Na última segunda-feira (15), o jornal direitista Gazeta do Povo publicou uma coluna intitulada Itamaraty não cansa de se mostrar servil à ditadura dos aiatolás no Irã, assinada por J.R. Guzzo. O artigo é uma tentativa de inversão da realidade, para mostrar “Israel” como potência inquestionável junto aos EUA, fortes frente à pressão anti-imperialista no Oriente Médio. Vamos aos argumentos:
“O Irã lançou mais de 300 mísseis e drones contra Jerusalém e Tel Aviv, as duas maiores cidades de Israel, e conseguiu não acertar em nada – um marco, sem dúvida, nos registros mundiais da falta de pontaria ou da incompetência em operar um sistema de artilharia.”
Aqui temos uma primeira falsificação. O Irã não teve por alvo cidades, mas bases militares. Assim sendo, seria difícil atingir alvos que não se buscava atingir. De fato, o que houve foi o ataque a duas bases aéreas e a uma posição de inteligência das forças sionistas.
“Os mísseis foram abatidos no ar pelos israelenses ou caíram em lugares vazios, de maneira que as únicas baixas foram eles próprios, os mísseis. Isso feito, o Irã declarou ‘vitória’ e parou os ataques, fazendo questão de assegurar que não ia bombardear mais ninguém, sobretudo as bases americanas na região.”
Segundo o governo sionista, que mente sistematicamente desde o 7 de outubro, e até mesmo desde o surgimento do “país”, 99% dos dispositivos iranianos foram abatidos, ao menos foi o que disseram num primeiro momento. Contudo, vídeos se multiplicam na Internet de explosivos atingindo “Israel” por uma série de ângulos, como pode ser verificado aqui.
Do ponto de vista internacional, o simples fato de o ataque ter repercutido o quanto repercutiu é demonstrativo da vitória iraniana. A polêmica ainda presente, e inclusive o artigo de Guzzo, são prova do sucesso do Irã. A ânsia imperialista em caracterizar o ataque como um fracasso, contraditoriamente, também mostra o contrário.
Se o Irã não é uma ameaça ao imperialismo, se “Israel” e EUA têm a situação sob controle, por que então todo o burburinho, que abala o mundo até este momento, causado pela operação de resposta militar do Irã? Mais que isso, a captura de um navio de carga no Golfo de Ormuz se traduz em outra grave ameaça ao regime sionista, pondo em risco a rota terrestre orquestrada para desviar do bloqueio imposto pelo Iêmen no Mar Vermelho.
O articulista, em escrita característica do desespero dos órgãos pró-imperialistas, repete ao infinito o “fracasso do Irã” que, se tão óbvio, não precisaria ser repetido, com argumentos os mais fajutos:
“O fracasso do ataque deixou duas avaliações, nenhuma delas favorável ao Irã. A primeira, mais imediata, é que foi a simples ruindade dos militares iranianos.”
“A alternativa é que não foi realmente intenção do Irã fazer um ataque para valer. Ninguém consegue ser tão ruim assim, comentam os defensores dessa segunda possibilidade […] Neste caso, mostra a mesma coisa: que não tem, na vida real, condições e nem coragem de enfrentar Israel em combate militar de verdade.”
O articulista escancara seu desconhecimento da política internacional. A resposta do Irã foi, em primeiro lugar, realizada com aviso prévio e, em segundo lugar, calculada para não abrir espaço para a entrada do imperialismo no conflito, ou dar margem para justificar um contra-ataque israelense. Dessa forma, “Israel”, supostamente invencível em combate, foi deixado com a posição humilhante de ser bombardeado e não ter como responder.
Apesar da falta de justificativa, “Israel”, enquanto entreposto militar imperialista, depende que aqueles que o cercam, todos seus inimigos, para mais ou para menos, tenham medo de seu poderio militar. A ação do Irã pôs em evidência o contrário. Caso tivesse condições, o regime sionista atacaria o Irã. Não o faz por falta de condições e por medo, como demonstrado antes do ataque, do impacto político da simples declaração de que o mesmo ocorreria.
Após o ataque, ainda, “Israel”, que descumpre rotineiramente as decisões da entidade, apelou à ONU por apoio e pela instauração de sanções contra o Irã. Ou seja, frente a sua incapacidade de responder, apelou para uma organização do imperialismo, outra demonstração de fraqueza. Por fim, uma última falsificação apresentada na Gazeta do Povo:
“Ou seja: a ditadura dos aiatolás gasta bilhões de dólares com as suas forças armadas, é considerada pela mídia em geral como uma potência de primeiro grau, até com bomba atômica, mas não é capaz de derrotar Israel no campo de batalha.”
Em números, ocorreu exatamente o contrário. O imperialismo – e “Israel” teve apoio dos EUA e do Reino Unido para isso – utilizou mais de um bilhão de dólares para a interceptação dos projéteis iranianos, e não conseguiu bloquear tudo, enquanto o Irã teria gasto cerca de um milhão, 1.000 vezes menos, para realizar o ataque.
O que se demonstra claramente é: “Israel” já não é capaz de vencer um conflito na região, o contrário do que afirma o colunista. Sua falta de resposta, o apelo à ONU e o volume de gastos para a defesa, que não conseguiu cumprir seu objetivo de neutralizar o ataque, se somam como sinais de fraqueza à lista que aumenta desde o dia 7 de outubro.