Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

O quadragésimo-primeiro, de Grigory Chukhrai

Filme questiona a versão pequeno-burguesa do amor romântico e o papel das mulheres na Revolução

Assistir a O quadragésimo-primeiro (título original em russo: Сорок первый), dirigido pelo diretor Grigory Chukhrai para o estúdio soviético Mosfilm em 1956, é uma interessante experiência sobre a forma da representação na arte soviética do século XX.

Para nós – uma audiência 60 anos à frente do momento da produção e lançamento da película – o primeiro impacto está na abordagem do tema: a história de amor entre uma revolucionária e franco-atiradora do Exército Vermelho e um oficial do Exército Branco durante o período revolucionário.

A atual cultura identitária tenta nos fazer acreditar que, em toda história do cinema, a representação das mulheres sempre foi marcada por papéis estereotipados e pela objetificação de sua imagem pela exibição de seu corpo.

Se levarmos em conta o cinema americano, podemos até pensar nisso. Mas, um filme como O quadragésimo-primeiro mostra que essa não é a realidade de outras cinematografias.

Revolucionária e armada, Maryutka (Izolda Izvitskaya) é a representação de uma mulher da classe trabalhadora consciente de seu papel na Revolução e na História. O título se refere ao número de soldados inimigos que ela conseguiu abater.

É também uma personagem que nos informa que as mulheres tiveram um papel importante na Revolução e que as franco-atiradoras já existiam muito antes da II Guerra Mundial.

Em nenhum momento, o filme apela para a discussão fácil sobre o papel da mulher forte e o ambiente masculino da guerra. Na verdade, o conflito se dá pela classe social, com seu envolvimento com o oficial que é de origem aristocrática.

Surpreendente também é o fato de que a história de amor ocupa apenas a segunda parte do filme, passando longe de ser o tema principal. A primeira mostra a batalha entre os exércitos Branco e Vermelho no deserto de Karakum no Turcomenistão, na época parte da União Soviética, a necessidade dos sobreviventes de atravessar o ambiente inóspito a pé, a captura do oficial da aristocriacia e o naufrágio que coloca os dois antagonistas em uma ilha deserta.

O que une as duas partes é justamente Maryutka, que sobrevive a todas essas peripécias. É possível dizer que O quadragésimo-primeiro contém vários filmes em um filme só. É um filme sobre a Revolução, mas também de aventura e de romance. 

A história do amor impossível também não é uma novidade. Desde Shakespeare, como em Romeu e Julieta, é um dos enredos mais utilizados pela literatura e pelo cinema. Uma receita infalível.

Nesse contexto, ao unir diversas referências, o filme se torna um entretenimento digno de qualquer ação hollywoodiana. Talvez, por isso, tenha sido indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Mas, ao mesmo tempo, as escolhas formais e o tema fazem com que seja até mesmo anti-americano. Ao final, o dilema moral de Maryutka visa questionar a plateia sobre seus próprios princípios, compromissos históricos e consciência de classe.

A protagonista não sucumbe à sedução de conforto e de segurança em prol da idealização romântica do amor pequeno-burguês e cinematográfico que consumimos até hoje. Seu ato final – matar o amante que trairia a Revolução – vem sem hesitação.

Ela é anti-Cinderela, outra fórmula repetida à exaustão em novelas, séries e filmes. Seu sacrifício, no entanto, é imenso. No conflito, o filme nos convida a uma reflexão muito importante.

Há uma versão de O quadragésimo-primeiro, de 1927, disponível no YouTube. A história é baseada no livro do escritor Boris Lavrenyov.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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