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Guerra na Palestina

O verdadeiro motivo pelo qual Lula não corta relações com ‘Israel’

Quase a totalidade da esquerda apoia o rompimento de relações com "Israel". No entanto, poucos entendem como funciona a atuação do sionismo no Brasil

Desde o início da Operação Dilúvio de al-Aqsa, em 7 de outubro de 2023, diante da campanha genocida na Faixa de Gaza foi colocada em discussão que o presidente Lula corte as relações do Brasil com o Estado de “Israel”. É uma proposta quase que unânime entre a esquerda, inclusive entre a base do PT. No entanto, ela ainda não foi realizada pelo presidente. A organização A Nova Democracia publicou um artigo adentrando essa discussão intitulado “Por que Lula ainda mantém relações com Israel?” O grande problema é que o AND não compreende como funciona a pressão sionista no Brasil, o que dificulta o combate a essa força ultra reacionária. 

O texto começa com com um resumo dos acontecimentos no genocídio na Faixa de Gaza. Então ele começa a abordar o tema “Apesar disso, e a despeito dos tremores diplomáticos das últimas semanas, o governo e o Estado brasileiros seguem a manter relações profundas com o regime israelense”. Aqui já começa o erro, o Brasil não tem relações tão profundas assim com “Israel”. Mas esse é justamente o motivo que seria necessária uma explicação de porque não houve esse rompimento até agora.

Então o Nova Democracia começa sua argumentação com a presença dos militares: “a começar pelas Forças Armadas reacionárias. O Brasil é um dos principais compradores de tecnologia e treinamento militar israelense. Alguns casos revelam a magnitude dos contratos: em 2016, a Marinha gastou R$ 75 milhões na compra de equipamentos de comunicação, carros de combate e ações para desenvolvimento e renovação de sistemas operativos. No ano seguinte, o Exército reacionário gastou R$ 6,3 bilhões em blindados importados de Israel. A Aeronáutica não foge à regra: a força já realizou pelo menos 65 pagamentos para a IAI, empresa estatal israelense”.

De fato existe uma relação comercial quanto à compra de armamentos, mas há diversas outras nações que vendem armas. Não é como se “Israel” detivesse um monopólio sobre esse setor. Ele também cita “no dia 19 de fevereiro, a CNN anunciou que o ‘Exército vê com preocupação desgaste entre Brasil e Israel’.” O importante aqui, mais que as relações econômicas, são as relações políticas. No Brasil, o sionismo tem como sua linha de frente o bolsonarismo. Isso pesa muito mais do que as compras de armas. 

O artigo então cita os latifundiários: “fora a caserna, o setor que mais se beneficia das relações com o sionismo é o latifúndio brasileiro. Das exportações do Brasil a Israel, os três principais grupos foram: “óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos cru” (21%), “carne bovina fresca” (19%) e “soja” (18%). Ou seja, 37% (soja e carne bovina) foram diretamente ao benefício do latifúndio. Os outros favoreceram as grandes mineradoras e os magnatas que enriquecem da venda do petróleo brasileiro ao exterior. O Brasil também exporta café e suco de laranja para Israel”.

Aqui o argumento é totalmente falho. A população de “Israel” é de apenas 9 milhões, em contrapartida há mais de 450 milhões de árabes no mundo. O mercado israelense é totalmente irrelevante em relação à popularidade que o governo do presidente Lula ganharia naqueles países. Isso na verdade já apareceu quando Bolsonaro comprou uma briga diplomática com os árabes, o que sem dúvida é um problema para o latifúndio.

O texto então aborda uma questão mais política: “as relações não são rompidas, portanto, por uma questão de compromisso. Por receios das consequências de atritos com a caserna depois da quase ruptura institucional de 2022, Lula está atualmente mais comprometido com os militares (ou melhor, submisso) do que em qualquer outro governo seu”. Aqui a análise é confusa. Há uma ameaça militar constante, não é um comprometimento e nem exatamente uma submissão. Os militares são golpistas em potencial e assim exercem uma enorme pressão sob o governo.

No entanto, o problema da ND não é essa confusão, mas sim que sua análise para apenas nos militares brasileiros. O sionismo, como um tentáculo do imperialismo, principalmente dos EUA, é uma força política que vem de fora, que vem do imperialismo norte-americano. Essa realidade não pode ser ignorada para analisar as relações entre “Israel” e o Brasil. Quem de longe exerce mais pressão sobre Lula não são os latifundiários e nem os militares: é o próprio imperialismo norte-americano. 

O imperialismo coloca todas as forças reacionárias do Brasil para atacar o presidente toda vez que ele se posiciona a favor da Palestina. Não só os militares se colocam contra, mas toda a imprensa burguesa, todos os partidos da direita, o bolsonarismo, as grandes igrejas evangélicas e os latifundiários. O ataque generalizado a Lula existe pois ele provém diretamente do imperialismo. O Brasil é um país muito importante e assim não deve liderar de forma alguma a luta internacional pela Palestina.

Apesar de não apontar a importância do imperialismo, o ND aponta corretamente que a capitulação ante o sionismo fortalece a extrema-direita: “nesse cenário, os agentes do sionismo aproveitam para agir livremente em terras brasileiras. Sem um enfrentamento sério por parte do governo ao sionismo e à extrema-direita (com quem o governo prefere manter uma política de composição, e não de enfrentamento), agências como a Confederação Israelita do Brasil (Conib), ascendente no Brasil desde os anos do governo Bolsonaro, perseguem sem restrições personalidades como o jornalista progressista Breno Altman. Altman foi perseguido depois de publicar tweets em apoio ao povo palestino e sua Resistência. De origem judaica, foi acusado pela Conib de antissemitismo”.

É preciso pontuar que a política de conciliação do governo não é com extrema direita mas sim com a direita tradicional. Outra divergência é que a crítica não deve se voltar ao governo Lula por si só, deve se voltar para quase a totalidade da esquerda que não saiu às ruas em defesa da Palestina. 

O acerto aqui pontuado pela ND é que o combate ao sionismo no Brasil é o mesmo que o combate à extrema-direita. A luta em defesa da Palestina é uma luta que enfraquece o bolsonarismo. A defesa de um Estado genocida feita pelo ex-presidente é um flanco aberto a ser explorado pela esquerda. 

Em conclusão, o principal erro da A Nova Democracia é colocar toda a culpa no governo do PT, que supostamente seria totalmente submisso à direita e aos militares. A realidade é que o governo tem uma posição de defesa da Palestina, mas está acuado. E que o sionismo não acuou apenas o governo Lula, mas quase a totalidade da esquerda brasileira. A principal demonstração disto é que quase nenhuma organização nacional defende o Hamas e a resistência armada palestina. 

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