Em 1959 o engenheiro palestino Iasser Araft fundou um dos partidos políticos mais importantes da história da Palestina, o Fatá, uma sigla em árabe para Movimento de Libertação Nacional da Palestina. Nos dez anos que se passaram ele se transformaria no maior partido do povo palestinos. Já desde sua fundação ele pregava a luta armada contra o Estado de “Israel”, que naquele momento tinha pouco mais de 10 anos. A guerrilha já havia começado mas ela ganharia mais força quando toda a Palestina foi ocupada em 1967.
Em 1960 o Fatá redigiu a sua constituição. Seu conteúdo é muito importante para se entender o desenvolvimento do partido e da sua luta. O texto afirma: “esta constituição gira em torno dos seguintes princípios – 1º a revolução armada que estamos travando foi colocada em órbita pelo princípio de que é uma revolução do povo, e não de uma classe distinta, e que o povo é capaz de praticar a luta de forma eficiente e consciente”. Ou seja, é um tipico movimento nacionalista, querendo unificar todos os setores da sociedade contra a ocupação estrangeira.
Ele segue: “a liderança eleita assume suas responsabilidades com base no princípio do centralismo democrático, que garante o compromisso das fileiras inferiores com as decisões das fileiras superiores. A liderança, por sua vez, é responsabilizada perante suas conferências e conselhos. As lideranças superiores assumem uma responsabilidade central que personifica a total unidade da organização em diferentes distritos e instituições”. O Fatá portanto se iniciou com um método revolucionário de organização, tradicional dos partidos operários. As inspirações da esquerda eram muito grandes no Fatá, a Revolução Cubana e a Revolução Chinesa eram referências.
O caráter militante é descrito mais abaixo: “através de sua luta, o Movimento se esforça para mobilizar o povo para obter o apoio necessário. Esta tarefa deve ser conduzida por seus membros. Portanto, não poupa esforços para que seus membros sirvam de exemplo para os outros, para atrair o povo e consolidar sua fé e lealdade à organização revolucionária. Como resultado, o membro deve levar uma vida revolucionária e exemplar, baseada na lealdade, disciplina, credibilidade, modéstia, abnegação e altruísmo”. Ou seja, os militantes do Fatá devem ser exemplos de luta para que mais palestinos sejam atraídos para o movimento.
Os objetivos do Fatá
O partido então define pelo que ele está lutando: “a completa libertação da Palestina e erradicação da existência econômica, política, militar e cultural sionista. O estabelecimento de um Estado democrático independente com soberania completa sobre todas as terras palestinas, tendo Jerusalém como sua capital, e proteção dos direitos legais e iguais dos cidadãos sem qualquer discriminação racial ou religiosa. Criação de uma sociedade progressista que garanta os direitos das pessoas e suas liberdades públicas”.
Aqui se cristalizou um programa que todos os movimentos de libertação da Palestina adotariam. Criação de um Estado democrático independente e soberano, sendo Jerusalém sua capital. O Fatá segue os passos dos demais movimentos que existiam antes da criação de “Israel” que já lutavam pela libertação de toda a Palestina do jugo dos ingleses. Agora o inimigo imperialista não eram mais os ingleses mas sim a própria ocupação sionista.
E ainda completa: “participação ativa na realização dos objetivos da Nação Árabe na libertação e na construção de uma sociedade árabe independente, progressista e unida. Apoio a todos os povos oprimidos em sua luta por libertação e autodeterminação para construir uma paz internacional justa”. O Naquele momento de amplo nacionalismo árabe, principalmente no Egito, o Fatá se inseria nessa conjuntura geral. O partido era o mais radical de todos do nacionalismo árabe dada a situação crítica da Palestina. Ele inclusive ganhou força quando acabou o nacionalismo de Nasser, que atuava como uma especie de contenção do movimento revolucionário palestino.
Por fim, nesta primeira introdução do documento, o texto repete a importância da luta armada do povo palesitno: “a luta armada é uma estratégia e não uma tática, e a revolução armada do povo palestino árabe é um fator decisivo na luta pela libertação e na erradicação da existência sionista, e essa luta não cessará enquanto o Estado sionista não for demolido e a Palestina completamente libertada”. As décadas posteriores mostraram que isso é uma realidade, “Israel” nunca permitiu que os palestinos travassem uma luta que não fosse armada.
E como um movimento revolucionário ele frisa a necessidade da unidade: “alcançar entendimento mútuo com todas as forças nacionais que participam da luta armada para alcançar a unidade nacional. Revelar a natureza revolucionária da identidade palestina a nível internacional, e isso não contradiz a unidade eterna entre a Nação Árabe e o povo palestino”. Ou seja, o Fatá defende a união de todos os setores da sociedade palestina contra a ocupação e defende que a luta Palestina não deve se separar da luta de todo o povo árabe. Foi por causa dessa política, aplicada de forma prática, que ele se tornou o mais importante movimento de luta da Palestina.
A ascenção do Fatá aconteceu em 1969 com a vitoriosa Batalha de Caramé. Iasser Arafat se tornou um líder muito popular e assim se iniciou a guerra violentíssima de “Israel” contra o Fatá. Primeiro na Jordânia e depois no Líbano. O partido foi derrotado e capitulou no fim dos anos 1980 mas sua luta derrotou completamente a ala esquerda do regime político sionista. O Hamas assumiria a tocha revolucionária abandonada na década de 1980. Mas até hoje o partido se inspira nos primeiros anos de luta do revolucionário Iasser Arafat.