Elvis, ele aparece distante, egocêntrico, servindo-se da mulher, quando muito, para acompanhante; cabe indagar, portanto, por que esse homem imaginário não surge, idealmente, leal, sincero, companheiro… a seu modo, talvez Élvina encene uma neurose, centrada antes ao redor da dependência de modelos masculinos do que, necessariamente, de Elvis Presley.