Na última quarta-feira (15), o governo francês decretou estado de emergência no território de Nova Caledônia, uma posse francesa do século XIX localizada no Oceano Pacífico, com 270 mil habitantes. O decreto foi uma reação aos protestos que estão ocorrendo no território, contra a mudança na lei eleitoral que a França quer impor que, segundo os manifestantes, vai aumentar o poder dos franceses.
Ao mesmo tempo em que decretou o estado de emergência, as autoridades proibiram o aplicativo de vídeos TikTok na ilha. A alegação para a censura é a de que o aplicativo foi usado para convocar manifestantes nos protestos na França no ano passado.
Dessa vez, a censura a uma rede social, em especial ao TikTok, aplicativo chinês de vídeos curtos cada vez mais utilizado mundialmente, está justificada por motivos abertamente políticos.
Isso mostra a farsa da campanha das “fake news” e do “discurso de ódio” que, até agora, tem sido as justificativas “bondosas” para censurar as redes sociais. Os verdadeiros motivos para as proibições devem ser encontrados no caso da Nova Caledônia.
Nos Estados Unidos, o governo também proibiu o TikTok de acordo com uma lei recém aprovada no Congresso chamada Lei de Proteção dos Americanos contra Aplicativos Controlados por Adversários Estrangeiros. A insinuação é a de que o TikTok seria controlado pelo governo chinês. A ByteDance, empresa fundada em Pequim, dona do TikTok, seria controlada pelo Partido Comunista Chinês.
Mas o real objetivo da censura vai muito além de uma preocupação sobre o controle estrangeiro. A chave do problema deve ser encontrada na atual censura no território francês. É um problema político.
Para compreender isso, é preciso lembrar que nem sempre as redes sociais foram controladas. Quando surgiram os primeiros portais e aplicativos, as pessoas tinham mais liberdade. Com o tempo, essas redes ficaram acessíveis para um número cada vez maior de pessoas, o que consequentemente se tornou uma ameaça aos capitalistas que antes controlavam a informação, através dos tradicionais meios de comunicação.
As redes sociais como o Facebook foram essenciais para a convocação das enormes manifestações da chamada Primavera Árabe, derrubando o ditador egípcio pró-imperialista Hosni Mubarak, por exemplo. Em outros países, as redes sociais cumpriram um papel importante na mobilização, elas serviam como um meio de comunicação eficiente entre os manifestantes. Exatamente como o governo francês afirma ter servido o TikTok no ano passado e agora no território de Nova Caledônia.
O imperialismo percebeu o perigo de deixar com que as pessoas falassem livremente na Internet. Assim, deu início a uma campanha gigantesca, internacional, pelo controle das redes sociais. Para censurar, no entanto, era preciso um pretexto moralmente justificável. É a partir daí que tem início a campanha contra o chamado “discurso de ódio” e a demagógica preocupação com as chamadas minorias. O identitarismo é a cobertura moral para uma operação ditatorial de censura contra o povo.
Dois dos maiores monopólios entre as empresas de tecnologia, o Facebook e o Google, se enquadraram mais facilmente às necessidades do imperialismo. Impuseram os algoritmos e a censura aberta contra os usuários.
Ao mesmo tempo, os serviços dessas empresas passaram a ser menos vantajosos para os usuários. Por isso, redes como o TikTok, que não são controladas pelo imperialismo, começaram a crescer. O problema do governo norte-americano, portanto, não é o controle estrangeiro, é, principalmente, a falta de controle do imperialismo.
As redes sociais, sem o controle e a censura, são um perigo para os governos imperialistas. Nese momento, um perigo ainda maior para o imperialismo norte-americano, com a mobilização estudantil em defesa da Palestina. Essa mobilização, que já é uma crise para o governo, pode sair ainda mais do controle se houver liberdade de informação nas redes sociais.
A censura ao TikTok tem o objetivo meramente político contra o próprio povo norte-americano.