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HISTÓRIA DA PALESTINA

O que foi Irgun, milícia fascista sionista

Assim como a Lehí, a milícia esteve no comando dos massacres de massacres de Deir Yessin e de Al-Dawayima. Contudo, tendo mais quadros que a primeira, cometeu inúmeros outros

Neste dia 10 de janeiro, quarta-feira, foi publicada neste Diário a primeira de três matérias sobre as milícias fascistas do sionismo, que foram essenciais para a Nakba e a fundação de “Israel”. Escreveu-se uma breve história da Lehí, também conhecida como Gangue Stern, a menor delas, e mais ideológica (no sentido de menos política). Explicou-se que a Lehí, apesar da menor, foi uma das que esteve à frente dos massacres de Deir Yessin, e de Al-Dawayima.

O artigo de hoje é sobre o Irgun, abreviação de Hā-ʾIrgun Ha-Tzvaʾī Ha-Leūmī b-Ērētz Yiśrāʾel (A Organização Militar Nacional na Terra de “Israel”).

Também conhecido como Etzel, foi, junto da Lehí, responsável pelas centenas de palestinos mortos, e pelas mulheres estupradas em Deir Yessin, e de Al-Dawayima. O primeiro, com o auxílio da Haganá. O segundo, com as milícias já incorporadas às Forças de “Defesa” de “Israel”.

As origens do Irgun remontam ao revisionismo sionista, corrente não majoritária do sionismo, mas que prosperou no Leste Europeu a partir dos anos 1920. Isto implica a necessidade de um panorama sucinto sobre essa corrente.

O revisionismo foi iniciado por um judeu nascido na Rússia chamado Vladimir Ze’ev Jabotinsky

Suas diferenças para com a corrente principal do sionismo não eram de princípios, mas táticas e estratégicas. De forma que ambos os “sionismos” eram ideologias fascistas. Explicando de forma abstrata, a corrente majoritária tendia a se por uma politica de aproximações sucessivas, e outra não, sempre declarando a necessidade imediata de dominar toda a Palestina, para erguer “Israel” sobre ela.

Segundo o historiador norte-americano Howard Sachar, “A política da nova organização baseava-se diretamente nos ensinamentos de Jabotinsky: todo judeu tinha o direito de entrar na Palestina; apenas uma retaliação ativa deteria os árabes; apenas a força armada judaica garantiria o estado judeu” (Howard Sachar: A History of Israel: From the Rise of Zionism to Our Time, pp. 265–266).

Era um tipo de política que, dado seu caráter “extremo”, entrava em relativa contradição com a maior parte do movimento sionista, liderado a partir dos anos 1930 pelo Mapai (Partido Trabalhista Sionista), de Davi Bem Gurion.

A política de aproximações sucessivas dessa corrente majoritária era ditada pelo imperialismo britânico, que era quem estava por trás da viabilização de um Estado judeu na Palestina. Dada a necessidade de o Império Britânico manter o controle sobre os demais países árabes da região, não era viável adotar a posição abertamente fascista de Jabotinski, isto é, do revisionismo sionista. Assim, esse movimento entrava em contradição com os ingleses.

Assim, além do Irgun ser caracterizado por inúmeros massacres de caráter fascista contra os Palestinos, também ficaria conhecido por certo antagonismo com os britânicos, assim como se deu com a Lehí. Contudo, em maior escopo, pois enquanto esta contou com poucas centenas de membros, o Irgun contou com milhares.

Pois bem, o Irgun teve origens no revisionismo sionista. Na Europa, para tornar sua ideologia um movimento político, Jabotinski criou o Betar, uma organização fascista, no sentido mais literal da palavra. Criado na Latvia, mas tendo a Polônia como centro de operações, em seu auge o Betar alcançou dezenas de milhares de membros e se espalhou por vários países da Europa. Releia a matéria publicada neste Diário sobre a organização:

Betar, a milícia fascista que elegeu 3 premiês israelenses

Contudo, como objetivo de Jabotinski era a fundação de um Estado judeu sobre a Palestina, seu movimento tinha a finalidade de levar judeus para a região, para colonizá-la e criar “Israel”. Assim, outros milhares de judeus, dentre os quais inúmeros sionistas revisionistas membros do Betar, imigraram para a Palestina. Isto se deu especialmente na década de 1930.

E foi no ano de 1931 que foi criada a milícia fascista Irgun. Jabotinski foi um de seus fundadores. Os outros foram os, igualmente, judeus russos Avraham Tehomi e David Raziel.

Tehomi teve um papel mais central na fundação. Assim como Raziel, havia sido membro da Haganá. Contudo, segundo se relata, ele teria manifestado profundas discordâncias com a maneira que o comando daquela milícia fascista lidou com a Revolta Palestina de 1929. Possivelmente por, naquela época, a milícia ainda não ser uma força altamente treinada e centralizada. Assim Tehomi deixou seus quadros para fundar a Haganá Bet, que eventualmente se tornaria o Irgun. Como ele não estava sozinho na insatisfação, vários dos quadros da Haganá também formaram as fileiras da nova milícia, para além dos sionistas revisionistas que vinha da Europa.

