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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Coluna

Os pronomes demonstrativos

"Além dos pronomes pessoais, que indicam as pessoas do discurso, há os pronomes possessivos, demonstrativos, interrogativos, indefinidos e relativos"

Além dos pronomes pessoais, que indicam as pessoas do discurso, há os pronomes possessivos, demonstrativos, interrogativos, indefinidos e relativos; na coluna de hoje, vamos tratar dos pronomes demonstrativos.

Os pronomes demonstrativos têm duas funções: (1) eles indicam as posições espaciais dos enunciadores na cena formada pela enunciação; (2) eles funcionam como elementos de coesão textual. Entretanto, independentemente da função gramatical, eis os pronomes relativos, distribuídos entre as primeira, segunda e terceira pessoas, podendo ser variáveis em gênero – masculino ou feminino – e número – singular ou plural –, e invariáveis:

primeira pessoa = (variáveis) este; estes; esta; estas / (invariável) isso

segunda pessoa = (variáveis) esse; esses; essa; essas / (invariável) isso

terceira pessoa = (variáveis) aquele; aqueles; aquela; aquelas / (invariável) aquilo

Quanto às pessoas, é necessário se lembrar de que todo ato de fala ocorre em cenas enunciativas; tais cenas são formadas pelo enunciador, designado pela primeira pessoa, e pelo enunciatário, designado pela segunda pessoa. Na frase “eu quero que você venha comigo”, por exemplo, o “eu” é o enunciador e o “você”, o enunciatário; ambos demarcam posições espaciais no enunciado produzido; os pronomes demonstrativos têm, justamente, a função gramatical de designar as posições relativas de pessoas ou objetos em relação ao enunciador e ao enunciatário.

Quando o enunciador se refere a algo próximo dele, utiliza-se o pronome demonstrativo “este”, como na frase “este livro é meu”; contrariamente, quando o enunciador se refere a algo próximo do enunciatário, utiliza-se o pronome demonstrativo “esse”, como na frase “esse livro é teu”; diferentemente, quando o enunciador se refere a algo distante da cena enunciativa, utiliza-se o pronome demonstrativo “aquele”, como na frase “aquele livro é dele”. Nota-se, por meio dos exemplos, que o pronome relativo está fundamentado nas pessoas da enunciação e concorda em gênero e número com a pessoa ou a coisa referenciada – nos exemplos, trata-se de referenciar o substantivo “livro”, por isso os pronomes “este”, “esse” e “aquele” concordando com ele em gênero masculino e em número singular.

Além dessa função chamada dêitica – palavra derivada do grego “deiktikós”, cujo significado, aproximadamente, é “mostrar”, “apontar” –, o pronome relativo tem função de coesão textual. Na elaboração do texto, há na língua elementos responsáveis por sua coesão, isto é, há elementos linguísticos com função de estabelecer referências entre palavras e frases. Quando se diz “eu comprei um cavalo, duas vacas e algumas galinhas; esses animais estão saudáveis”, o pronome “esses”, da segunda oração, refere-se aos animais apresentados na primeira oração; isso é chamado coesão textual, pois, por meio do pronome demonstrativo, relacionam-se as duas frases.

Ainda na função coesiva, utiliza-se o pronome “esse” quando a referência está mencionada antes dele, ou seja, “ele vendeu livros e canetas; essas coisas estavam em liquidação”; contrariamente, quando a referência está mencionada depois, utiliza-se o pronome “este”, ou seja, “ele vendeu estas coisas: livros e canetas”. No entanto, embora seja regra gramatical do português, quase não se distinguem atualmente, devido a mudanças linguísticas, os pronomes “este” e “esse”.

Por fim, enquanto os pronomes demonstrativos variáveis concordam em gênero e número com o substantivo referido, conforme dito anteriormente – devendo-se dizer “este livro”, “estes livros”, “esta mesa” e “estas mesas” –, os pronomes demonstrativos invariáveis são neutros, não concordando em gênero nem em número com o substantivo referido, como na frase “ele vendeu livros e canetas; isso custou pouco dinheiro”.

Artigo publicado, originalmente, em 18 de agosto de 2023.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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