Assim surgiu o Irgun.

Jabotinski continuaria sendo o líder da milícia até a data de seu falecimento, em 3 de agosto de 1940, de enfarto, enquanto visitava um campo de treinamento militar sionista do Betar, na cidade de Hunter, no estado de Nova Iorque.

Tehomi, por sua vez, foi o primeiro comandante e continuou até o ano de 1937, quando retornou à Haganá e tentou reunificar as duas organizações, sem sucesso. Apesar de não cumprir aqui expor sua biografia, vale lembrar que faleceu aos 87 anos de idade, no ano de 1990, na Hong Kong Britânica, nunca tendo sido responsabilizado por nenhum de seus crimes contra os palestinos, enquanto no comando de sua milícia ou como membro da Haganá.

Outro líder importante foi ninguém menos que Menachem Begin, o fascista que esteve à frente do Estado sionista quando da Guerra Civil do Líbano, e comandou o Massacre de Sabre e Chatila. Begin assumiu o comando da milícia em 1943, permanecendo no posto até a dissolução. Releia a matéria já publicada sobre o político sionista:

O fascista que promoveu o massacre de Sabra e Chatila

O Irgun foi responsável por incontáveis massacres contra os palestinos, tanto durante o Mandato Britânico da Palestina, enquanto milícia independente, quanto após a fundação de “Israel” em 1948, durante a Nakba, com sua incorporação às Forças de “Defesa” de “Israel”.

Primeiramente, vale citar suas ações na época do Mandato:

  • 27 de fevereiro de 1939 – 33 palestinos assassinados em decorrência de vários ataques em Haifa e Jerusalém.
  • 2 de junho de 1939 – 5 palestinos assassinados por uma bomba no Portão de Jaffa, em Jerusalém
  • 19 de junho de 1939 – 20 palestinos assassinados por explosivos em um mercado em Haifa
  • 1º de novembro de 1945 – Destruição de 5 locomotivas e Lydda resultou na morte de 5 pessoas, sendo 2 funcionários das ferrovias, um soldado e um policial.
  • Atentado ao Hotel Rei David – Este é uma das ações pelas quais o Irgun é mais conhecido, para além do massacre de Deir Yassin. Apesar da repressão da milícia contra os palestinos, tratou-se de uma ação contra o império britânico e seus oficiais, uma manifestação aguda da contradição entre o revisionismo sionista e sua principal milícia e o imperialismo britânico. O atentado foi realizado em um hotel em um dia movimentado, resultado na morte de 91 pessoas, sendo 41 palestinos, 28 britânicos e 17 judeus. Total de feridos, cerca de 40. A essa época, Menachem Begin já liderava o Irgún. Ambos seriam perseguidos pelos britânicos. Contudo, a perseguição ao Irgún e a Begin não poderia ir até ao fim pelos seguintes motivos: a milícia e o revisionismo sionista já estavam enraizados em parte dos judeus; para conseguir erguer “Israel” sobre a Palestina, o imperialismo precisava passar a imagem de que os judeus lutavam por sua libertação nacional; e, por fim, para a limpeza étnica da Palestina, eram necessários grupos fascistas como o Irgún e os sionistas revisionistas, pois o imperialismo não tinha condições de fazer aberta, sob pena de perder o seu controle sobre os demais países árabes.

Nisto, o Irgún seguiu existindo como milícia fascista, atuando na Nakba, que teve início no ano de 1947.

Segue abaixo alguns de seus crimes desse ano:

  • 12 de dezembro de 1947 –  Através de bomba de barril, a milícia assassina 20 palestinos, ferindo 5, no Portão de Damasco.
  • 14 de dezembro de 1947 – Realizando bombardeios em Jerusalém e queimando 100 casas em Jaffa, a milícia assassina 16 palestinos, ferindo 67.
  • De que se tem registro, seu último massacre como milícia independente foi o de Deir Yassin, em 9 de abril de 1948, pouco antes da fundação de “Israel”. Naquela data, o Irgun comandou o assassinato de pelo menos 200 palestinos. Releia o publicado neste Diário sobre o massacre:

O massacre de Deir Yassin revela o fascismo de Israel

Após isto, a milícia foi incorporada às Forças de “Defesa” de “Israel” quando da fundação da declaração de fundação do Estado sionista, em 14 de maio 1948, sendo efetivamente dissolvida em janeiro de 1949.

Com a consolidação do Estado sionista, os membros do Irgun, o principal deles sendo Menachem Begin iriam fundar o Herut, partido de extrema-direita, mantendo vivo na política israelense o Betar e o revisionismo sionista. Do Herut, surgiu o Likud, partido do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

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